O combate às mudanças climáticas tornou-se um dos principais desafios da humanidade e mobiliza as grandes potências mundiais. O Brasil, que tem sido acusado de negligenciar a área ambiental, poderia, no entanto, ter um papel fundamental nesse processo. "Seria muito importante olhar o patrimônio ambiental brasileiro como uma vantagem comparativa em relação a outras nações. É o que o país tem de maior diferencial", afirmou Adriana Ramos, assessora do Programa de Política e Direito Socioambiental do Instituto Socioambiental (ISA).
Adriana foi uma das debatedoras do painel Sem preservação não há futuro, no seminário Desafios 2022: Para onde vai o Brasil, promovido pelo Correio. Ela destacou que a COP26, a conferência ambiental global realizada no mês passado na Escócia, "reforçou bastante a expectativa da comunidade internacional, incluindo, financiadores e investidores, de que o país avance em uma performance ambiental condizente com o seu potencial".
No entanto, o Brasil caminha na contramão da preocupação dos líderes mundiais. Em agosto de 2021, a Amazônia teve a maior área desmatada para um mês em 10 anos, de acordo com dados do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônica (Imazon). Somente neste ano, foram destruídos 7.715km² de floresta, o pior número da década.
"As florestas são fundamentais para a regulação climática global. O volume de carbono que tem na Amazônia, se for liberado, vai desbalançar qualquer esforço global de redução de emissões", frisou Adriana. Segundo ela, a política ambiental brasileira ainda tem um longo caminho pela frente, e o papel do Legislativo e do Executivo em promover um ambiente juridicamente e socialmente seguro em relação às mudanças climáticas é o grande desafio atual.
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Comércio
O desequilíbrio ambiental afeta a economia de várias formas. Neste ano, o país viveu uma intensa crise hídrica, que fez disparar os preços da energia, pressionou a inflação e elevou os custos da atividade produtiva. Um dos setores mais afetados foi o do comércio, como destacou o economista sênior da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Fábio Bentes.
"Metade da nossa inflação é de energia, seja energia elétrica ou combustíveis", afirmou o economista. Ele explicou que, apesar do faturamento do setor estar voltando ao normal, os custos aumentaram consideravelmente: "Setores do comércio e serviço vêm retomando faturamentos no nível pré-pandemia, mas e os custos? Em uma lavanderia, 23% dos custos vêm de energia elétrica; em um hotel, 20%; num supermercado, 19%", exemplificou.
Segundo Bentes, as expectativas de crescimento do setor para 2022 são ainda mais baixas do que neste ano, devido à inflação elevada, juros em alta e queda de renda da população. Um estudo da CNC mostra que esses fatores devem retirar R$ 44,7 bilhões das vendas no fim de ano, em relação ao cenário projetado no começo de 2021.
"A gente observa um cenário de preocupação. Neste ano, o setor deve crescer em torno de 3%. Para o ano que vem, dificilmente vai conseguir alcançar um crescimento maior que 1%."
Descarbonização na agenda
Para o gerente executivo de Economia da CNI, Mário Sérgio Carraro, o Brasil se destaca na questão de matriz energética, com fontes renováveis e limpas. Segundo ele, a confederação tem investido no mercado de carbono como forma de contrabalançar as emissões das empresas.
Para Carraro, muitos investimentos serão necessários para avançar na descarbonização, e o financiamento é o maior desafio. "A disponibilidade desse orçamento precisa ser bem discutida. Nos fundos climáticos que países desenvolvidos colocam à disposição, a América Latina participa com apenas 5%; a maioria, quase 40%, vai para Ásia", alertou.
De acordo com Carraro, a sustentabilidade da indústria no Brasil, que tem perdido participação no PIB, também passa por esse viés. "Se formos pensar na sustentabilidade da indústria, sairemos do debate ambiental, porque a indústria está acabando no Brasil", afirmou. "Hoje, é menos de 20% da economia."
Para o representante da CNI, a reforma tributária é fundamental para alavancar a indústria no Brasil. Para o executivo, o sistema tributário brasileiro estrangula a economia. "O sistema tributário retira completamente a capacidade de a produção nacional competir internacionalmente. Dentro do Brasil, acaba também com a competição."
"Tentamos exportar, levando mais de 7% de imposto, enquanto os outros chegam no país com zero. Aqui, o importado chega com zero e nosso produto chega para o consumidor com 7,4%. Quando há direito a crédito, não há restituição. Em especial com os estados. A complexidade faz com que os custos administrativos sejam muito elevados."
Segundo Carraro, estudos mostram que, com uma boa reforma tributária, o PIB brasileiro aumentaria 12% num período de 15 anos. Isso significaria R$ 1 trilhão a mais no PIB e cerca de R$ 4.800 de renda a mais para cada brasileiro. "Sem a reforma, estão condenando a população brasileira a ser mais pobre", frisou.
*Estagiário sob a supervisão de Odail Figueiredo