A pouco menos de um ano para as eleições à Presidência da República, aumenta a movimentação de partidos que buscam se apresentar como alternativa à polarização entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva — líder nas pesquisas de intenção de voto — e o presidente Jair Bolsonaro.
A parlamentar se junta nessa disputa ao colega de Casa, Alessandro Vieira (SE), pré-candidato pelo Cidadania; ao ex-juiz Sergio Moro (Podemos); ao ex-ministro Ciro Gomes (PDT); ao cientista político Luiz Felipe d'Avila (Novo) e ao ex-ministro Luiz Henrique Mandetta (União Brasil). O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (MG), ainda não confirmou oficialmente sua candidatura, mas o presidente do PSD, Gilberto Kassab, já anunciou que ele representará o partido nas eleições. O PSDB também lançará candidato, mas as prévias do partido estão tumultuadas — concorrem os governadores de São Paulo, João Doria, e do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, além do ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio (leia reportagem abaixo). Por sua vez, o Avante deve lançar o deputado André Janones (MG).
Mandetta desmentiu, ontem, que deixará a disputa. "Eu sempre disse que posso ser candidato ou posso apoiar outro candidato, mas jamais desistirei do Brasil. Médico não abandona paciente. Meu nome continua à disposição", ressaltou. "A fusão de DEM/PSL (que criou o União Brasil) vai amadurecer. O que realmente precisamos debater são ideias, com transparência e humildade."
Na avaliação de Alessandro Vieira, o excesso de postulantes ao Planalto é positivo para o debate de ideias. "A etapa em que nós nos encontramos é justamente de apresentação de nomes e de propostas. Mais adiante, espero que lá para fevereiro ou março, a gente possa iniciar uma segunda etapa, que é de concentração de uma candidatura ou a menor quantidade possível de candidaturas nesse espaço da terceira via. Queremos viabilizar esse caminho, e nos parece ser o melhor para o Brasil", argumentou, ao Correio.
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Santos Cruz
Sob a justificativa de apoiar a candidatura de Moro, o general Santos Cruz, ex-ministro da Secretaria de Governo de Bolsonaro, se filiou, ontem, ao Podemos. Ele não disse, porém, se concorrerá a algum cargo no pleito de 2022.
Em seu discurso, Santos Cruz enfatizou que o Brasil não deve buscar "salvadores da pátria" e defendeu o fim da recondução à Presidência da República. "Uma das primeiras medidas é acabar com a reeleição, que está distorcendo todo o comportamento político. Nós estamos assistindo a isso. O dr. Sergio Moro falou que uma das primeiras medidas (se eleito) será acabar com a reeleição, e eu concordo que essa é uma boa medida para o Brasil", sustentou.
Santos Cruz ressaltou, ainda, a importância de temas como diálogo e transparência como reforços à democracia, que, segundo ele, precisa ser "traduzida" para o bem da população.
"Democracia significa aperfeiçoamento das instituições. As instituições não podem ser aparelhadas. Populismo não pode ser aceito. Nós precisamos traduzir o que é democracia e traduzir isso em água, alimentação, emprego, honestidade, boa administração, transparência, escola, saúde."
Moro, por sua vez, rasgou elogios ao general. "(Santos Cruz) compôs o atual governo tendo esperança de que poderia dar certo. Não teve nenhum receio de se retirar quando percebeu que, na verdade, o plano do governo não era construir um país melhor, mas atender objetivos pessoais do governante do momento. Isso demonstra desprendimento, caráter e credibilidade", discursou.
Segundo o general Paulo Chagas, o grupo de militares que se decepcionou com Bolsonaro — como ele e Santos Cruz —, e busca uma terceira opção encontrou em Moro a alternativa. "Neste momento, ele é a melhor opção, mas é cedo para dizer que é o melhor em definitivo. Dentro desse universo já apresentado, ele entra um certo handicap", afirmou. "Ainda falta tempo, e quanto mais tarde for essa decisão, melhor. O avanço de Moro vem deixando bolsonaristas e petistas apavorados por aparecer bem ranqueado nas pesquisas", acrescentou.
Afunilamento
Na avaliação de Leonardo Queiroz Leite, cientista político e doutor em administração pública pela FGV-SP, "Moro afunila a terceira via, porque ele elimina todos os demais". "Os que estão abaixo dele nas pesquisas, percebe-se que não terão expressão no futuro. Moro também tende a galvanizar parte do eleitorado de direita que ia com Bolsonaro e está insatisfeita com o governo", destacou. "No médio prazo, entre abril e março, vamos ter a oficialização das candidaturas. Parece-me que Moro vai crescer, e esses candidatos que vinham abaixo tendem, sim, a desidratar."
A opinião é compartilhada pelo cientista político Valdir Pucci. "Moro e Bolsonaro dividem, praticamente, o mesmo eleitorado. Muitas pessoas que votaram em Bolsonaro e apoiaram a Operação Lava-Jato se decepcionaram com este governo por não ampliar a política anticorrupção", argumentou. "Moro pode tomar votos, principalmente de Bolsonaro, em especial bolsonaristas arrependidos."