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Bolsonaro faz mais acenos à ultradireita antes de deixar a Itália

Antes de deixar a Itália, Bolsonaro encontra-se com senador Matteo Salvini, apoiador declarado e líder da Liga, partido extremista no país europeu. Em meio a protesto, presidente visita monumento erguido em Pistoia para homenagear brasileiros mortos na Segunda Guerra

Em seu último dia antes de deixar a Itália, em viagem marcada pelo isolamento na Cúpula do G20 no fim de semana, o presidente Jair Bolsonaro participou ontem, em Pistoia, na Toscana, da cerimônia em homenagem aos soldados brasileiros que morreram na Segunda Guerra Mundial. A cerimônia em reverência aos pracinhas brasileiros ocorreu em frente ao Monumento Votivo Brasileiro. No evento, o presidente finalmente se encontrou com dirigente da política nacional italiana que o apoia, o senador Matteo Salvini, líder da Liga, partido de ultradireita.

Assim como ocorreu em outras cidades italianas, Bolsonaro foi recebido em Pistoia por manifestantes contrários e apoiadores. Um pequeno grupo de simpatizantes deu as boas-vindas ao presidente brasileiro no monumento, enquanto cerca de 300 pessoas se reuniram no centro da cidade para protestar contra ele. Salviani lamentou as manifestações contra Bolsonaro na região. "Desculpe, senhor presidente, pela polêmica de poucos que dividem os povos e vêm aqui sem pensar na memória, na coragem. Nossa amizade vai muito além dessas divisões. Pedimos desculpas, portanto, por essas polêmicas."

O presidente acenou ao povo italiano e exaltou a relação entre a Itália e o Brasil. "Ouvi aqui a palavra gratidão. Ela tem mão dupla. Apesar de o Oceano Atlântico nos separar, nos sentimos mais que vizinhos, nós somos irmãos. A todos vocês, nossos irmãos italianos, a minha continência, o meu orgulho de estar aqui, e a satisfação de estarem ao nosso lado ontem, hoje e sempre. Brasil e Itália sempre juntos", concluiu em sinal de continência com a mão direita.

O ministro da Defesa, Braga Netto, disse que "feliz é a nação que reconhece o sacrifício e o altruísmo de seus antepassados em nome de uma causa nobre e comum". "Precisamos cultuar as memórias de nossos heróis e manter vivos os valores e as tradições brasileiras. (...) O conflito foi uma reação do mundo contra os ideais totalitários do nazismo e do fascismo. O Brasil prontamente fez a opção irremediável pela democracia, pela liberdade após os navios mercantes serem afundados na Costa", relatou.

Por fim, bradou o slogan da Força Expedicionária Brasileira (FEB): "A cobra fumou". "Hoje, prestamos culto de respeito, reconhecimento e gratidão, venerando a memória dos heróis que doaram suas vidas a serviço do mundo democrático. Após anos de história, as Forças Armadas se modernizaram e continuam focadas em suas missões constitucionais para superar os desafios de hoje e do futuro. A cobra fumou e, se necessário, fumará novamente". A expressão foi repetida pelo político italiano Matteo Salvini.

Em razão da imagem negativa do presidente Jair Bolsonaro, isolado durante a Cúpula do G20, a presença do senador da ultradireita Matteo Salvini no evento em homenagem aos pracinhas em Pistoia, na Toscana, despertou incômodo inclusive entre os partidos da direita italiana, aliados da Liga, sigla do político. O prefeito da cidade, que é de um partido de direita, e o governador da Toscana, de esquerda, não estavam presentes na cerimônia.

Após os protestos pela presença do chefe do Executivo no local, Salvini criticou manifestações contrárias a Bolsonaro. "Trata-se de uma polêmica incrível, feita até na comemoração dos mortos que perderam a vida para defender nosso país e liberá-lo do nazi-fascismo. É um presidente que foi eleito, de uma república amiga, que veio recordar os soldados. Me desculpo em nome das instituições italianas. A polêmica deve estar fora dos cemitérios", defendeu.

Não é coincidência que a prefeita que concedeu a homenagem de cidadão honorário a Bolsonaro em Anguillara Veneta, Alessandra Buoso, seja filiada ao partido Liga, liderado por Salvini. A sigla herdou a bandeira política defendida por outros partidos de direita e de extrema direita a partir da década de 1980, como o Movimento Social Italiano, fundado por ex-integrantes do regime fascista de Benito Mussolini.
Bolsonaro escolheu participar de poucos eventos oficiais no G20, mas fez questão de agendar o encontro com seu principal aliado na Itália. Apesar de ter falhado em sua tentativa de comandar a Itália, o ex-vice-primeiro ministro Matteo Salvini segue sendo o líder de uma coalizão de centro-direita que comanda 14 das 20 regiões italianas. O político e seus aliados fazem oposição ao atual governo do primeiro-ministro Mario Draghi, que, por sua vez, não recebeu Bolsonaro durante a visita do presidente à Itália.

O vínculo entre o presidente brasileiro e representantes da Liga italiana é uma mostra de como o bolsonarismo se conecta com os movimentos de extrema direita pelo mundo. Nos últimos anos, a aproximação mais evidente ocorreu com o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump. Essa afinidade ideológica não se limita aos discursos.

A realização de motociatas, primeiramente entre grupos conservadores norte-americanos, passou a se repetir no Brasil, como aponta a pesquisa Democracia Sitiada e Extremismo no Brasil: 18 meses de manifestações bolsonaristas, coordenada pela antropóloga Isabela Kalil.

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Outras frentes

Em mais uma tentativa para driblar a ação do YouTube, Facebook e Instagram, que removeram a live do presidente Jair Bolsonaro em que ele fez falsa relação entre vacinas contra covid-19 e aids, um dos filhos do chefe do Executivo, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), publicou, na semana passada, em seu perfil na rede social Gettr, o trecho em que seu pai faz a associação. E afirmou que, "em breve", a rede irá fazer até transmissão de live do presidente.

A Gettr foi criada pelo ex-assessor-chefe de comunicação do ex-presidente Donald Trump. Ao chegar no Brasil, a plataforma teve grande adesão de influenciadores digitais e políticos bolsonaristas. O chefe do Executivo brasileiro e seus filhos têm conta na rede. (com Agências)

Choro e homenagem a pracinhas

Após a execução dos hinos nacionais de ambos os países, durante a homenagem aos pracinhas brasileiros que morreram durante a Segunda Guerra Mundial, o presidente depositou uma coroa de flores, momento seguido de um "toque de silêncio". "Pela primeira vez, estou em solo italiano. Solo este, nesse momento sagrado para nós onde rememoramos aqueles que tombaram em luta por aquilo que é de mais sagrado entre nós: a nossa liberdade", apontou.

Na época da Segunda Guerra, os soldados mortos no conflito foram sepultados no Cemitério Militar Brasileiro na Itália, que abrigou os restos mortais de 462 combatentes entre os anos de 1945 e 1960, quando ocorreu o translado para o Monumento Nacional aos Mortos da Segunda Guerra Mundial, no Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro.

Durante o discurso, Bolsonaro lembrou origens italianas por parte do bisavô e defendeu que "mais importante que a própria vida, é a nossa liberdade". "Esta é a terra também de meus antepassados. Hoje um sétimo da população brasileira, 30 milhões de pessoas, tem origem italiana. Em 1943, um dever nos chamava a voltar para a Itália e lutar por liberdade. Assim, 25 mil soldados brasileiros cruzaram o Atlântico, muitos de origem italiana, e para cá vieram. Dois anos depois, quase 500 brasileiros aqui pereceram, mas a vitória se fez presente. Ouso dizer: mais importante que a própria vida, é a nossa liberdade."

Ainda participaram da cerimônia os ministros Carlos França (Relações Exteriores) e Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional); e o embaixador do Brasil na Itália, Hélio Ramos.
Na segunda-feira, após ter participado do G20 no final de semana, o presidente visitou a Basílica de Santo Antônio de Pádua. Horas antes do passeio, manifestantes contrários ao presidente brasileiro entraram em confronto com a polícia, que usou cassetetes, bombas de gás lacrimogêneo e disparos de jatos d'água para conter o protesto, que acabou com uma mulher presa.

“Emoção muito grande”

Em Pádua, o chefe do Executivo chegou a chorar ao ouvir música italiana que a mãe costuma cantar e reencontrou parentes ao visitar a cidade de Pádua, em Anguillara Veneta, na Itália, local de origem do bisavô paterno. Em uma live ao vivo por meio das redes sociais, o chefe do Executivo se disse emocionado ao encontrar parentes e disse ter sido bem recebido na cidade de seus antepassados.

“Estou aqui em Pádua, origem da família Bolsonaro. É uma emoção muito grande encontrar os parentes. Foi a primeira vez em que estive na Itália, então é bom a gente rever as raízes. Por que meus avós foram para o Brasil? Qual o motivo? Obviamente, foram em busca de dias melhores pela dificuldade que a Itália apresentava no momento. É gratificante. Fui bem recebido e ainda estou sendo”, disse.

Bolsonaro ainda participou de um almoço oferecido em sua homenagem pela prefeita Alessandra Buoso, do partido de ultradireita. O presidente apareceu chorando, emocionado, ao ouvir um cantor interpretar a música Mamma, na Itália, em um vídeo divulgado pelo deputado Major Vitor Hugo (PSL-GO). Segundo ele, sua mãe, dona Olinda Bolsonaro, de 94 anos, costuma cantar a canção desde sua infância. Na imagem, o chefe do Executivo aparece no encontro com parentes distantes na Anguillara Veneta.