Líder em todas as pesquisas de intenção de voto para o Palácio do Planalto, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva busca se fortalecer com um nome que atenue a imagem de radicalização creditada ao PT. O principal candidato a essa vaga é o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin, que está prestes a sair do PSDB. O tucano histórico pode atrair os votos do maior colégio eleitoral do Brasil: o estado de São Paulo. Os dois não falam abertamente sobre essa eventual aliança, mas também não desmentem.
Alckmin avalia se filiar ao PSB para se viabilizar como vice de Lula. O presidente do partido em São Paulo, Márcio França, é entusiasta dessa possibilidade. Ele disse, na semana passada, que a possibilidade de união entre o tucano e o petista pelo Planalto é de 99%. França ainda afirmou que a ideia de juntar em uma chapa os dois nomes que disputaram o segundo turno das eleições presidenciais de 2006 foi do ex-prefeito Fernando Haddad (PT).
Nas negociações entre França e Haddad para que essa aliança seja firmada, os petistas terão, no entanto, de dar uma contrapartida, desistindo de concorrer ao governo de São Paulo e de outros oito estados: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Pernambuco, Maranhão, Pará e Paraíba. Fontes de dentro do partido ouvidas pelo Correio afirmam que os principais entraves estão no Rio Grande do Sul e São Paulo, onde os candidatos são Beto Albuquerque e Márcio França, respectivamente.
O PSD, de Gilberto Kassab, entretanto, tem outros planos para Alckmin. A ideia é que ele saia candidato ao governo paulista, e a pressão em cima do tucano é imensa. Na semana passada, o presidente da legenda compartilhou no Twitter a postagem de uma foto de Alckmin como pré-candidato ao governo paulista com as frases "alckmistas por São Paulo" e "precisamos manter o foco, continuar construindo a ponte entre Geraldo Alckmin e o eleitor para garantir a vitória em primeiro turno". Na sigla, especula-se que, caso o político se junte a Lula, pode haver um desgaste no eleitorado paulista, que ainda tem um intenso sentimento antipetista.
Diante das dificuldades e exigências do PSB, um novo partido entrou na disputa pela filiação de Alckmin. Sem querer ser um "peso", o tucano estuda um convite público feito pelo presidente do Solidariedade, Paulinho da Força (SP), em seu Twitter. "Convidei o Alckmin para se filiar ao Solidariedade, com o objetivo de ser candidato a vice do Lula. Se ele quiser, o nosso partido estará de portas abertas", escreveu.
Ainda que o assunto tenha sido tratado com sigilo, Lula afirmou a colegas sindicalistas, na última quarta-feira, em evento ligado ao Solidariedade, que sairá como candidato à presidência no ano que vem e deseja ter o ex-governador paulista como seu vice. E, portanto, pediu que continuem com as articulações para que a chapa se concretize.
Nos bastidores, os comentários são de que as negociações entre os dois estão avançadas. O jantar de confraternização de fim de ano do grupo Prerrogativas, em que está prevista a reunião de 400 juristas e políticos de diferentes partidos, marcada para o dia 19, será o possível palco de apresentação da dupla.
Estratégia
Na avaliação de André César, cientista político e sócio da Hold Assessoria, Alckmin virou um player. "Ele não tinha essa bola toda, não. Em pensar em 2018, os 4% do Alckmin foram um fracasso. Ele é importante na história do PSDB, relatou o Código de Defesa do Consumidor, enquanto parlamentar. Mas, agora, volta a ser uma figura importante, um player, e é um grande jogo do PT", afirma.
"É uma jogada que também passa pelo Kassab, um cara importante no cenário político. Então, Alckmin virá para a disputa na função de amansar Lula e liberar o potencial radicalismo do petista. Entra com uma imagem apaziguadora, com boas chances dentro de um contexto em que pode haver junção entre Moro e Doria."
Já Matheus Albuquerque, sócio da Dharma Politics, aposta que a especulação de aliança entre Lula e Alckmin é um balão de ensaio. A expectativa em torno dela, considera o especialista, é uma forma permitir que ambos os políticos possam aprimorar seus alcances eleitorais.
"Lula, de seu lado, precisa de um nome para vice que diminua as resistências de alguns setores da sociedade em torno do PT. Alckmin, por sua vez, tenta encontrar um novo caminho a partir do processo de diminuição de seu protagonismo no PSDB pós-2018. De toda forma, a expectativa em torno dos possíveis ajustes é importante para entender o quanto Lula compreende suas próprias fragilidades e desafios em uma campanha polarizada e com potencial de tumulto."
Sérgio Praça, professor e pesquisador da Escola de Ciências Sociais do CPDOC (FGV-RJ), remonta a história entre Alckmin e Lula e lembra que eles nunca foram superinimigos, sempre tiveram uma relação respeitosa. "Alckmin só tem a ganhar nessa chapa, porque, embora possa concorrer ao governo de São Paulo no ano que vem, não seria nada novo para ele. Já a vice-presidência seria melhor ainda", ressalta.
"Para o Lula, seria muito bom ter um tucano histórico para sinalizar que ele não faria uma presidência radical, pois, no ano que vem, Moro, Bolsonaro e Doria vão com tudo para cima de Lula com um discurso acusador. A parceria entre o PT e a centro-direita democrática simboliza essa neutralidade, porque o Alckmin não está pessoalmente envolvido em esquemas de corrupção, embora o governo dele tenha tido alguns escândalos, mas nada a ponto de ser realmente prejudicial à chapa."
Entre colaboração e animosidade: veja o histórico da relação entre Alckmin e Lula
Lula e Alckmin tinham um relacionamento pacífico até antes das eleições de 2006. No primeiro mandato do petista, houve uma colaboração entre o governo paulista, liderado pelo tucano, e o Executivo federal para reforma e implantação de pontes de embarque e desembarque no aeroporto de Congonhas.
Nas eleições de 2006, Lula e Alckmin eram rivais na disputa pela Presidência da República. Os dois chegaram ao segundo turno trocando farpas em debates televisivos.
À frente do governo paulista e com a intenção de concorrer ao Planalto em 2018, Alckmin fazia coro aos discursos contra o PT e Lula por narrativas violentas e por uma campanha que polarizava o Brasil.
Em 2018, Alckmin concorreu a presidente da República e amargou o posto de pior desempenho do PSDB em uma disputa para o cargo. Conseguiu menos de 5% dos votos. Lula estava fora da disputa — preso na Operação Lava-Jato.
No ano passado, Alckmin voltou à carga contra o PT por causa do episódio em que petistas tentaram comprar dossiê com um suposto conjunto de denúncias contra o PSDB.
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Nas eleições de 2006, Lula e Alckmin eram rivais na disputa pela Presidência da República. Os dois chegaram ao segundo turno trocando farpas em debates televisivos.
À frente do governo paulista e com a intenção de concorrer ao Planalto em 2018, Alckmin fazia coro aos discursos contra o PT e Lula por narrativas violentas e por uma campanha que polarizava o Brasil.
Em 2018, Alckmin concorreu a presidente da República e amargou o posto de pior desempenho do PSDB em uma disputa para o cargo. Conseguiu menos de 5% dos votos. Lula estava fora da disputa — preso na Operação Lava-Jato.
No ano passado, Alckmin voltou à carga contra o PT por causa do episódio em que petistas tentaram comprar dossiê com um suposto conjunto de denúncias contra o PSDB.
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