Acostumado a falar pouco e a medir bem as palavras, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, deixou a "mineirice" de lado durante discurso realizado em um seminário em Portugal ontem. Apontado como uma opção à terceira via política, ele disparou munição contra o presidente Jair Bolsonaro, que buscará a reeleição em 2022, e também a outro possível candidato tido como alternativa, o ex-juiz Sergio Moro, sem mencionar diretamente o nome dos dois.
O presidente do Senado disse que é preciso estar vigilante a "arroubos de retrocesso" à democracia e ao Estado de Direito. Segundo ele, regimes totalitários que se autopromovem costumam ser irresponsáveis e impotentes, além de privarem a liberdade e atacarem os direitos fundamentais. Por isso, enfatizou, é preciso celebrar a conquista histórica da democracia. Apenas a democracia, conforme Pacheco, é o "campo fértil" e o melhor caminho para enfrentar crises. O senador fez palestra inaugural no IX Fórum Jurídico de Lisboa, que tem como tema "Sistemas Políticos e Gestão de Crises" e que é promovido pelo Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP).
Pacheco disse que os Poderes têm que ser harmônicos e se respeitarem, "cada qual cumprindo seu papel, sem pretender ser o outro". No evento em Lisboa, onde também estava o presidente da Câmara, Pacheco disse: "Eu e (Arthur) Lira sabemos que não somos presidente da República. O presidente da República tem que entender que não é presidente do Congresso", afirmou. No evento, repleto de representantes da Justiça, Pacheco completou: "E o Judiciário também tem que saber que não pode interferir no Executivo e no Legislativo". Ele aclarou mais tarde que a fala foi no sentido macro. "Não foi nada direcionado a absolutamente ninguém e a nenhum Poder", acrescentou.
Em um claro recado ao governo de Jair Bolsonaro, o presidente do Senado disse também que, por causa da alta dos preços recente, realmente é preciso elevar o valor do Auxílio Brasil, pago aos brasileiros mais pobres. Ele ressaltou que o arroz, o feijão e a gasolina estão mais caros. "É obrigação atualizar (o valor do benefício) de R$ 180 para R$ 400. O governo não faz favor nenhum com isso", avaliou.
Contra a corrupção
Além de mirar de forma muito clara para o governo Bolsonaro, o presidente do Senado fez duras críticas, sem citar o nome, ao ex-juiz Sergio Moro, que reapareceu no cenário político na semana passada. Os dois são vistos como potenciais alternativas à polarização entre Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na eleição do ano que vem.
"O combate à corrupção não passa por apenas uma pessoa, mas por uma gama de ações", disse, citando exemplos considerados até pequenos, como atividades dentro de companhias. Ele disse também que esse combate não precisa passar por "atos isolados que tendem ao populismo".
No evento, Pacheco também passou por temas como educação e meio ambiente, e enumerou feitos do Congresso.
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