A pré-candidatura do ex-juiz Sergio Moro ao Planalto mexe com os ânimos do presidente Jair Bolsonaro. O chefe do Executivo deixou transparecer o incômodo na live de quinta-feira, em que atacou seu ex-ministro da Justiça. "Esse cara está mentindo descaradamente. Faz um papel de palhaço, sem caráter. Mentiroso deslavado", disparou. "Saiu do governo pela porta dos fundos, traindo a gente, querendo trocar o diretor-geral da Polícia Federal por sua indicação ao Supremo (Tribunal Federal). Aprendeu rápido, hein, Sergio Moro? Aprendeu rápido a velha política."
Os ataques foram em resposta à acusação, feita por Moro, de que Bolsonaro comemorou a soltura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da cadeia em 2019, porque achou que isso o beneficiaria politicamente. Mas além do rancor com o ex-aliado, o presidente está preocupado com o avanço do ex-ministro nas pesquisas de intenção de voto.
Levantamento do Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe), feito entre 22 e 24 de novembro, apontou Moro com 11 pontos, três a mais do que na amostragem anterior. Enquanto isso, reduziu a intenção de voto em Bolsonaro, de 28% para 25%. Lula manteve o primeiro lugar, com 42%.
Com Moro tendo herdado os três pontos perdidos por Bolsonaro dentro de um mês, a preocupação se justifica. É o que avalia Leandro Consentino, professor de ciência política e relações Internacionais do Insper. "Ele deixa claro nas declarações e posicionamentos. A metralhadora do Planalto foi deslocada para o ex-ministro, tirando do alvo, por ora, o ex-presidente Lula", ressaltou.
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Alerta
O especialista explicou que tamanha insegurança se deve ao que Moro "tira" de Bolsonaro, que seria uma possível vaga no segundo turno das eleições. "Isso acende uma luz amarela no Planalto", frisou.
A 10 meses das eleições, o surgimento de uma terceira via com força suficiente para desmantelar a polaridade deixa de ser improvável. "O desafio da terceira via é difícil quando há pulverização de candidatos, mas pode ser que essa novidade do Moro mude ou corrija esses rumos. Ele é quem tem mais condições de fazer isso neste momento", disse Consentino. De acordo com o especialista, para um crescimento sustentável, Moro terá de aglutinar outros atores políticos em torno de si.
Ex-juiz rebate o presidente
O presidenciável e ex-juiz Sergio Moro (Podemos-PR) rebateu os ataques do presidente Jair Bolsonaro, na noite de quinta-feira, na live semanal dele pelas redes sociais. O ex-ministro da Justiça reafirmou a acusação de que o chefe do Executivo comemorou a saída do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva da cadeia. Também defendeu o restabelecimento da execução da prisão em segunda instância no país.
"Não quero entrar em briguinhas, ofender, mas todo mundo sabe quem é quem nessa história e quem defende as coisas certas", disse Moro, em entrevista, ontem, à Rádio Jornal do Comércio do Recife. Chamado por Bolsonaro de mentiroso e sem caráter, o ex-juiz afirmou que não vai fazer acusações pessoais. Para ele, focar em xingamentos e não em programas políticos é "menosprezar a inteligência da população brasileira".
O ex-ministro reafirmou que Bolsonaro comemorou a soltura de Lula e que um ministro do governo teria conversado com ele, a mando do chefe do Executivo, para que não se trabalhasse pela execução de sentença em segunda instância. Sem citar nomes, Moro afirmou que, se o ministro não tiver a intenção de mentir para defender o presidente, não vai negar o relato.
Além disso, ele cobrou que se questione Bolsonaro sobre o episódio. "Pergunte hoje ao presidente se ele defende a aprovação da emenda constitucional que restabelece a execução em segunda instância, se o governo dele vai trabalhar para aprovar, ou se ele vai de novo se omitir e comemorar quando criminosos são colocados na rua", disparou.
"É absolutamente necessário que a CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) aprove a execução em segunda instância e, depois, o plenário. Em seguida, o Senado. Essa é uma pauta fundamental para o país, não para mim. Esqueça as eleições, isso é importante para o país, é uma conquista civilizatória", pregou.
Rachadinha
Moro manteve seu discurso de construção de um governo transparente, verdadeiro e baseado no diálogo, e reforçou que tal projeto se difere das gestões petistas e da atual. Ao se declarar disposto tanto ao combate à corrupção quanto à luta pela não disseminação de fake news e pela liberdade de imprensa, Moro se disse compromissado em sempre falar a verdade". "Não acredito que nós precisamos sacrificar ética para construir boa política", frisou.
Questionado sobre seu posicionamento em um possível segundo turno entre Lula e Bolsonaro, Moro enfatizou que o "eleitor vai ter outras alternativas". "Não acredito que o futuro do Brasil seja tão trágico", alfinetou. "O brasileiro não pode ser forçado a escolher entre um governo no qual houve os dois maiores casos de corrupção da história e que acabou em corrupção e o governo atual da rachadinha e de nova recessão."
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