Eleições

Doria, o tucano para 2022

Governador vence as prévias do PSDB, desafia Lula em debates e renova as críticas pesadas a Bolsonaro

Cristiane Noberto
postado em 28/11/2021 00:01
 (crédito:  Carlos Vieira/CB)
(crédito: Carlos Vieira/CB)

O paulistano João Doria, 63 anos, é oficialmente candidato ao Palácio do Planalto pelo PSDB nas eleições de 2022. Após um processo que desgastou o partido, o governador de São Paulo venceu a disputa com 53,99% dos votos. Ele ficou à frente do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, que conquistou 44,66% dos votos, e do o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio, escolhido por 1,35% dos votantes. Superada a disputa que explicitou as diferenças entre os tucanos, o maior desafio de Doria é reunificar o PSDB para assumir uma posição relevante na terceira via.

No discurso de vitória, Doria afirmou que o partido saiu fortalecido do pleito. "É o único partido a promover esse amplo processo democrático. O único partido a consultar suas bases, seus filiados, políticos e dirigentes sobre quem deve liderar o processo de mudança do Brasil", explicou.

Doria deixou claro que que focará ataques a Luiz Inácio Lula da Silva e a Jair Bolsonaro. Sinalizou que está aberto para uma eventual negociação com o ex-juiz Sergio Moro, do Podemos.

Ao comentar as prévias, o candidato tucano ressaltou os valores do partido. "Nosso compromisso é com a democracia. E o PSDB entende o processo democrático como uma construção que começa dentro de casa. Dentro do partido. A eleição foi linda. Valorosa!", exclamou Doria.

O escolhido pelo partido agradeceu aos concorrentes. "Não tenho dúvidas de que foi difícil a decisão que cada um de vocês teve que tomar para escolher seu candidato. Eduardo Leite e Arthur Virgílio são meus amigos e do mesmo partido. São homens públicos do mais alto nível, qualificados para comandar qualquer cargo que assim o desejarem. Sempre estivemos do mesmo lado. Do lado do Brasil. Do povo brasileiro. Do lado do PSDB. A partir de agora, Eduardo, Arthur e eu fazemos parte da mesma chapa e estaremos unidos na construção do melhor projeto para o Brasil", disse.

Ao cumprimentar Doria pela vitória, Eduardo Leite também elogiou o sistema de prévias. "Não é o que estamos fazendo, mas como estamos fazendo. A possibilidade de fazer política sem precisar passar por cima de ninguém. Tivemos cerca de 45% dos votos e quero agradecer a todos que somaram, somos um grupo, um projeto e liderança de futuro. Acima de um projeto pessoal está o grupo ao qual a gente pertence; acima desse grupo está um partido; e acima de qualquer outra coisa, temos o nosso Brasil e nós temos um compromisso com o Brasil", disse.

Pouco antes do resultado, o governador tentou contemporizar o mal-estar entre os tucanos. Afirmou que não há desgaste no partido mesmo com o desenrolar dramático das prévias. "Não tem desgastes, só ganhos de energia. As prévias são exercícios para nos dar mais forças para a resistência nas eleições. Um atleta treina para competir, para ter mais resistência quando chegar a hora. A mesma coisa acontece aqui, estamos nos fortalecendo", disse.

Arthur Virgílio alegou que outros partidos não tiveram problemas porque caciques comandam as eleições internas. De acordo com ele, a polarização entre Doria e Leite deve dar lugar ao discurso de unificação. "Eu entendo que a gente vai fazer a primeira campanha de unidade, juntar os discursos, ver o que se aproveita de cada discurso para dar ao João", disse.

Já como pré-candidato do PSDB, João Doria lançou um desafio a Luiz Inácio Lula da Silva. "Lula, se prepare para os debates. Você não terá em mim alguém complacente. O povo brasileiro não esquece a roubalheira do dinheiro público", disse.

O paulista criticou os anos sob gestão petista. "Os governos Lula e Dilma representaram a captura do Estado pelo maior esquema de corrupção do qual se tem notícia no país. A moralidade convertida em roubalheira. Fazer políticas públicas para os mais pobres não dá direito, a quem quer que seja, de roubar o dinheiro público. Os fins não justificam os meios. A péssima gestão da economia com Dilma nos legou dois anos de recessão e desemprego", frisou.

O tucano também atacou o presidente Jair Bolsonaro. "Bolsonaro vendeu um sonho e entregou um pesadelo. Nosso fraterno Brasil se transformou no Brasil da discórdia, da desunião, do conflito, da briga entre familiares e amigos, da arrogância política. Da violência contra a democracia. Dos ataques à imprensa e a jornalistas. Ficamos presos numa armadilha. Um círculo vicioso", criticou.

O governador tucano descreveu a situação econômica. "O desemprego tomou conta do país. O Brasil não cresce, a inflação aumenta, a fome atinge 30 milhões de brasileiros, a renda diminuiu e as reformas não avançaram", enumerou. Até o começo de 2020, Doria era entusiasta do chefe do Executivo. O rompimento veio com a pandemia de covid-19.

Ataques hackers

As prévias do PSDB terminaram ontem, após sucessivos problemas tecnológicos. A primeira empresa contratada para desenvolver o aplicativo foi a Fundação de Apoio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (FAURGS). Mas o sistema funcionou apenas durante uma hora, com o registro de três mil votos.

Seguiu-se, então, uma longa discussão entre os tucanos. O partido decidiu então contratar uma nova empresa, a BeeVoter. Mesmo assim, os problemas continuaram. As tentativas de invasão não cessaram. Só neste sábado, da zero hora às 16h50, o aplicativo de registro de votos do PSDB recebeu cerca de 26 milhões de ataques hackers.

De acordo com Bruno Araújo, a maioria das tentativas de invasão vieram de fora do país. "O Brasil, pelo que estou entendendo, tem uma legislação física, e eles (hackers) acabam usando de países onde esse tipo de crime é menos proibido", explicou o presidente nacional do PSDB.

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