Nova casa do presidente Jair Bolsonaro, o Partido Liberal (PL) enfrenta uma situação curiosa em Minas Gerais. Na Assembleia Legislativa, a legenda compõe, ao lado do PT e PSOL, o bloco antagônico ao governador Romeu Zema (Novo). A aliança, porém, é meramente burocrática, feita para garantir o número mínimo de deputados estaduais necessários para fazer com que o bloco da oposição exista formalmente no Legislativo. Na prática, a legenda é aliada ao governo. Apesar de o acordo ser apenas teórico, há quem defenda que o PL deixe a coalizão encabeçada pelos petistas.
A oposição a Zema se concentra em um bloco parlamentar denominado Democracia e Luta. O grupo tem, além de PT e PL, deputados de PSOL, PCdoB, PSB, Pros, PSB e Rede Sustentabilidade. À exceção dos liberais, toda a coalizão adota postura crítica a Zema e a Bolsonaro.
Na Assembleia, o PL é representado por Léo Portela e Gustavo Santana. Com eles, o cordão tem 16 parlamentares - um a mais que o mínimo para poder existir. Se deixassem o grupo sem que houvesse reposição por outro partido, o bloco da oposição deixaria de existir em termos oficiais.
Portela afirma que a participação na aliança de oposição, ainda que apenas no papel, foi fundamental para os liberais arrematarem cargos em comitês estratégicos da Assembleia. Ele, por exemplo, preside a Comissão de Transportes, Comunicação e Obras Públicas.
"O bloco, de maneira nenhuma, interfere na atuação ideológica do partido, que é da base do governo Zema e nunca votou com a oposição. Isso foi acordado desde o início da formação do bloco. Poderíamos participar, seria bom para o partido, mas desde que, além da participação nas comissões, houvesse liberdade para que votássemos como quiséssemos", diz, em entrevista ao Estado de Minas.
O PL planeja crescer as bancadas Brasil afora filiando políticos alinhados a Bolsonaro. A aspiração é fazer o partido passar a ter seis ou sete deputados estaduais.
Um dos que está de mudança para a agremiação liberal é Bruno Engler (PRTB), segundo colocado na corrida à Prefeitura de Belo Horizonte em 2020 e um dos mais ferrenhos defensores do presidente no Legislativo mineiro.
"Sempre disse que ia acompanhar o presidente para onde ele fosse", explica ele, que planeja oficializar a troca entre o fim deste ano e o início de 2021. Coronel Sandro, do PSL, é outro que deve seguir o mesmo caminho.
Engler defende a ideia de substituir o PL por outro partido na composição do bloco de oposição. A sugestão dele é engrossar o bloco de deputados independentes em relação ao governo, que tem políticos de siglas como PSD, MDB, PDT, PV e Cidadania.
"Não combina o partido do presidente do Bolsonaro no bloco do PT, mas é uma coisa de composição construída dentro da Assembleia. Imagino que, para o ano que vem, pode ser feita uma outra construção para, eventualmente, ir um outro partido ao bloco de oposição para o PL sair e ir ao bloco independente", opina.
Léo Portela, no entanto, sustenta que deixar o bloco de oposição não traria nenhum tipo de benefício ao PL. Apesar disso, ele admite a necessidade de conversar sobre o tema depois da formação da nova bancada estadual dos liberais.
"Tão logo eles venham, conversaremos a respeito dos posicionamentos do partido. Mas, independentemente de virem ou não, não interfere na questão do bloco. Porque é um bloco meramente para funcionamento parlamentar, e não ideológico", projeta.
O deputado não crê em empecilhos na adaptação dos bolsonaristas à nova casa. "Se forem aliados ao governo Bolsonaro, não terão dificuldades em votar com o governo Zema, que tem interlocução boa com a base do presidente", emenda.
Portela quer seguir com Zema em 2022
Léo Portela é filho do deputado federal Lincoln Portela, que representa, ao lado de Aelton Freitas, o PL mineiro em Brasília. O parlamentar estadual vai, pessoalmente, apoiar a reeleição de Romeu Zema. Ele defende que o partido adote a mesma postura, mas pensa que não há dificuldades para emplacar a ideia.
"Temos que ver como será a questão nacional do partido em relação ao posicionamento em Minas. Isso vai ser debatido com os novos parlamentares que vierem para o partido e, também, com a Executiva nacional", explica.
O presidente nacional do PL é Valdemar da Costa Neto, com quem Bolsonaro trocou farpas durante as negociações para filiação. Algumas divergências em torno da montagem de palanques em estados como São Paulo quase colocaram as conversas a perder. No fim, o impasse acabou contornado.
Portela afirma que os ideais do PL – que era chamado de Partido da República até 2019 – sempre estiveram em conformidade ao que é apregoado por Bolsonaro.
"(A filiação) potencializa a atividade dos que são bolsonaristas no partido. E traz para o partido, também, o interesse dos que são bolsonaristas e estavam sem partido", comemora.
Bruno Engler, por sua vez, espera a ocorrência de fenômeno parecido ao visto em 2018 no PSL, quando o "fator Bolsonaro" fez crescer exponencialmente o número de eleitos e de filiados. "A diferença é que o PSL é um partido nanico, e o PL é um partido grande. Ele só vai aumentar de tamanho com a chegada do presidente Bolsonaro".
Partido cogita até Maurício Souza
Em busca de fortalecer os quadros, o PL tem o jogador de vôlei Maurício Souza, bolsonarista declarado, como "sonho" para a eleição de 2022. Houve convite formal para ele disputar uma cadeira na Câmara dos Deputados. Lincoln Portela é entusiasta.
"Na nossa avaliação, ele seria um bom candidato não apenas para somar para a chapa.. Ele somaria muito ao Brasil, pela experiência na área de esporte, pelas realizações. É uma pessoa de formação simples, que conhece a linguagem do povo. E é alguém que pode, na Câmara Federal, dar uma contribuição muito grande em várias áreas".
Em outubro, Maurício foi demitido da equipe do Minas Tênis Clube por causa de uma postagem de teor homofóbico.