No ato de filiação de Sergio Moro, realizado na última quarta-feira, em Brasília, dois ex-ministros de Jair Bolsonaro prestavam atenção ao discurso que o antigo colega de equipe ministerial fazia, repletos de críticas ao presidente. O general Carlos Alberto dos Santos Cruz, que comandou a Secretaria de Governo, e Luiz Henrique Mandetta, ex-ministro da Saúde, eram os principais nomes entre os ex-aliados de Bolsonaro que se aproximaram de uma possível candidatura presidencial do ex-ministro da Justiça.
Mas, nas primeiras filas do auditório Ulysses Guimarães, parlamentares eleitos na onda do bolsonarismo, em 2018, já ocupavam as cadeiras para ouvir Moro, deixando o presidente de lado. Nessa plateia de ex-bolsonaristas, além dos ex-ministros estavam, por exemplo, os deputados federais Júnior Bozzella (PSL-SP), Professora Dayane Pimentel (PSL-BA), Julian Lemos (PSL-PB) e Luis Miranda (DEM-DF) — pivô de uma crise direta com o presidente, por conta de denúncias feitas pelo seu irmão em relação à pressão para aquisição de vacinas contra a covid.
"Continuamos combatendo a corrupção. Não nos aliamos a corruptos de nenhum lado. Não fechamos os olhos para os erros de ninguém", afirmou Miranda, que fez questão de posar para fotos ao lado de Moro.
Santos Cruz concorda que o ex-juiz pode se tornar a opção preferencial para quem, como ele, ficou decepcionado com o Bolsonaro. "Na campanha de 2018, existia um entusiasmo muito grande para encerrar aquele período do PT. E Bolsonaro se apresentou com um discurso do qual não cumpriu nada", lembrou o general.
Dentro do Podemos, Moro já desperta a admiração de aliados de Bolsonaro, como os senadores Eduardo Girão (CE) e Marcos do Val (ES), que atuaram na CPI da Covid alinhados ao Palácio do Planalto. Os dois compareceram ao ato de filiação. Girão, aliás, considerou o discurso de Moro "sereno e forte".
Acenos aos tucanos
Mas ainda pairam dúvidas se Moro é mesmo candidato ao Planalto ou se, em mais alguns meses, pode dar uma guinada de 180º e buscar uma vaga ao senado pelo Paraná. Isso porque ele vem mantendo contatos com o governador Eduardo Leite, do Rio Grande do Sul, pré-candidato à Presidência da República pelo PSDB — ele disputa a indicação do partido no próximo dia 21. Assim, na bolsa de apostas eleitorais, não estaria afastada uma chapa que unisse ambos.
Leite, aliás, confirmou que foi convidado para a cerimônia de filiação de Moro ao Podemos e não nega os entendimentos. "Ele me convidou, mas um conflito de agendas me impediu de estar presente. Converso com Moro assim como converso com outros partidos e líderes políticos. Mas meu foco é vencer as prévias e unir o PSDB para liderarmos o centro democrático a favor do Brasil", disse.