Lava-Jato

Moro entra na mira do TCU

Tribunal de Contas cobra esclarecimentos de empresa que contratou ex-juiz e atuou na recuperação judicial da Odebrecht

O ministro Bruno Dantas, do Tribunal de Contas da União (TCU), determinou que o escritório Alvarez & Marsal revele quanto pagou ao ex-juiz Sergio Moro depois que ele deixou a empresa, em outubro deste ano, para se lançar na política. A decisão ocorreu após pedidos do Ministério Público, apresentados pelo subprocurador Lucas Furtado.

O MP argumentou que a Corte deve obter as informações para avaliar se houve suposto conflito de interesses ou ainda "favorecimentos, manipulação e troca de favores entre agentes públicos e organizações privadas ".

Para o órgão, a investigação é necessária, porque Moro proferiu decisões judiciais e orientou as condições para celebração de acordos de leniência da Odebrecht, empresa alvo da Lava-Jato. Em seguida, foi trabalhar para a consultoria que faz a administração da recuperação judicial da mesma empresa.

No despacho, Bruno Dantas determinou que seja feito o levantamento de todos os processos de recuperação judicial em que a empresa atuou no período da operação, em ordem cronológica, para acompanhar a evolução dos negócios da companhia.

"Com vistas a obter toda documentação relativa ao rompimento do vínculo de prestação de serviços com o ex-juiz Sergio Moro, incluindo datas das transações e valores envolvidos", escreveu o ministro nos autos.

Em manifestação anterior, Dantas afirmou que os atos de Moro "naturalmente" contribuíram para a quebra da Odebrecht — e quer saber se a Alvarez & Marsal foi beneficiada por eles.

Moro encerrou seu contrato com a empresa em 31 de outubro. Filiou-se ao Podemos para concorrer à Presidência da República em 2022.

O escritório Alvarez & Marsal é uma consultoria especializada em reestruturação de empresas em dificuldades financeiras, gestão de crises na administração judicial de companhias em recuperação judicial ou que já decretaram falência. Tem entre seus clientes a Odebrecht, além de outras companhias investigadas na Lava-Jato, como a OAS.

Moro negou qualquer irregularidade. "Não enriqueci no setor público e nem no privado. Não atuei em casos de conflito de interesses. Repudio as insinuações levianas do Procurador do TCU a meu respeito e lamento que o órgão seja utilizado dessa forma", declarou via Twitter.

"Trabalhei 23 anos na carreira pública. Lutei contra a corrupção neste país como ninguém jamais havia feito. Deixei o serviço público e trabalhei honestamente no setor privado para sustentar minha família. Nunca paguei ou recebi propina, fiz rachadinha ou comprei mansões", concluiu Moro.