O presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou a criticar nesta quarta-feira (08/12) o ex-juiz e ex-ministro da Justiça, Sergio Moro (Podemos). Segundo o chefe do Executivo, Moro "não tem coração, nem gratidão nenhuma". A declaração ocorreu durante entrevista à Gazeta do Povo.
Segundo Bolsonaro, a relação começou a estremecer quando ele teria cobrado o ministro sobre os motivos que a Polícia Federal não investigava casos similares em partidos de esquerda em detrimento ao do seu ex-ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, acusado de desviar recursos eleitorais por meio de candidatas laranjas em Minas Gerais.
"Teve um caso de um deputado federal, ex-ministro meu, que foi acusado de ter laranjas por ocasião das eleições. Polícia Federal começou a apurar. Essa matéria vazou. Pancada no respectivo ministro. Chamei o Moro. "Ô, Moro, já que está sendo divulgado pela imprensa, por que que a Polícia Federal está investigando esse ministro que foi candidato em um estado aí?". "Ah, porque uma pessoa ligada a ele recebeu um valor que, dividido pelo número de votos, dava um fator 50"", relatou.
"Eu já sabia [que Moro falaria isso] e puxei para ele [os valores] de outros partidos do Brasil. Outros partidos, em especial de esquerda, o fator dá acima de 50. "Por que você não está investigando? É só para queimar o governo? Dizer que eu tenho um ministro corrupto no meu governo?" […] Deu uma dor de cabeça enorme para nós isso daí. Ou seja, ações que eram direcionadas. Eram selecionadas pelo ministro, investigações selecionadas", completou Bolsonaro.
Armas e chulé
O presidente afirmou, ainda, que a intenção era a de demitir Moro antes de seu pedido, mas não o fez por conta de seu "prestígio". "Isso daí desde o começo. Eu queria mandar ele embora lá atrás, mas como ele tinha um prestígio muito grande, ficava difícil justificar a demissão dele. Tanto é que na mídia social era comum, "Moro no Supremo, Dallagnol na PGR. Ou então não tem a reeleição." Era um negócio terrível", continuou.
Foi então que o presidente emendou que Moro seria ingrato e sem coração. "Inclusive, quando vazou isso, eu já sabia dessa questão, eu peguei o Moro pela mão. Fomos no evento da Marinha aqui em Brasília, peguei ele pela mão também por ocasião do 7 de setembro, quebrando protocolo, o povo aplaudindo o Moro e eu. Jogo do Flamengo. Agora, não tem coração nenhum. Não tem gratidão nenhuma, zero. É o interesse seu, pessoal e mais nada além disso daí. Isso foi somando até que ele viu que ia sair e resolveu pedir demissão", contou.
Bolsonaro também questionou a razão do ex-juiz de ter aceitado o convite para compor o Ministério da Justiça na época e comparou o embate armamentista com Moro a um 'chulé'. "Você vê o caráter do Moro quando ele fala que poderia ser mais reativo contra portarias e decretos de armas. Pô, pelo amor de Deus. Vamos supor que somos solteiros, a gente está namorando, eu tenho um chulé terrível e você aceita casar comigo. Você não pode, depois de casado, reclamar de chulé. O meu chulé com o Moro, um dos chulés, era a questão de armas. Como ele aceitou ser meu ministro, sabendo que eu sou uma pessoa pró- armas?".
O presidente relatou que, nas reuniões ministeriais, não pedia para ser blindado. "Eu sempre dizia na reunião de ministros: ‘Eu não quero ser blindado por nenhum de vocês, entendeu, Sergio Moro? Eu não posso admitir é ser chantageado, entendeu Sergio Moro? Assim era comum acontecer. E esse cara não fez absolutamente nada para que Coaf, para que Receita, não só bisbilhotasse a minha vida, bem como a de milhares de brasileiros. Que isso nos atrapalha. Você pode investigar o filho do presidente? Pode. A mulher do presidente? Pode. Mas investiga legalmente, com uma acusação formal. O próprio presidente, eu posso ser investigado, sem problema nenhum, mas não dessa forma como eles fazem".
Por fim, em indireta a Moro, pré-candidato às eleições presidenciais de 2022, disse que "certas pessoas pegaram seus ministérios para se preparar politicamente para o futuro", concluiu.
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