Foi o presidente Tancredo Neves que definiu: "Votação secreta dá uma vontade danada de trair". Mas, às vezes, às claras, alguns votos soam como traição e geram constrangimentos. Foi o caso do senador Rogério Carvalho (PT-SE), cuja decisão em favor do avanço da proposta de resolução com regras para as emendas de relator — o chamado orçamento secreto — o colocou na berlinda dentro do PT. Seu voto, na avaliação de fontes do Senado, conseguiu embaçar a atuação que teve na CPI da Covid, quando travou duros embates com a tropa de choque governista e alguns depoentes.
Os petistas fecharam questão contra as RP9, mas, com a ajuda do senador sergipano, a proposta acabou passando por 34 a 32. Se ele seguisse a orientação partidária, haveria um empate de 33 a 33 e caberia ao presidente da sessão, deputado Marcelo Ramos (PL-AM), desempatar o placar.
Para o cientista político Lucas Aragão, sócio da Arko Advice, a explicação para Carvalho ter quebrado o pacto firmado entre os petistas é simples. "O Senado é uma casa mais independente do que a Câmara. Os senadores têm um controle e uma autonomia sobre as decisões maior do que acontece na Câmara, onde a força das lideranças partidárias são mais fortes", explica.
Carvalho justifica sua decisão. "Não era uma questão de mérito, de acreditar no modelo de execução orçamentária. Era de defender a autonomia do Poder Legislativo em relação a outros poderes".
O PT, claro, reprovou, mas não esclareceu se punirá o senador. "O voto isolado do senador é um fato grave, que não se justifica diante das manifestas posições do partido sobre questão fundamental para o país", observa, em nota.
Casos marcantes
Carvalho, porém, não foi o primeiro parlamentar a votar conforme sua convicção e a entrar em rota de colisão com a legenda à qual pertence. Nem será o último. A deputada Tábata Amaral (PSB-SP) já esteve na mesma situação quando era do PDT e votou em favor da reforma da Previdência. Sua expulsão, inclusive, foi pedida, à época, pelo hoje presidenciável do partido, Ciro Gomes.
Outro episódio marcante teve a senadora Katia Abreu (PP-TO) como protagonista. Nas semanas que antecederam o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, ela enfrentou a diretriz dada pelo MDB, partido que, à época, ela pertencia. Katia não abriu mão de sua convicção e ficou com Dilma até o final.
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