Pode-se afirmar, sem cabotinismo, que o seminário Desafios 2022: para onde vai o Brasil apresentou as intenções de uma nação para o futuro próximo. Quem acompanhou o evento promovido pelo Correio na última quinta-feira teve a oportunidade de ver e ouvir a expectativa de atores importantes da vida nacional, além da análise de economistas reconhecidos pela seriedade de suas leituras acerca deste país complexo. A proximidade de uma eleição influenciou parte das colocações feitas pelos convidados, em particular os representantes que concorrem a cargo eletivo e o presidente do Tribunal Superior Eleitoral. Mas convém ressaltar pontos destacados por personlidades do campo político, como os senadores Rodrigo Pacheco (PSD-MG) e Simone Tebet (MDB-MS), além do ex-ministro Sergio Moro e do governador Joao Doria. E, particularmente, as considerações do ministro Luís Roberto Barroso, na presidência do TSE até fevereiro do próximo. Boa parte dos problemas e desafios mencionados no seminário transcendem o calendário eleitoral, até mesmo o calendário convencional. Trata-se de questões que dizem respeito ao país que queremos ser, ao país que precisa ser construído, ao projeto nacional que ainda está por vir.
No comando de um dos Poderes da República, o presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco, assinalou a necessidade de haver uma liderança no enfrentamento dos dilemas nacionais. Essa liderança, no entendimento de Pacheco, precisa necessariamente estabelecer uma boa relação institucional com os outros pilares do regime republicano. Não é exatamente o que temos visto no atual mandato de Jair Bolsonaro. Arrasta-se há tempos a convivência intempestuosa entre o chefe do Executivo e integrantes do Supremo Tribunal Federal. Na última semana, o presidente dirigiu mais um ataque contra Alexandre de Moraes, embora não o tenha citado nominalmente. A aprovação de André Mendonça, após meses de impasse no Senado, é tratada como uma vitória da trincheira bolsonarista no Supremo - como se todos os integrantes da Corte não tivessem que cumprir a um só mandamento, o da Constituição. No Câmara, observa-se maior proximidade entre o chefe do Planalto e o deputado Arthur Lira, mas se sabe que a durabilidade da aliança está condicionada à conveniência do Centrão. Ou seja, pode ruir a qualquer momento. Nada indica que em 2022 haverá um esforço na melhora do diálogo institucional.
Entre os postulantes a ocupar a cadeira mais importante do Palácio do Planalto, nota-se a vontade de executar um projeto para o país. Em entrevista ao Correio publicada no domingo passado, Sergio Moro deu o tom de suas ambições. "Vamos demonstrar que somos sérios, não somos agressivos, mas que o nosso projeto é vigoroso. Consistente do ponto de vista técnico e fundado em princípios e valores e no diálogo", disse. Na quinta-feira, voltou ao tema que o tornou conhecido pelos brasileiros: a corrupção. "O país não vai avançar se nós não enfrentarmos o desafio da corrupção. A corrupção acaba impactando a eficiência do governo: não tem como você ser um governo eficiente e competente se é altamente corrupto". Em que pese as críticas à Operação Lava-Jato, Moro insiste em combater um mal histórico na administração pública brasileira. Pode-se criticar as intenções eleitoreiras do ex-juiz federal, mas não se pode negar que a impunidade, especialmente de gente poderosa, permanece uma mácula na sociedade brasileira.
O governador João Doria, em uma breve síntese, indicou as múltiplas ações necessárias para realizar transformações estruturantes no país destroçado pela covid-19 e pela "herança maldita" deixada pela última administração petista na área econômica. Para o presidenciável tucano, é essencial construir "Um Brasil que precisa reduzir a dimensão da pobreza, precisa gerar empregos, precisa proteger a saúde da sua população, precisa respeitar o meio ambiente e retomar o seu crescimento econômico". Em poucas palavras, Doria sinaliza a magnitude do desafio que espera o futuro ocupante do Planalto após a abertura das urnas.
É a fala de um não candidato à Presidência da República, porém, que talvez traduza o momento delicado que atravessamos. Ao ressaltar que a democracia é o regime do respeito mesmo na divergência, o ministro Luís Roberto Barroso disse esperar que as eleições sejam marcadas pela comparação de projetos para o Brasil, e não por ataques pessoais. E disse, em sinal de alerta: "A democracia brasileira resistiu a todos os vendavais". Quando um magistrado da mais alta Corte de Justiça renova a confiança no regime democrático, é porque o país trilha caminhos perigosos. Em outubro, espera-se que os brasileiros escolham aquele candidato que permita o fortalecimento dessa conquista.
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