A possível candidatura do ex-ministro da Justiça, Sergio Moro (Podemos), ao Palácio do Planalto mexe com os ânimos das figuras que estavam pleiteando a vaga de “terceira via” nas eleições de 2022, além de gerar insegurança para o próprio presidente, Jair Bolsonaro (PL).
O chefe do Executivo afirmou, durante live em suas redes sociais, nessa quinta-feira (2/12), que seu ex-ministro é mentiroso. “Esse cara está mentindo descaradamente. Faz um papel de palhaço, sem caráter. Mentiroso deslavado”, disse em transmissão ao vivo. Não apenas Bolsonaro manifestou insegurança: as últimas semanas foram marcadas pela corrida de legendas para marcar posição. Confirmaram as pré-candidaturas à Presidência os senadores Rodrigo Pacheco (PSD-MG) e Simone Tebet (MDB-MS), e o governador de São Paulo, João Doria (PSDB).
Moro também assusta por conta do desempenho positivo nas pesquisas. Segundo divulgado na última pesquisa do Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe), feita entre 22 e 24 de novembro, o ex-juiz da Lava-Jato apareceu com 11 pontos, três à frente da anterior, de outubro. Enquanto isso, o presidente Jair Bolsonaro caiu três posições, tendo 25% das intenções de voto. Lula manteve o primeiro lugar, com 42%.
"Luz amarela"
A preocupação é maior para Bolsonaro: os três pontos perdidos de um mês para outro foram herdados por Moro. Para o professor de Ciência Política e Relações Internacionais do Insper, Leandro Consentino, o medo do presidente está cada vez mais visível. “Ele deixa claro nas declarações e posicionamentos. A metralhadora do Planalto foi deslocada para o ex-ministro, tirando do alvo por hora o ex-presidente Lula”. O especialista explica que tamanha insegurança se deve ao que Moro “tira” de Bolsonaro, que seria uma possível vaga no segundo turno das eleições. “Isso acende uma luz amarela no Planalto”.
Faltando 11 meses para o pleito, o surgimento de uma terceira via com força suficiente para desmantelar a polaridade já instaurada se torna improvável. É o que analisa o cientista político. “O desafio da terceira via é difícil quando há pulverização de candidatos, mas pode ser que essa novidade do Moro possa mudar ou corrigir esses rumos. Ele é quem tem mais condições de fazer isso neste momento”, avalia. Leandro ainda destaca que, para um crescimento sustentável, Moro terá de aglutinar outros atores políticos em torno de si, tirando o elo mais frágil, que seria Bolsonaro. “Não é uma tarefa fácil”.