PANDEMIA

Chefe da Anvisa diz que falas de Bolsonaro incentivam crimes contra a agência

Antonio Barra Torres afirmou que a campanha do Presidente contra a imunização de crianças estimula grupos antivacina e ameaçarem funcionários

Cecília Sóter
postado em 30/12/2021 22:10
 (crédito: EVARISTO SA)
(crédito: EVARISTO SA)

O almirante Antonio Barra Torres, diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Avisa), que chegou a ser conselheiro do governo federal na pandemia, vem mudando o posicionamento frente às falas do presidente Jair Bolsonaro (PL).

Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, Barra Torres condenou as declarações de Bolsonaro contra a vacinação de crianças e aos diretores da Anvisa. Ele afirmou que a campanha em oposição à imunização do grupo de 5 a 11 anos estimula grupos antivacina a ameaçarem funcionários da agência reguladora.

O líder do poder Executivo prometeu expôr nomes de servidores da Anvisa após o órgão aprovar o uso das doses da Pfizer contra a covid em crianças. "Não tenho dúvida que as duas falas contribuíram sobremaneira para o número aproximado de 170 ameaças de morte, agressão física, violência de todo tipo contra servidores e seus familiares que a Anvisa tem recebido", disse Barra Torres.

Na última segunda-feira (27), um apoiador do Bolsonaro enviou um e-mail com uma série de ameaças aos diretores da Anvisa com um vídeo em anexo onde executa o próprio cachorro, enforcando-o e dizendo “olha o que vai acontecer com vocês”. O caso foi divulgado pela jornalista Natuza Nery, do Globo News.

O chefe da agência reguladora disse ainda que há uma sensação de “desamparo” no órgão, que aguarda retorno da Polícia Federal sobre o pedido de proteção aos funcionários. Ele afirmou que os servidores trabalham "no limite" e diz recear pela saída de técnicos — de um total de 1,6 mil, 600 têm tempo suficiente para se aposentar, segundo Barra Torres.

O almirante também considerou inapropriada a consulta pública e a proposta do ministro da saúde, Marcelo Queiroga, de cobrar prescrição médica para vacinação das crianças. "Não guarda precedentes no enfrentamento da pandemia e está levando, inexoravelmente, a um gasto de tempo", disse.

Questionado sobre a relação com o presidente Bolsonaro, Antonio Barra Torres disse que a ameaça de exposição dos nomes dos funcionários da Anvisa “trouxe dificuldade desnecessária, criou ambiente de insegurança, dificultou o trabalho de enfrentamento da pandemia de sobremaneira. Essa ação acaba por influenciar a relação pessoal”.

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