Esta reportagem será constantemente atualizada para refletir novas candidaturas e a retirada de nomes da disputa presidencial até o registro oficial pelos partidos no ano que vem.
A eleição presidencial de 2022 tende a gerar grande polarização, com Jair Bolsonaro (PL) disputando a reeleição e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tentando retornar à Presidência da República para um terceiro mandato.
Mas pré-candidatos de esquerda, centro e direita tentam se viabilizar como "terceira via", entre eles Ciro Gomes (PDT), a senadora Simone Tebet (MDB) e o ex-juiz Sérgio Moro (Podemos).
Já o PSDB escolheu o governador de São Paulo, João Dória, como pré-candidato do partido à eleição. Mas ele terá a tarefa difícil de resgatar a relevância do partido na corrida presidencial. Em 2018, o candidato tucano, Geraldo Alckmin, ficou em quarto lugar no primeiro turno, com pouco mais de 4% dos votos.
Até agora, a única mulher na disputa é a senadora Simone Tebet, do MDB. A lista definitiva de candidatos só vai ser definida nas convenções partidárias que vão ocorrer entre 20 de julho e 5 de agosto de 2022.
A BBC News Brasil lista aqui as pessoas que, pouco menos de um ano antes da eleição, já foram lançadas como pré-candidatas — e os desafios que cada uma tem a enfrentar.
Jair Bolsonaro, pelo PL
O presidente Jair Bolsonaro vai disputar a reeleição pelo Partido Liberal, legenda de Valdemar Costa Neto, um dos condenados no escândalo do mensalão. Atualmente, um dos principais desafios de Bolsonaro é a popularidade em baixa. Segundo pesquisa Datafolha de setembro, 53% consideram o seu governo ruim ou péssimo — o pior índice desde o início do mandato. Na pesquisa anterior, o percentual era de 51%.
Alguns elementos contribuíram para essa queda: a reação do governo à pandemia do coronavírus; os escândalos envolvendo filhos do presidente, especialmente o chamado caso das "rachadinhas"; e as acusações relacionadas à compra de vacinas contra a covid.
A crise econômica, com alta contínua da inflação, e o aumento da pobreza também podem significar desafios para a reeleição de Bolsonaro. Por outro lado, o aumento do valor do Auxílio Brasil (antigo Bolsa Família) pode ajudar a recuperar parte dos votos. Bolsonaro deu novo nome ao Bolsa Família, numa tentativa de imprimir marca própria na assistência social. O presidente também conta com uma base de eleitores fiéis dispostos a ir às ruas para defender suas posições, como ocorreu nos protestos de 7 de setembro.
"O principal desafio de Bolsonaro é a avaliação ruim do seu governo, conforme mostram pesquisas de opinião", disse à BBC News Brasil o cientista político Claudio Couto, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV). "Tem bolsonaristas que não abandonam Bolsonaro, mas tem os bolsonaristas de ocasião, que podem abandonar Bolsonaro e ir para outros candidatos de direita, principalmente para Sérgio Moro", avalia.
Para Couto, Bolsonaro tem dois desafios pela frente que não existiam na eleição de 2018. Primeiro, ele vai ter que centrar força na campanha em atacar dois candidatos: Sérgio Moro, seu principal adversário na disputa para chegar ao segundo turno; e Luiz Inácio Lula da Silva, atualmente em primeiro lugar nas pesquisas de intenção de voto.
"Em 2018, Bolsonaro só precisava atacar Lula. Ele era o candidato do antipetismo. Agora, tem Moro como alternativa e ele vai precisar centrar fogo em duas frentes no primeiro turno", diz Couto.
O segundo desafio é o fato de que Bolsonaro terá mais dificuldade para sustentar o discurso de combate à corrupção, especialmente após as denúncias de corrupção na compra de vacinas contra a covid e as acusações de que tentou interferir em investigações da Polícia Federal.
Se antes de se eleger presidente Bolsonaro era um dos principais defensores da Lava Jato, foi durante seu governo que a força tarefa foi desmantelada e o ritmo das investigações se reduziu consideravelmente.
"Para Bolsonaro o discurso anticorrupção foi perdido e foi perdido por conta dos problemas na família, o envolvimento em compra de vacina, e o favorecimento de seus aliados do Centrão. Esse discurso, a não ser para quem acredita que o PT detém o monopólio da corrupção, não vai colar como em 2018", diz Couto.
Bolsonaro está, atualmente, em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto, atrás apenas de Luiz Inácio Lula da Silva. Num eventual segundo turno com Lula, ele poderá voltar a personificar o antipetismo que o ajudou a se eleger em 2018.
Luiz Inácio Lula da Silva, pelo PT
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silvia aparece em primeiro lugar nas pesquisas de intenção de voto para presidente da República, seguido por Bolsonaro e Sérgio Moro. Desde que teve sua condenação por corrupção anulada pelo Supremo Tribunal Federal, sua candidatura pelo PT à Presidência é tida como certa por políticos do partido.
Embora, não tenha confirmado que irá concorrer, o ex-presidente tem participado de eventos para discutir propostas para o Brasil, vem se reunindo com setores da sociedade, como lideranças evangélicas, e até rodou a Europa para dialogar com chefes de Estado e de governo.
O principal obstáculo do ex-presidente é o antipetismo, que ainda deve ter peso na próxima disputa presidencial, com eleitores buscando alternativas numa terceira via ou recorrendo a Moro ou Bolsonaro para evitar um retorno de Lula.
"O Lula tem a dificuldade de vencer o antipetismo. Mas isso está mais fraco do que foi anteriormente. Uma parte dos problemas que originou o antipetismo, que é o escândalo de corrupção, se dissolveu pelo tempo que passou, são escândalos já precificados", avalia Claudio Couto, da FGV..
Lula tem a vantagem de, ao menos por enquanto, só ter Ciro Gomes (PDT) como adversário de esquerda na disputa. Todos os demais pré-candidatos são associados à centro-direita ou direita. Isso garante a ele maior facilidade para chegar ao segundo turno.
"Lula, de todos os candidatos, é o que pode estar na posição mais confortável. Ele tem na esquerda um apoio consolidado. Ciro Gomes, ao bater forte em Lula e Dilma, como tem efeito, abdicou de parte do eleitorado da esquerda", diz Couto.
Sergio Moro, pelo Podemos
Em 10 de novembro, o ex-juiz Sergio Moro se filiou ao Podemos numa cerimônia na qual o partido o anunciou como "futuro presidente da República".
Depois de deixar os processos da Operação Lava Jato, renunciar ao cargo de juiz, entrar para a política como ministro da Justiça de Jair Bolsonaro e pedir demissão, Moro se torna o principal adversário do atual presidente na disputa para o segundo turno da eleição presidencial de 2022.
Nas primeiras pesquisas de intenção de voto realizadas após a filiação ao Podemos, o ex-juiz aparece em terceiro lugar na disputa, atrás de Lula e Bolsonaro, mas com tendência de alta no desempenho.
Pesquisa PoderData realizada na semana do dia 22 a 24 de novembro, aponta Lula com 38% das intenções de voto, Bolsonaro em segundo lugar, com 27%, e Moro em terceiro, com 14%.
"Ele é um candidato que tende a crescer agora. Primeiro, por se confirmar como candidato de fato. Antes era apenas uma hipótese de candidato. Ele agora tem chances de roubar votos de Bolsonaro, já que parte do eleitorado do presidente também é 'morista' ou 'lavajatista'", avalia Claudio Couto, da FGV.
Por outro lado, Moro terá o desafio de comprovar que suas capacidades vão além do discurso anticorrupção. Também terá de enfrentar as acusações de que agiu com parcialidade nos julgamentos da Lava Jato e de que cometeu abusos durante a investigação. Mas ele tem espaço para conquistar votos de antipetistas, e pode roubar parte do eleitorado do PSDB que desaprova Bolsonaro, mas também não quer o retorno de Lula.
"Ele vai ter que demonstrar que consegue dominar outros temas e fazer promessas críveis. Apostaria numa disputa entre Moro e Bolsonaro para chegar ao segundo turno. Os dois vão se vender como baluartes do antipetismo, mas Moro vai precisar comprovar que é mais que um ex-juiz", diz Couto.
João Dória, pelo PSDB
O governador de São Paulo, João Dória, foi escolhido para ser candidato do PSDB após vencer o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, e o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio, em prévias realizadas pelo partido.
Durante a pandemia do coronavírus, Dória se projetou ao adotar postura oposta à de Bolsonaro na reação à crise. Nos picos de infecção, ele defendeu lockdowns, fechamento de comércio e restaurantes e medidas de isolamento social, além de ter investido, por meio do Instituto Butantan, na produção da CoronaVac, a primeira vacina a ser disponibilizada no Brasil contra a covid-19.
Para se cacifar nacionalmente, a tendência é que ele se apresente como "o candidato da vacina" contra covid, ou seja, como alguém que reagiu à crise. Mas pesquisas de intenção de voto realizadas até agora o colocam na quarta ou quinta posição no primeiro turno.
O PSDB vem passando por um processo de desgaste interno e, na última eleição presidencial, candidato tucano Geraldo Alckmin só alcançou 4% dos votos no primeiro turno — resultado considerado desastroso para um partido que sempre figurava em primeiro ou segundo lugar na disputa presidencial desde 1994.
Além disso, Dória enfrenta resistências dentro do próprio partido e corre o risco de ser alvo de "fogo amigo" durante a campanha. "Há chance de integrantes do PSDB apoiarem outros candidatos de centro e direita, como Sérgio Moro", diz Claudio Couto, da FGV.
Dória também vai enfrentar o desafio de convencer o eleitorado de outras regiões do país, especialmente do Nordeste, que não é um político centrado nos interesses e desafios de São Paulo e do Sudeste.
"Dória ainda tem uma imagem antipática fora de São Paulo, de alguém muito distante da realidade das regiões mais pobres do país. Ele precisa vencer essa resistência e terá a tarefa de comprovar que tem sensibilidade para questões de outros Estados", avalia o professor de ciência política da FGV.
Ciro Gomes, pelo PDT
Se for confirmada a sua candidatura à Presidência pelo PDT, esta será a quarta vez que Ciro Gomes concorre ao cargo. Em 2018, ficou em terceiro lugar no primeiro turno, com 12,5% dos votos.
Ele também concorreu à Presidência em 2002 e 1998. Candidato associado à esquerda ou centro-esquerda, Ciro Gomes tenta novamente despontar como terceira via, ou seja, alternativa a Lula e Bolsonaro.
A seu favor, ele conta experiência política, numa eleição que não dará o mesmo peso a "outsiders" ou figuras antipolíticas como a de 2018. Ciro foi prefeito de Fortaleza, deputado estadual, deputado federal, governador do Ceará e ministro dos governos Itamar Franco e Lula.
Ele passou por sete partidos e deve concorrer à eleição de 2022 pelo PDT. Para fazer frente à candidatura de Lula, Ciro tem adotado uma estratégia de ataque, criticando fortemente o ex-presidente petista.
"Lembre que o Brasil mudou muito e Lula não renovou as ideias. Será que ele se corrigiu e não vai repetir aqueles erros terríveis que você só descobriu depois? O pior é que você nunca viu ele pedir perdão pelos erros e está vendo ele se juntar de novo às mesmas pessoas", escreveu Ciro nas redes sociais.
O ex-governador do Ceará também chegou a acusar Lula de conspirar para o impeachment de Dilma e, quando a petista saiu em defesa do padrinho político, Ciro reagiu dizendo que a ex-presidente foi uma das pessoas "mais inapetentes, incompetentes e presunçosas" a presidir o Brasil.
Se por um lado essa estratégia visa firmar Ciro Gomes como alternativa a Lula, por outro, pode eventualmente afastar eleitores que nutrem alguma simpatia pelo PT ou que defendem uma ampla aliança anti-Bolsonaro.
"Ao mesmo tempo em que essa estratégia pode custar votos de eleitores da esquerda, Ciro tem dificuldade em conquistar, de fato, eleitores da direita. Ele ainda é visto como alguém, no mínimo, de centro-esquerda", diz o cientista político Claudio Couto.
Simone Tebet, pelo MDB
Única mulher até o momento a ser cogitada como pré-candidata à Presidência, a senadora Simone Tebet deve ser lançada para disputar o Palácio do Planalto pelo MDB em dezembro.
Ela foi a primeira mulher a disputar o comando do Senado, em 2021. Também foi a primeira parlamentar mulher a comandar a disputada Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), a primeira vice-governadora de Mato Grosso do Sul e primeira prefeita de Três Lagoas (MS).
A possibilidade de candidatura à Presidência surgiu do destaque que Tebet teve na CPI da covid no Senado. Embora não fosse integrante fixa da comissão, ela participou dos principais depoimentos da CPI com uma postura contundente e crítica à gestão do governo Bolsonaro na pandemia.
O principal obstáculo que a senadora deverá enfrentar é se tornar nacionalmente conhecida. "Ela é desconhecida fora de seu estado, o Mato Grosso do Sul. A CPI fez com que ela se tornasse conhecida por uma parcela pequena dos eleitores, aqueles que leem jornal, mas isso não é ainda suficiente", avalia Couto.
Alessandro Vieira, pelo Cidadania
Lançado como pré-candidato pelo partido Cidadania, o senador Alessandro Vieira (SE), assim como Tebet, se destacou durante a CPI da covid no Senado. Ele também é apresentado pelo Cidadania como uma possível "terceira via" para evitar a polarização Bolsonaro-Lula.
"Alessandro representa o pensamento do campo democrático à polarização existente entre Bolsonaro e Lula. É um sistema que não pode continuar pelo retrocesso e atraso que significam. É um senador que tem boa presença, com muito engajamento nas redes, uma postura de extrema competência e reconhecida pela opinião pública", defendeu o presidente nacional do Cidadania, Roberto Freire, ao anunciar que Vieira seria candidato à Presidência pelo partido.
Nascido em Passo Fundo, Vieira tem 46 anos, é delegado da polícia civil e novato na política, sendo eleito pela primeira vez senador em 2018 pelo Sergipe. Na época, ele declarou voto em Bolsonaro, mas depois disse que se arrependeu e se tornou um dos principais críticos do presidente na CPI da covid.
"Me arrependo profundamente do voto no Bolsonaro. Faço parte de um grupo de milhões de brasileiros que, primeiro, estava movido por um sentimento de não votar no PT. Subestimei o mal que Bolsonaro poderia fazer. Imaginei que ele poderia ter um governo com uma equipe técnica forte que evitasse esses equívocos. E foi o contrário, temos ele submetendo a equipe técnica", disse Vieira em entrevista à BBC News Brasil em junho.
Mas, apesar da projeção que ganhou na CPI, Vieira tem como obstáculo o fato de ainda não ser uma figura conhecida em todas as regiões do país
"Ele teve um desempenho bom na CPI, que o tornou uma figura nacionalmente conhecida em alguma medida. Digo em alguma medida, porque quando vemos pesquisas de intenção de voto, muita gente não sabe quem ele é. Ele é conhecida por uma parcela mais elitizada, que acompanhou de perto os trabalhos da CPI", diz Couto, da FGV.
Luiz Felipe D'Ávila, pelo Partido Novo
O cientista político Luiz Felipe D'Ávila foi anunciado no dia 3 de novembro como pré-candidato do Partido Novo à Presidência da República. Em 2018, o partido surpreendeu em desempenho quando seu então candidato à presidente, João Amoêdo, terminou o primeiro turno em quinto lugar, com 2,5% dos votos, à frente de candidatos como Henrique Meirelles e Marina Silva.
Amoêdo, que chegou a anunciar voto em Bolsonaro no segundo turno, passou a defender o impeachment do presidente durante a pandemia. Ele chegou a ser lançado novamente como pré-candidato pelo Novo no início do ano, mas sua candidatura sofreu oposição de parcela dos integrantes do partido, sobretudo entre os que apoiam Bolsonaro. O partido, então, decidiu lançar Luiz Felipe D'Ávila.
Ex-PSDB, D'Ávila coordenou o programa de governo do candidato tucano à Presidência Geraldo Alckmin em 2018, mas depois deixou o partido e recentemente se filiou ao Novo. Ele é crítico de Bolsonaro e Lula, e diz que os dois formaram governos "populistas de direita e esquerda". Ao ser lançado pré-candidato pelo Novo em cerimônia no dia 3 de novembro, ele defendeu privatizações e outras reformas para reduzir o papel do Estado na economia.
"O populismo apenas perpetua a miséria, a pobreza, a corrupção e o mau funcionamento das instituições democráticas", disse.
A dificuldade do partido Novo será tornar D'Ávila conhecido nacionalmente. Além disso, enquanto em 2018 o partido se beneficiou de um forte movimento de rejeição da política e de busca por quadros novos, a eleição de 2022 tende a ser menos focada na busca pelos chamados "outsiders".
Rodrigo Pacheco, pelo PSD
Presidente do Senado, Rodrigo Pacheco se filiou em outubro ao PSD, partido do ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab. Embora a pré-candidatura ainda não esteja confirmada, alguns dias antes da cerimônia de filiação de Pacheco, Kassab disse que a ideia é que o senador seja o candidato pelo partido.
"Rodrigo mostrou que tem talento e sabedoria para a vida pública. Se Deus quiser ele é o próximo presidente do Brasil. O PSD está pronto para abraçar suas propostas", disse o ex-prefeito de SP.
Na cerimônia de filiação, Pacheco defendeu, em discurso, que é preciso acabar com a "divisão" na sociedade brasileira.
"Hoje, estamos todos cansados e descrentes. Estamos cansados de viver em meio a tanta incerteza, a tanta incompreensão e intolerância. Uma sociedade dividida, em que cada um não admite o contrário e não aceita a existência do outro, nunca irá chegar a lugar algum", disse.
Mas o senador não quis confirmar se será candidato e disse que "tudo tem seu tempo". Pacheco enfrenta como principal obstáculo o fato de ser desconhecido do público em geral.
"Ele é conhecido por quem acompanha a política muito de perto. O presidente da Câmara, Arthur Lira, está mais no noticiário- um noticiário negativo muitas vezes, mas que o torna mais conhecido", destaca o professor Claudio Couto.
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