A possível aliança entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (sem partido) numa chapa para concorrer às eleições de 2022 acendeu o alerta no Palácio do Planalto.
Milícias digitais bolsonaristas descarregaram um arsenal de vídeos antigos de Alckmin criticando Lula, na tentativa de desgastar a imagem da dupla, que ensaia apresentar uma chapa moderada para o pleito. Na mídia mais compartilhada, o ex-governador chama o PT de sujo, politiqueiro, demagogo e responsável por quebrar o Brasil.
O filho 02 do chefe do Executivo, o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), também foi ao ataque. Ele enviou para sua lista de transmissão no Telegram uma gravação de 2017 na qual Alckmin, em evento de pré-campanha, diz que os brasileiros "estão vacinados" contra o modelo lulopetista.
"Vejam a audácia dessa turma. Depois de ter quebrado o Brasil, Lula diz que quer voltar ao poder, ou seja, quer voltar à cena do crime. Será que os petistas merecem uma nova oportunidade? Fiquem certos de uma coisa: nós os derrotaremos nas urnas", disse o ex-governador, que se candidatou à Presidência em 2018 pelo PSDB.
Alckmin foi filiado à legenda por 33 anos, mas deixou a sigla na semana passada após uma série de desentendimentos com o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), antes seu afilhado político.
O vídeo "ressuscitado" pelo filho do chefe do Executivo também foi posteriormente publicado pelo ministro do Turismo, Gilson Machado (PSC), pré-candidato ao governo de Pernambuco com a bênção de Bolsonaro.
Carlos Bolsonaro ainda compartilhou no Telegram a imagem do abraço entre Lula e Alckmin na noite de domingo, durante jantar do grupo de advogados Prerrogativas, com a legenda "Finalmente saíram do armário".
Segundo André César, cientista político e sócio da Hold Assessoria Legislativa, a estratégia do petista preocupa aliados de Bolsonaro. "Esse movimento mostra que o Lula vai para o centro. Segundo as pesquisas, ele está a pouco de ganhar no primeiro turno. Com Alckmin e com essas forças que, teoricamente, o apoiaram, teria condições de se eleger no primeiro turno. Dessa forma, eliminaria a chance de um adversário explorar o antipetismo e coisas do gênero no segundo turno", frisou.
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Insatisfeitos
Na análise de Matheus Albuquerque, sócio da Dharma Politics, a estratégia do Planalto é uma tentativa de descredibilizar essa possível nova chapa para aumentar a possibilidade de um segundo turno.
"O Planalto, há algum tempo, não encontra uma agenda que favoreça a conversão de votos dos indecisos. Porém sua base mais leal permanece resiliente. Por outro lado, essa mesma base não será suficiente para eleger Bolsonaro", destacou.
Uma eventual chapa Lula-Alckmin não é um alvo apenas de milícias digitais. O cientista político Valdir Pucci lembrou que houve críticas de integrantes da esquerda e de eleitores de Lula a essa aliança.
"A questão Lula-Alckmin não é só das milícias digitais. Há grupos contrários a uma possível chapa com Alckmin na presidência. Eles estão atacando essa provável formação", frisou.
Moro
Quem também criticou a eventual aliança foi o ex-juiz Sergio Moro, candidato do Podemos ao Planalto. Nas redes sociais, ele mencionou o encontro de domingo entre Lula e Alckmin: "Impressão minha, ou ontem (domingo) assistimos a um jantar comemorativo da impunidade e da grande corrupção?", postou no Twitter.
Moro também vem sendo alvo constante tanto de bolsonaristas, que o consideram traidor por ter saído do governo acusando Bolsonaro de tentar interferir na Polícia Federal, como de petistas e outros integrantes da esquerda, uma vez que, enquanto juiz ligado à Operação Lava-Jato, determinou a prisão de Lula.
*Com Agência Estado
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