O líder do governo no Senado e relator da PEC dos Precatórios, Fernando Bezerra (MDB-PE), discordou da intenção do presidente Jair Bolsonaro de usar parte do espaço fiscal que será aberto com a eventual aprovação do texto para conceder reajustes a todos os servidores federais. O parlamentar afirmou que o esforço do Congresso em torno da matéria "não é para atender reajuste de servidores e, sim, os mais pobres do Brasil".
A PEC dos Precatórios é a aposta do governo para bancar o Auxílio Brasil de R$ 400, em substituição ao Bolsa Família. O texto, já aprovado pelos deputados, adia o pagamento de mais da metade dos R$ 89 bilhões previstos para serem quitados no ano que vem em precatórios — dívidas da União reconhecidas pela Justiça — e amplia o teto de gastos. O objetivo do Ministério da Economia é abrir uma folga fiscal de R$ 91,6 bilhões no orçamento do próximo ano.
"Eu acho muito difícil (conceder reajuste aos servidores). Nós estamos ainda no início das análises da peça orçamentária do ano que vem e tem muito pouco espaço para atender tantas demandas", argumentou Bezerra. "Têm demandas de reforçar investimentos em áreas sensíveis, importantes, como habitação, estradas, recursos hídricos, irrigação. E tem, certamente, a demanda que parte dos servidores públicos federais de reajuste de salário." O líder do governo destacou que "o cobertor está muito curto". "Acredito que todo esforço que estamos fazendo agora não é para atender reajuste de servidores. O esforço que estamos fazendo agora é para atender os mais pobres do Brasil, que estão sofrendo", acrescentou.
Bezerra disse, também, que concorda com a proposta de um grupo de senadores de tornar o Auxílio Brasil um programa social permanente, e não com vigência apenas até dezembro de 2022, como propõe a PEC original do Executivo. Ele também aceitou deixar mais claro no texto que o objetivo principal é viabilizar o novo programa social.
Pelo segundo dia consecutivo, o líder governista se reuniu com três senadores que apresentaram propostas alternativas à do governo: Alessandro Vieira (Cidadania-SE), Oriovisto Guimarães (Podemos-PR) e José Aníbal (PSDB-SP). Todas elas excluem a possibilidade de adiamento do pagamento de precatórios e defendem o cumprimento do teto de gastos. Ontem, os senadores entregaram a Bezerra uma nova proposta de PEC, que unifica as três anteriormente apresentadas pelo grupo.
O novo texto pretende garantir recursos para o Auxílio Brasil, em caráter permanente, sem prejuízo do pagamento de precatórios. A proposta permite que sejam beneficiados, com o auxílio de R$ 400 por mês, aproximadamente 21 milhões de brasileiros, ao viabilizar cerca de R$ 99 bilhões para assistência social.
Conforme havia antecipado o Correio, a PEC alternativa também pretende acabar com as chamadas emendas do relator (RP9) e de comissão (RP8), que não têm previsão constitucional. Na semana passada, o Supremo Tribunal Federal (STF) confirmou a liminar da ministra Rosa Weber que suspendeu a liberação de verbas das RP9, que têm sido apontadas como um orçamento secreto, utilizado pelo governo para barganhar apoio no Congresso.
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"Absurdo"
Para Alessandro Vieira, "é preciso pensar em alternativas que encerrem de vez com o absurdo aprovado pela Câmara dos Deputados, focando nos problemas que o Brasil enfrenta, de verdade, no Orçamento", frisou (leia mais no Três perguntas para).
Já Oriovisto Guimarães disse que "a PEC dos Precatórios está sendo reconstruída em conjunto, chegando a uma solução clara, para conseguirmos manter o respeito pela responsabilidade fiscal". Segundo ele, "com esse novo texto, estamos oferecendo a oportunidade de o governo criar o benefício de forma sustentável. Podemos ter responsabilidade social sem cometer nenhuma irresponsabilidade fiscal".
Bezerra foi questionado por jornalistas sobre o risco de um eventual retorno da PEC à Câmara, motivado por alterações feitas pelos senadores, inviabilizar o pagamento do Auxílio Brasil, no valor de R$ 400, no mês de dezembro. O líder do governo negou e disse ter recebido do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), a garantia de que os deputados votariam a matéria a tempo de esse valor ser pago no próximo mês.
Ele enfatizou, ainda, que, caso não seja alcançado um acordo em torno de uma nova proposta, a alternativa será submeter à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) o texto aprovado pelos deputados. A votação da PEC dos Precatórios no colegiado está marcada para o próximo dia 24. Já a análise da proposta em plenário, segundo o relator, foi confirmada pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), para o dia 30.
Segundo o relator, o governo estima ter assegurado pelo menos 51 votos para aprovar o texto original da PEC — o mínimo necessário são 49. A oposição, porém, calcula que ao menos 35 dos 81 senadores pretendem votar contra a matéria.
Três perguntas para
Alessandro Vieira (Cidadania-SE), senador
Que soluções essa nova PEC prevê para os precatórios?
Nós apresentamos uma proposta para que, em 2022, o montante correspondente a despesas com decisões judiciais, que são RPVs (requisições de pequeno valor) e precatórios, fique fora do teto de gastos. Que esse valor, estimado em R$ 89 bilhões, fique vinculado ao novo programa de transferência de renda permanente. Assim, não se permite que você vá fomentar medidas paliativas, elas têm de ser permanentes, com a composição do orçamento para a revisão da LOA (Lei Orçamentária Anual) para atualizar benefícios como Previdência e aposentadorias. Além disso, antecipa uma segunda decisão do Supremo (Tribunal Federal), que é a vedação das emendas de comissão e do relator.
O governo concordou em tornar o Auxílio Brasil uma política social permanente. Como avalia?
Já é um avanço, mas é, para nós, muito importante garantir que todo o espaço eventualmente aberto seja reservado apenas para esse tipo de despesa, para poder evitar qualquer tipo de tentação de medidas eleitoreiras, que vão desde aumento para determinadas categorias a obras, enfim, mais emendas do relator, mais gambiarras políticas.
O presidente Jair Bolsonaro quer usar a folga fiscal da PEC para dar reajustes aos servidores federais. O que pensa disso?
Eu não vejo exatamente como uma contradição. Bolsonaro é um presidente irresponsável e populista. A única preocupação dele é com a eleição. Ele não tem nenhuma preocupação com credibilidade, com qualidade orçamentária, com qualidade de gestão. São só medidas aleatórias, desconectadas, que buscam um benefício eleitoral.
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