As falhas no aplicativo de votação do PSDB expuseram ainda mais as diferenças e os alinhamentos internos, mas deixaram um consenso entre os três candidatos que concorrem à prévia: concluir esse processo de votação, no mais tardar, em uma semana.
A pressa dos tucanos tem suas razões. Primeiro, como o processo está bastante antecipado, os tucanos querem pegar logo um lugar na mesa dos pré-candidatos fora da polarização entre o presidente Jair Bolsonaro e o petista Luiz Inácio Lula da Silva para poder conversar de igual para igual — por meio de palestras, reuniões em associações comerciais e lançamentos de livros — com aqueles que estão em pleno movimento pela busca dos eleitores.
Nesse sentido, há um receio dos tucanos de que pré-candidaturas como a de Sergio Moro ocupem um espaço grande. E, aí, ficará difícil tirar votos do ex-juiz da Operação Lava-Jato mais à frente.
O consenso entre os pré-candidatos do PSDB, porém, termina aí. O PSDB saiu deste domingo dividido, tenso, com um aplicativo "flopado" e um mar de desconfiança mútua entre seus filiados.
Desconfianças mútuas
O partido está chegando ao ponto de que uma ala não confia na outra. Apoiadores de Eduardo Leite comentavam, no meio tarde, que era preciso resolver logo o processo de votação, de forma a não dar tempo a João Doria, organizado e com recursos, de virar votos daqueles que, hoje, pretendem votar no governador gaúcho.
"Até domingo, Doria faz um estrago", dizia um deputado, na sede do partido, enquanto os comandos das campanhas dos candidatos estavam reunidos — Dória e Arthur Virgílio Neto com seus apoiadores, na sede da representação do governo de São Paulo, em Brasília, e Leite na casa do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE). A avaliação ali é a de que o partido não tem mais recursos para fazer frente ao estilo do governador paulista e é preciso uma solução rápida.
Da parte de Dória e Virgílio, as desconfianças recaem sobre a maioria que Eduardo Leite tem, atualmente, na Comissão Executiva Nacional do PSDB. A ideia é que se resolva tudo entre os candidatos para não deixar que a Executiva dê a palavra final, ou decisão por adiar a prévia para março ou abril.
Pisando em ovos, o presidente do partido, Bruno Araújo, já anunciou que deixará a solução desse problema para os técnicos que se reúnem, logo mais, com ele e os representantes das campanhas dos três pré-candidatos.
Caso o imbróglio do aplicativo não seja resolvido em uma semana, o partido terá que buscar uma outra solução. E é aí que os tucanos racham de vez. Há um grupo que, nos bastidores, se mostra interessado em abandonar essas prévias e convocar uma nova para o ano que vem, quando o cenário de candidaturas estará mais claro.
Luta por poder
Pelo andar da carruagem, a prévia do PSDB, se não for concluída logo, terá como preliminar uma luta pelo comando do partido, com um grupo disposto a empurrar o outro para fora. O grupo de Doria, que joga para ter candidato de fato, desconfia que exista um acordo entre o PSDB de Minas Gerais e o senador Rodrigo Pacheco (PSD) para que uma dobradinha, na qual Leite despontaria como vice do presidente do Senado na corrida presidencial.
O grupo do governador gaúcho, por sua vez, suspeita que Doria, se sair vencedor, terá como um de seus primeiros atos trabalhar para tentar tirar Bruno Araújo do comando nacional da sigla.
No geral, a desconfiança está posta e dificilmente os tucanos vão conseguir construir uma unidade. Também não se quer deixar nada para abril, pois será a hora de o PSDB definir a sua cara — que, hoje, é a imagem da confusão, da falta de consenso e de projeto.
Quanto mais os tucanos demorarem a encerrar esse capítulo, mais essa imagem de bagunça se consolidará. Está aí mais uma das razões pelas quais os tucanos têm uma semana, ou menos, para resolver essa confusão.
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