O PSDB deve finalmente decidir, nesta sábado (27/11) , as prévias que indicarão o nome do partido para a disputa ao Palácio do Planalto, no ano que vem. Isso porque a legenda abandonou o aplicativo desenvolvido pela Fundação de Apoio à Universidade Federal do Rio Grande do Sul (FAURGS) e optou por decidir o pleito por meio do sistema BeeVoter.
A votação começará às 8h e se encerrará às 17h. Os votos que restam são os que não puderam ser feitos pelo aplicativo, pois aqueles depositados presencialmente, nas urnas eletrônicas instaladas no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, domingo passado, não registraram problemas.
Assim, as complicadas prévias tucanas recolherão as escolhas dos filiados de três fontes diferentes: o aplicativo que será usado nesta nova fase; o que foi desenvolvido pela FAURGS; e não funcionou e o que utilizou a urna eletrônica do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Mas seja quem for o ungido pelo partido, logo mais, uma coisa é certa para as campanhas dos governadores Eduardo Leite (RS) e João Doria (SP), além do ex-prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto: não ter conseguido realizar um pleito interno deixou um grande desgaste para a imagem do PSDB. Prova disso é que, nas redes sociais, ao longo da semana, foram vários os memes que indagavam como uma legenda que não consegue fazer uma votação que envolve apenas cerca de 44 mil filiados teria condições de dirigir um país complexo como o Brasil.
Ainda assim, os integrantes do partido tentaram turbinar a imagem de o PSDB ser a única legenda a realizar prévias e que o problema com o aplicativo foi um acidente de percurso. Só que isso não satisfez parte dos filiados. A deputada Joice Hasselmann (SP), recém-convertida em tucana, definiu a falha como um "mico".
Convergência
Numa tentativa de aparentar que entre Virgílio, Doria e Leite existe alguma convergência, os três elogiaram o presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo, por ter se empenhado na solução do problema. "Concordamos e apoiamos a decisão de dar prosseguimento às prévias do PSDB amanhã (hoje). Prévias que engrandecem o PSDB no exercício da democracia e do voto dos seus filiados e mandatários. Viva a democracia!", exultou Doria.
"Vamos ao voto! Decisão acertada de Bruno Araujo. A conclusão das prévias tem nosso apoio. O mais importante foi alcançado: segurança de que os votos serão sigilosos!", concordou Leite.
Com poucas chances na disputa, Virgílio preferiu enfatizar que o PSDB deve tomar consciência do tamanho que tem — bem menor do que o de outros tempos. "O partido tem alguns problemas para resolver. Tem que tomar consciência de si próprio, não é tão grande como já foi. Ele está numa posição em que tem que se unir e buscar aliados confiáveis", propôs.
Apesar de a solução tecnológica ter sido encontrada, ficou a impressão de que o PSDB saiu menor do que entrou nas prévias. Afinal, os três pré-candidatos já contabilizam que a confusão no sistema de votação será usado pelos rivais na corrida presencial.
Partido se incomoda com presença da PF
Uma boa parte dos filiados do PSDB ficou irritada com a atitude do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) de cogitar envolver a Polícia Federal (PF) na investigação sobre o primeiro aplicativo utilizado na votação das prévias. Isso porque, de acordo com a Fundação de Apoio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (FAURGS) — responsável pelo desenvolvimento da plataforma —, teria havido um ataque hacker contra o sistema, conforme explicou por meio de nota.
O envolvimento da PF foi motivo para mais uma divergência entre os tucanos, pois o temor era de que a instituição, durante as investigações, tivesse acesso a informações sensíveis do partido. E como uma parcela expressiva dos filiados do PSDB enxerga, hoje, os federais excessivamente alinhados com o Palácio do Planalto, temiam que tais dados chegassem às mãos do presidente Jair Bolsonaro.
Nos bastidores, muitos tucanos concordam que o uso de um aplicativo para realizar parte da votação foi equivocado, mas admitem que deviam passar pela experiência. Só que há praticamente consenso negativo sobre ter a PF nas dependências do PSDB — seria abrir as portas para Bolsonaro. Por causa disso, o deputado federal Carlos Sampaio (PSDB-SP), ex-integrante do Ministério Público do estado de São Paulo (MP-SP), chamou para si a investigação e entregará o resultado daquilo que levcantar à polícia.
O incômodo com a PF tem a ver, também, com uma parcela do partido, que tem votado favoravelmente no Congresso em temas de interesse do Palácio do Planalto. O ex-prefeito de Manaus e um dos pré-candidatos, Arthur Virgílio Neto, é favorável à retirada do partido de todos os bolsonaristas ou dos que vêm se alinhando ao governo.
"Preferia que fosse um partido menor, mas que fosse uno, porque seria mais seguro. O partido está dividido entre quem vota com Bolsonaro e quem não vota", explicou.
Outras questões também foram levantadas para afastar a PF da rotina do partido — como não ter o PSDB associado a questões criminais. "Chamar a PF para ficar dentro do partido seria um constrangimento. Não queremos isso, porque não cria uma imagem bonita. Isso não aconteceu com nenhum partido, não é uma coisa boa. Na minha cabeça, prejudica", acrescentou Virgílio.
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