Por que um país tão rico em toda a sorte de recursos, como o Brasil, há 40 anos não consegue crescer a economia como os demais países? Quando se trata de olhar para o futuro, esta é a questão fundamental.
Há poucos dias, a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), instituição constituída pelos Estados mais ricos do mundo, divulgou um relatório em que projeta a situação de uma lista de países no período de hoje até 2060. Usando como medida a renda per capita dos países em relação à renda dos Estados Unidos, o documento é uma estimativa do potencial de crescimento durante este longo período.
Hoje a renda dos brasileiros equivale a 22,9% da dos americanos. Para efeito de comparação, a renda da China hoje corresponde a 29,1%; a da Índia, 10,8%; a da Argentina, 28%; e a da África do Sul, 18,4%. Segundo as previsões da conceituada instituição, à qual o governo brasileiro muito se empenha em se associar, com o propósito de validar as suas políticas aos olhos da comunidade internacional, em 2060, estaremos relativamente piores do que hoje.
Neste momento do futuro, a renda dos chineses vai equivaler a 51% da renda dos americanos, a dos indianos a 28,1%, a dos argentinos a 31,6% e a dos sul-africanos a 28,1%. A do Brasil vai ser igual a apenas 27,4%, abaixo de todos esses países emergentes. Temos pela frente um futuro medíocre e sombrio se não mudarmos, e mudarmos muito.
O baixo crescimento do Brasil, que começou em 1980 e, ao que parece, pode continuar ainda por muito tempo, é um enigma que, na minha opinião, só pode ser explicado pelo mal funcionamento das instituições.
Seria enfadonho enumerar as misérias do governo e do Parlamento, mas um novo problema começa a atuar para piorar a vida do país. Falo aqui da judicialização da política e da politização da Justiça. A história começou, é necessário que se registre, com o Partido dos Trabalhadores. Quando ainda oposição e minoritário no Congresso, o partido apelou sistematicamente para os tribunais, com o intuito de reverter derrotas no Legislativo ou de paralisar o governo, dando início a uma confusão institucional que se agravou com o tempo.
Atualmente, a política não está mais restrita geograficamente aos corredores da Câmara e do Senado. Ela se estende aos bastidores dos tribunais, que detêm, muitas vezes, a palavra final em processos exclusivamente políticos. Isto claramente deforma a democracia e provoca desconfiança da sociedade na motivação das decisões judiciais.
Nada contribui mais para esta desconfiança do que o comportamento dos principais atores da Operação Lava-Jato. Por mais méritos que tenha tido ao revelar os subterrâneos da corrupção sistêmica que afligia o Estado brasileiro, a operação produziu efeitos políticos de grande alcance, sendo o principal fator na eleição presidencial, nas eleições de governadores e na formação da Câmara e do Senado. Assim sendo, seus agentes deveriam manter um comportamento absolutamente irrepreensível, para resguardar a imagem social de sua imparcialidade. Não foi o que fizeram.
O juiz Sergio Moro renunciou à magistratura e se tornou ministro do governo que suas decisões ajudaram a eleger e agora se prepara para concorrer à própria Presidência da República, exibindo como capital político suas decisões como juiz. Se as sentenças dos juízes se tornarem corriqueiramente um caminho para a política, não haverá mais Justiça nem Estado de direito. Será a desordem, nada menos do que isto.
Para completar, o líder dos procuradores da operação, com longa carreira à sua frente, decidiu acompanhar o juiz, demitiu-se do cargo, vai se filiar ao mesmo partido e pretende construir na própria política o que tentou fazer impropriamente como agente da Justiça. A triste conclusão é que, se a Lava-Jato no seu início demonizou a política, no seu final demonizou a própria Justiça e vai acabar tornando inocentes os que são, na verdade, culpados.
Com as instituições funcionando deste modo, nosso futuro foge de nossas mãos.