O presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Danilo Dupas, não deu nenhum indício sobre as razões que levaram à debandada de 37 servidores do instituto, a poucos dias da realização do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade). Em depoimento, ontem, à Comissão de Educação da Câmara dos Deputados, disse que a questão será tratada internamente e que o problema deve começar a ser debelado hoje, quando pretende se reunir com uma comissão de funcionários.
Em vez disso, Dupas preferiu assegurar que o Enem acontecerá, de fato, nos dias 21 e 28, enquanto que o Enade será aplicado no dia 14. Diante dos parlamentares, o presidente do Inep aproveitou para pedir para que os estudantes continuem "estudando para as provas" e disse que a saída dos servidores não causará problemas.
"O cronograma de execução do Enem 2021 está mantido e não será afetado pelos pedidos de exoneração. As provas do exame estão armazenadas em segurança, e o Inep está monitorando todo o processo de modo a garantir a normalidade de sua execução", informou Dupas.
Entretanto, a "crise interna" — como o próprio presidente do Inep classificou — parece estar longe do fim. Apesar de os deputados insistirem, Dupas conseguiu se esquivar e não dar qualquer informação.
"Vamos aprofundar melhor, hoje, em uma reunião com a Assinep (Associação de Servidores do Inep). É uma questão interna que gostaria de tratar internamente, inicialmente, para buscar uma solução efetiva sem causar impacto negativo na sociedade", limitou-se a dizer, acrescentando que discutirá as denúncias de assédio moral e as saídas — que somente são efetivadas com a publicação no Diário Oficial da União (DOU), o que, até agora, não aconteceu.
Encontro inócuo
O encontro, porém, tem tudo para não se realizar, pois representantes da Assinep já adiantaram que não comparecerão. Segundo o presidente da associação, Alexandre Retamal Barbosa, o comparecimento de Dupas à comissão da Câmara e seu comportamento diante dos deputados confirmou o que os servidores alegam como causa da demissão: o despreparo técnico e administrativo do presidente do Inep.
"A forma como o presidente se comportou só confirmou que o que os servidores denunciaram é verdade: a completa falta de preparo técnico e administrativa", afirmou.
Segundo Retamal, "uma coisa que bota em risco o Enem, o Enade e todas as ações estratégicas que o Inep tem para a educação brasileira, nesse momento, é a mesma coisa que bota em risco o instituto: a atuação do atual presidente, que toma decisões muitas vezes equivocadas, desconsiderando os critérios técnicos".
O presidente da Assinep disse que as provas, de fato, estão garantidas, pois existe uma rede de governança bem estruturada para organizar a aplicação do Enem e de todas os concursos geridos pelo órgão.
"O Enem termina em um dia, no dia seguinte já está começando o planejamento para o próximo ano. Realmente, a prova tem estrutura para acontecer e os servidores tomaram a decisão cientes disso. Eles não querem prejudicar os alunos. Só não podem continuar compactuando com uma condução da qual discordam", explicou.