Não será fácil para governador de São Paulo, João Doria, alavancar sua candidatura à Presidência, tanto em São Paulo como nos demais estados. A vitória sobre o governador gaúcho Eduardo Leite, por 53,99% a 44,66%, foi mais apertada do que imagina. Houve lances muito tumultuados nas prévias e o jogo bruto na arrancada final para garantir a maioria de votos dos mandatários do partido afrontou os caciques tucanos que se opunham à sua candidatura, o que torna mais difícil a composição interna.
Doria anunciou que vai conversar com todo mundo, sinalizou a disposição de fazer alianças e unificar a chamada terceira via, mas precisa criar um fato político capaz de catalisar esses apoios, o que depende dos resultados de pesquisas. Ninguém sabe se a superexposição de Doria na mídia, durante o tumultuado processo de prévias do PSDB, vai melhorar sua imagem nas pesquisas ou aumentar a rejeição. A sorte de Doria é que seus adversários internos estão paralisados pela derrota, desorientados e pessimistas.
Eduardo Leite recusou o convite de Doria para coordenar sua campanha. Ontem, fez uma postagem no Twitter que refletiu o clima de baixo astral e gerou ainda mais desorientação: “Muito obrigado a todos os que nos acompanharam! Fizemos uma campanha limpa, bonita e honesta. O PSDB escolheu seu caminho e desejo sorte ao @jdoriajr. Acima de projetos pessoais ou partidários está o Brasil! E eu, onde estiver, buscarei sempre dar minha contribuição ao país!”
Os tucanos inconformados com a vitória de Doria gostariam que Leite liderasse uma dissidência e mantivesse sua candidatura, por outra legenda. Mas avaliam que isso não será possível. O governador gaúcho participou das prévias e compareceu ao ato de oficialização da pré-candidatura de Doria. E os políticos gaúchos não têm tradição de mudar de partido, um verdadeiro tabu. Aos mais próximos, Leite tem dito que não vai concorrer a reeleição. Também não manifesta a intenção de concorrer ao Senado, mas essa possibilidade é a mais sensata para quem adiou o sonho de disputar a Presidência para 2026.
O maior problema de Doria é a dissidência de Geraldo Alckmin em São Paulo, que é irreversível. A dúvida é se o ex-governador pretende ser candidato a governador pelo PSD ou vice do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pelo PSB. A primeira alternativa é a mais provável. Sua dissidência é um problema para Doria, que luta para melhorar a avaliação de seu governo, ensanduichado por Bolsonaro nas pequenas cidades paulistas e Lula nos grandes centros. O vice Rodrigo Garcia, candidato a governador, tem amplo transito entre os prefeitos paulistas, mas também não bomba nas pesquisas.
Bancada federal
A terceira frente de desgaste é a dissidência de Aécio Neves em Minas Gerais. Na avaliação de Doria, a saída do ex-governador mineiro do partido favoreceria sua candidatura. É inimaginável uma composição entre ambos, mas tem um ditado que diz que mineiro não briga nem faz as pazes. Os dois disputam o controle da bancada na Câmara. O líder Rodrigo Castro (MG), ligado a Aécio, é candidato à recondução. Doria teve apoio da maioria dos deputados federais, mas Castro é um interlocutor privilegiado do presidente da Câmara, Arthur Lira(PP-AL), e tem poder de barganha para negociar as emendas ao Orçamento da União. Para alinhar a bancada federal com seu projeto de oposição, Doria precisaria articular a eleição de um novo líder ou trazer Castro para o seu lado.
Sem Leite, Alckmin e Aécio, Doria precisa apostar nas alianças. A sua maior sinalização até agora foi em direção do ex-ministro da Justiça Sérgio Moro, que desponta como pré-candidato do Podemos. Ambos tem boa relação, mas quem está em posição mais vantajosa nas pesquisas é Moro. Pré-candidata do MDB à Presidência, a senadora Simone Tebet (MDB-MS) é a vice dos sonhos de Doria, o que não lhe garantiria, porém, apoio efetivo do MDB, especialista em cristianizar candidatos.