ORÇAMENTO SECRETO

Governo pagou por votos no Congresso e eleição de Lira, diz Delegado Waldir

Ex-aliado de Bolsonaro, deputado revelou esquema do governo por compra de votos em projetos e pagou R$ 10 milhões para cada parlamentar pela eleição do presidente da Câmara

Luana Patriolino
postado em 20/11/2021 22:28
 (crédito: Cleia Viana/Câmara dos Deputados)
(crédito: Cleia Viana/Câmara dos Deputados)

O deputado federal Delegado Waldir (PSL-GO), ex-aliado do presidente Jair Bolsonaro, expôs que o governo pagou votos dos parlamentares em votações consideradas prioritárias. Uma delas seria a aprovação da reforma da Previdência e a eleição do atual presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL). As declarações foram dadas em entrevistas ao site The Intercept Brasil.

Ex-líder do PSL, Delegado Waldir foi próximo do chefe do Executivo e o deputado federal mais votado em Goiás em 2018. Decepcionado com os rumos do governo, ele revelou como funciona o “orçamento secreto” de Bolsonaro. Ou seja, a troca de votos por emendas de relator.

Segundo o parlamentar, cada deputado recebeu o direito de destinar R$ 10 milhões para suas bases eleitorais pelo apoio à eleição de Lira. Pelo apoio à reforma da Previdência, o montante foi ainda maior: R$ 20 milhões. Ele contou ainda que líderes partidários recebiam o dobro dos demais parlamentares.

"Aconteceu na reforma da Previdência, na eleição do Lira [para a presidência da Câmara] e em mais uma [votação] que não me lembro", disse Waldir. "R$ 10 milhões [por voto em Lira]. E na [reforma da] Previdência, R$ 20 milhões por parlamentar”, afirmou Waldir.

Segundo o parlamentar, inicialmente as verbas negociadas vinham diretamente do orçamento do Executivo — com a indicação de projetos e obras a serem apoiados nos redutos eleitorais dos deputados. Foi assim que foi negociado o apoio da maioria da Câmara à reforma da Previdência.

Posteriormente, com a criação do chamado orçamento secreto, esses valores passaram a sair das emendas do relator. O Supremo Tribunal Federal (STF) suspendeu a distribuição das verbas. Pelo entendimento da Corte, o Congresso Nacional e o governo federal devem adotar medidas de transparência para realizar a distribuição dos recursos.

O deputado goiano diz que a liberação das emendas é negociada pelos presidentes da Câmara, Arthur Lira, e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). "O Lira e o Pacheco têm o controle dos recursos. 'Dei R$ 10 milhões para você, R$ 20 milhões para o Fernando, R$ 30 milhões para o Waldir.' Quem tem esse controle é o assessor de orçamento, o Lira e o Pacheco. Ninguém mais tem", contou.

Waldir afirmou que, hoje, o presidente da Câmara é quem define os rumos do governo no lugar de Bolsonaro. "Ele é quem carrega o governo. Quem manda no governo hoje é o Lira. Não é o Bolsonaro, é o Lira", destacou. A influência de Lira vai dos bolsonaristas à oposição, segundo ele. "Um monte [de parlamentares da oposição recebem], só pegar o povo ligado ao Lira".

Ao Intercept, Arthur Lira disse, por meio de assessores, que só iria se manifestar depois da publicação da reportagem. O Correio entrou em contato com a assessoria do deputado, que não se manifestou até a publicação desta matéria.

 



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