Voluntários do Movimento dos Trabalhadores sem Teto (MTST) farão um almoço cujo prato principal é acarajé para os moradores da ocupação Carolina de Jesus, no bairro São Mateus, em São Paulo. O evento, agendado para o próximo domingo (21/11), ocorre na esteira da polêmica levantada nesta semana envolvendo a passagem do ator e diretor Wagner Moura pela ocupação. Na ocasião, Moura foi fotografado comendo camarão, item básico na receita do acarajé, o que gerou críticas nas redes sociais.
Além da equipe de realizadores do filme e dos voluntários do MTST, moradores da ocupação Carolina de Jesus também participaram do jantar, com acesso a tudo o que foi servido, inclusive o acarajé. As imagens foram compartilhadas nas redes sociais do movimento e do político Guilherme Boulos, um dos principais nomes do Psol em São Paulo. Logo depois, elas foram usadas para insinuar uma suposta contradição entre as organizações de esquerda no Brasil.
Em entrevista ao colunista Leonardo Sakamoto, do Uol, a chef de cozinha Bel Coelho explica que ‘não é uma reação’, mas uma ação que valoriza a cultura alimentar tradicional do Brasil. Ela é uma das voluntárias do MTST. “Obviamente que há dificuldade de acesso a um camarão tigre, um camarão rosa grande, porque são caros. Mas o camarão seco é uma comida popular e base de muitas receitas da culinária de terreiro”, distinguiu.
Coelho também lembrou a importância religiosa do prato, que faz parte dos ritos das religiões de matriz africana, especialmente o candomblé. “Temos que falar do acarajé, da comida de santo, da cultura afrodescendente e de como ela é fundamental na identidade da cultura alimentar brasileira”, explicou ao Uol.
‘A gente não quer só comida’
A postura da chef é corroborada pelo posicionamento oficial do movimento. Além de data, local e horário do almoço com roda de samba e acarajé, o material de divulgação deixa claro que os camarões foram doados por apoiadores do MTST. Na legenda, os organizadores também parafraseiam a música Comida, gravada pelos Titãs: “a gente não quer só comida, a gente quer comida, camarão e samba”.
Ao longo deste ano, o MTST tem feito diversas ações para protestar contra o avanço da fome no país, além de apoiar ocupações e comunidades carentes. Um desses projetos é o ‘Cozinhas Solidárias’ iniciado em abril de 2021. São 14 pontos de distribuição de marmitas gratuitas espalhados pelo país. A ideia é chegar a 26, em pontos de diferentes regiões periféricas dos centros urbanos. Toda a campanha é feita a partir de doações, tanto de alimento, quanto de dinheiro, via financiamento coletivo.
Entenda a polêmica do camarão
Moura foi fotografado comendo uma marmita de acarajé, depois que Mariguella, seu filme mais recente, foi exibido no local. Personalidades da direita brasileira, como o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL/SP), criticaram a aparente contradição da imagem. Dentre as muitas pessoas que rebateram a posição, esteve a cozinheira do restaurante que fez aquele jantar.
“São recheios de acaraje, que eu levei de forma voluntária cerca de 150 unidades de mini acarajes para distribuir entre acampados e os artistas presentes. Pois faço parte do MTST com muito orgulho”, escreveu Beatriz Alves, do restaurante Acarajazz. No perfil oficial do restaurante, também foi colocada uma mensagem que pede “menos osso e mais camarão” e fala que ver “pobre comendo bem” incomoda mais que a própria fome.
São recheios de acaraje, que eu levei de forma voluntária cerca de 150 unidades de mini acarajes para distribuir entre acampados e os artistas presentes. Pois faço parte do MTST com muito orgulho. #FeNaLuta
— •BIA• (@BiaSoulz) November 13, 2021
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