Fake News

Após pressão, Twitter anuncia opção de denunciar informações enganosas

Plataforma recebeu críticas de usuários por atuação no combate à desinformação no Brasil

Bernardo Lima*
postado em 17/01/2022 17:33 / atualizado em 17/01/2022 19:44
 (crédito: LIONEL BONAVENTURE)
(crédito: LIONEL BONAVENTURE)

Após pressão de usuários e do Ministério Público Federal (MPF), o Twitter anunciou nesta segunda-feira (17/1) que vai expandir ao Brasil mecanismo que permite denunciar publicações que violem as regras sobre propagação de informações enganosas. Atualmente, o mecanismo funciona em teste nos Estados Unidos, na Coreia do Sul e na Austrália, desde agosto do ano passado.

Além do Brasil, Filipinas e Espanha farão parte da expansão do mecanismo de denúncia. A plataforma alega que selecionou os três países porque quer “colher aprendizados de uma pequena, porém geograficamente diversificada, gama de regiões — incluindo aquelas em que o inglês não é o primeiro idioma — antes de tornar a ferramenta disponível globalmente”.

Segundo o Twitter, o fato de 2022 ser ano de eleições no Brasil e nas Filipinas também pesou na decisão e “contribuirá para a avaliação de como esta ferramenta de denúncias seria usada em períodos de grandes eventos cívicos”.

Campanha

A pressão sobre o Twitter cresceu há duas semanas, quando o combate às fake news virou alvo de críticas na própria rede social. A hashtag "#TwitterApoiaFakeNews" ficou no no primeiro lugar entre os assuntos mais comentados do Brasil, no último dia 5. Os usuários intensificaram a campanha para que o Twitter tivesse um mecanismo de denúncia contra informações enganosas, principalmente relacionadas à pandemia.

Entre as reclamações, o fato de a plataforma ainda não possibilitar a denúncia de publicações de publicações com informações falsas sobre a covid-19 no Brasil se destacou. Na ocasião, o Twitter informou que a ampliação do teste e eventual implementação da ferramenta para denunciar mensagens falsas sobre coronavírus em outros países dependeria dos resultados coletados.

A campanha trouxe destaque sobre o assunto e levou o Ministério Público Federal a pedir explicações ao Twitter sobre medidas de combate à desinformação implementadas na rede. O órgão questionou a empresa sobre a falta de uma opção aos usuários no Brasil para denunciar desinformação sobre a doença. O MPF pediu que a empresa enviasse uma resposta em até 10 dias úteis.

“Monitoramento contínuo”

Sobre a demora para expandir esse mecanismo ao Brasil, a plataforma alega que mais da metade do conteúdo que viola suas regras é detectada por sistema automatizados, e que o restante é identificado a partir do “monitoramento contínuo de equipes internas”.

O Twitter também divulgou que recebeu recebeu 3,73 milhões de denúncias referentes a 1,95 milhão de diferentes tuítes publicados por 64 mil contas distintas, desde o lançamento do mecanismo em teste, mas que pode não tomar medidas "em relação a todas as denúncias recebidas, assim como não poderemos responder a cada uma delas".

Medida ineficaz

Para o analista de redes, Pedro Barciela, a medida do Twitter é “extremamente rasa”. Ele explica que a plataforma, bem como outras, apenas repassa a responsabilidade de fiscalizar a desinformação ao usuário. “Na prática, é o usuário trabalhando em duas frentes para a rede social. Ele produz os dados que a plataforma vende e ainda é encarregado de ir atrás de informações falsas e informar isso ao Twitter.”

Segundo Barciela, essa é uma prática comum nas plataformas de redes sociais, é uma forma das empresas se protegerem juridicamente, não se encarregando da fiscalização do que ocorre nas próprias plataformas. O analista de redes sociais afirma que desde 2018, as ações de combate às fake news no Brasil sempre partem de decisões do Poder Judiciário, nunca das plataforma. “Pensando no período eleitoral, isso é péssimo.”, completa.

Apesar do grande impacto das notícias falsas nas últimas eleições presidenciais, Pedro Barciela afirma que "não há a menor chance de termos o mesmo cenário, ficando à mercê das fake news como ocorreu em 2018". Ele diz que há uma pressão muito maior da sociedade civil sobre as plataformas, exigindo uma atitude muito mais proativa para combater esse tipo de informação, o que não ocorreu em 2018.

“Além disso, temos um poder Judiciário muito mais ativo, entendendo (até com certo atraso), o seu papel de provocar essas plataformas. A imprensa também está muito mais preocupada com isso, compreendendo como atuar no problema.”

O analista de redes avalia que o combate à desinformação nas redes sociais, como o Twitter, deveriam ser focadas nos grandes disseminadores de informações falsas, não nos usuários que as replicam. “Em determinado momento é muito mais interessante que haja um esforço do Twitter para atingir os principais perfis disseminadores de fake news, do que ir atrás de dezenas de perfis que replicam aquilo. E o Twitter com certeza tem condições de fazer isso", explica. 

*Estagiário sob a supervisão de Andreia Castro

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