O presidente Jair Bolsonaro prestou depoimento à Polícia Federal sobre o inquérito que apura a suposta interferência do chefe do Planalto para blindar familiares e aliados de investigações. A oitiva foi realizada em Brasília, na noite da última quarta-feira (3), a poucos dias do fim do prazo judicial.
O depoimento ocorreu após determinação do ministro Alexandre de Moraes, relator do caso no Supremo Tribunal Federal (STF). O presidente respondeu às perguntas do delegado Leopoldo Soares Lacerda, da PF. Bolsonaro disse que não interferiu na PF e que trocou o então diretor-geral, Maurício Valeixo, no ano passado, por "falta de interlocução".
No último dia 7, Moraes determinou à PF que ouvisse o chefe do Executivo em até 30 dias. A ordem foi dada após a Advocacia-geral da União (AGU), que representa o presidente, ter desistido de uma ação para que Bolsonaro se manifestasse por escrito. Com o depoimento colhido, a Polícia Federal deverá remeter os autos ao procurador-geral da República, Augusto Aras, que deve decidir sobre uma eventual denúncia do presidente.
Além de mencionar desavenças com a direção-geral da Polícia Federal, Bolsonaro atacou Sergio Moro. Disse que o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública teria condicionado aceitar o delegado Alexandre Ramagem como diretor-geral da Polícia Federal caso fosse indicado para o cargo de ministro do STF. "Ao indicar o DPF Ramagem ao ex-ministro Sergio Moro, este teria concordado com o presidente desde que ocorresse após a indicação do ex-ministro da Justiça à vaga no Supremo Tribunal Federal", disse o presidente em depoimento.
Reunião ministerial
Jair Bolsonaro está na condição de investigado pelo caso que envolve supostas interferências na Polícia Federal. Uma das provas em análise no processo é o vídeo da reunião ministerial ocorrida no Palácio do Planalto em 22 de abril de 2020. No encontro, o chefe do Executivo disse que iria "intervir" na superintendência da corporação no Rio de Janeiro, para beneficiar familiares.
À época, o ministro aposentado Celso de Mello, do STF, retirou o sigilo e permitiu a divulgação do material. Nas imagens, Bolsonaro disse que não iria esperar que a família dele fosse prejudicada. Em outro trecho, o presidente enfatiza que os ministros deveriam concordar com as "bandeiras dele". Uma das ideias é o armamento. O presidente disse querer armar toda a população para que as pessoas pudessem reagir ao que chamou de ditadura.
Moro contesta
O ex-ministro Sergio Moro se manifestou sobre as acusações do presidente Jair Bolsonaro de que teria exigido uma indicação ao Supremo para aceitar o nome do delegado Alexandre Ramagem no comando da Polícia Federal. Por meio de nota, o ex-juiz afirmou: "Jamais condicionei eventual troca no comando da PF à indicação ao STF". E completou: "Não troco princípios por cargos. Se assim fosse, teria ficado no governo como ministro".
A defesa de Moro também ressaltou que foi surpreendida pela notícia de que o presidente da República prestou depoimento à autoridade policial "sem que a defesa do ex-ministro fosse intimada e comunicada oficialmente, com a devida antecedência". Segundo o advogado Rodrigo Sánchez Rios, que defende o ex-juiz, isso impediu o comparecimento de Moro "a fim de formular questionamentos pertinentes, nos moldes do que ocorreu por ocasião do depoimento prestado pelo ex-ministro em maio do ano passado".
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