A exoneração do ex-coordenador da Operação Lava-Jato Deltan Dallagnol foi publicada na edição do Diário Oficial da União de ontem. O documento cita que o procurador pediu a saída do cargo e que o posto está vago. Ele renunciou ao Ministério Público Federal (MPF) para apostar em uma carreira política.
O movimento de Dallagnol foi reprovado pelo ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, crítico ferrenho da Lava-Jato. "Alerto há alguns anos para a politização da persecução penal. A seletividade, os métodos de investigações e vazamentos: tudo convergia para um propósito claro — e político, como hoje se revela. Demonizou-se o poder para apoderar-se dele. A receita estava pronta", postou o magistrado nas redes sociais.
Ex-coordenador e porta-voz da Lava-Jato, Dallagnol viveu momentos de destaque na força-tarefa, mas se afastou após denúncias de excessos e da divulgação de mensagens trocadas entre ele, o então juiz Sergio Moro e outros procuradores.
A expectativa é de que Dallagnol dispute uma vaga na Câmara em 2022. Ele deve se filiar ao mesmo partido que Moro, o Podemos. O ex-juiz da Lava-Jato esteve à frente do Ministério da Justiça durante um ano e quatro meses, mas saiu da pasta envolvido em uma série de polêmicas. Ele acusou o presidente Jair Bolsonaro de interferir politicamente na Polícia Federal para proteger seus filhos e aliados.
Agora, Moro pretende concorrer à Presidência da República pelo Podemos, que deve receber, ainda, o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot. O partido já está sendo apelidado de "partido Lava-Jato".
Afastamento
Dallagnol se afastou da coordenação da força-tarefa em setembro de 2020, após seis anos à frente da operação. À época, afirmou que precisaria dedicar mais tempo à filha. No mesmo mês, ele foi punido pelo Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) por postagens publicadas nas redes sociais contra a candidatura de Renan Calheiros (MDB-AL) à presidência do Senado, em 2019.
Para especialistas, o movimento de Dallagnol já era esperado. André Rosa, cientista político, acredita que era a ação mais coerente. "Foi muito mais justo ele partir para a política como Sergio Moro. Ele se comportou como político desde o Powerpoint (em que Lula aparece como chefe de uma organização criminosa). Se você tem certeza de algo, mas não tem provas, é política. Não foi nenhum movimento inesperado", pontuou.
"Tanto Deltan como Sergio Moro viriam como candidatos em 2022. Isso já estava claro. Não vem dar um tiro no escuro, é o grupo antipetista. Ele tem até algumas vantagens ao Moro por não ser atrelado a Bolsonaro. Moro foi ministro de Bolsonaro. Deltan é um player novo e vai conseguir navegar bem nesse caminho."
Já Márcio Coimbra, também cientista político, não vê o Podemos se tornando uma espécie de "partido Lava-Jato" porque a sigla, segundo ele, ainda está construindo uma agenda. "Eu acho que é circunstancial eles (Dallagnol e, possivelmente, Janot) estarem no Podemos, porque o Moro está no Podemos. O partido está para o Paraná assim como o PSD está para Minas Gerais", ressaltou.