Orçamento paralelo

Governo liberou R$ 1,2 bi em emendas um dia antes da votação da PEC dos Precatórios

Governo tentou utilizar o PDT como uma espécie de vitrine para atrair outros partidos de oposição, destinando aos parlamentares da legenda cerca de R$ 200 milhões em emendas

O governo federal liberou R$ 1,2 bilhão em emendas de relator um dia antes da votação da PEC dos Precatórios. O valor repassado a cada parlamentar teria sido de cerca de R$ 15 milhões, e o próprio presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), teria sido o responsável por coordenar as negociações, conforme reportagem do Estadão.

Ao jornal, o deputado Hildo Rocha (MDB-MA) disse que, enquanto esteve no plenário, o governo tentou utilizar o PDT como uma espécie de vitrine para atrair outros partidos de oposição, destinando aos parlamentares da legenda cerca de R$ 200 milhões em emendas. O Correio entrou em contato com o deputado, que confirmou as informações.

Outros parlamentares também alegaram ter ouvido rumores nos bastidores sobre compra de voto, como o deputado Fábio Trad (PSD-MS). Ele votou contra a proposta e disse não ter sido procurado para esse acordo. "Eu, desde o início dessa votação, me posicionei contra por várias razões. A principal é que prejudica professores, aposentados, pobres, pessoas doentes que aguardam há décadas para receber seus créditos", sustentou. "Não recebi nenhum tipo de pressão, abordagem, nada. Mas ouvir dizer, vários ouviram, sem nenhuma prova direta", acrescentou.

Para o cientista político Eduardo Grin, da Fundação Getulio Vargas (FGV), se confirmada a compra de votos, o escândalo contribui, ainda mais, para uma corrosão da democracia que, segundo ele, está sendo causada pelo governo do presidente Jair Bolsonaro. Ele explica que o chefe do Executivo não tem habilidade política para negociar, então, faz sentido, para o governo, liberar recursos e fazer acordos diretos.

"Como os precatórios, ele simplesmente trocou a negociação política pela compra de votos. O que acontece? Mais do que deteriorar a relação democrática, isso reverte a lógica de como funciona um sistema presidencial", comentou. "Nós não temos um parlamentarismo. Cabe ao governo negociar com sua base de apoio. Bolsonaro pode dizer: 'Garanta que não vou perder nas minhas pautas ou sofrer impeachment e, de resto, façam o que quiserem'."

Dificuldade

De acordo com o especialista, "o problema que essa lógica do governo de compra explícita de votos está gerando, fora a questão da corrupção, são os efeitos que isso vai causar no sistema político, bem significativo". "Em 2023, quem quer que seja o presidente, vai enfrentar muita dificuldade institucional por causa dos problemas que se criaram agora", frisou, referindo-se a uma eventual dependência do Centrão para garantir a governabilidade.

 

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