O procurador da República Deltan Dallagnol renunciou definitivamente ao cargo no Ministério Público para trilhar uma carreira política. Ele pretende disputar uma vaga na Câmara dos Deputados em 2022. Ex-coordenador e porta-voz da Operação Lava-Jato, Dallagnol ganhou notoriedade na liderança da força-tarefa. Mas se afastou após denúncias de excessos e da divulgação de mensagens, obtidas ilegalmente, entre ele, o ex-juiz Sergio Moro e outros procuradores.
Com a decisão, Dallagnol segue os passos de Moro, que deve se filiar ao Podemos na próxima semana. O nome do ex-juiz está sendo cotado para disputar a Presidência da República em 2022. Deltan seria um personagem importante nesse projeto político. Reunidos novamente, desta vez em uma empreitada eleitoral, Moro e Dallagnol precisarão passar a imagem a limpo. E tentar reabilitar a Operação Lava-Jato perante a opinião pública — nos tribunais, ela já sofreu derrotas importantes.
O procurador, por exemplo, tem amargado duras críticas, uma censura do Conselho Nacional do Ministério Público e processos na Justiça. Ele se afastou da coordenação da Lava-Jato de Curitiba, em setembro do ano passado, após sucessivos desgastes.
"Moro e Dallagnol vão tentar resgatar a credibilidade da Lava-Jato, que saiu muito arranhada. O Moro teve as sentenças contra o Lula anuladas no Supremo, e o Deltan saiu desmoralizado", aponta o cientista político Leonardo Queiroz Leite, doutor em administração pública e governo pela FGV-SP.
Viés político
Entretanto, para o cientista político Cristiano Noronha, sócio da Arko Advice, a candidatura de Moro e Dallagnol reforça o discurso de que a Lava-Jato tinha um viés político. "Aumenta o questionamento sobre a independência da Lava-Jato. Dentro do Congresso Nacional, deve aumentar o debate acerca da isenção de membros do MP que eventualmente conduzem esse tipo de investigação", destaca.
Noronha acrescenta que a iniciativa fomenta o debate sobre a quarentena para promotores, procuradores, policiais e juízes que quiserem disputar as eleições. "Justamente para evitar o uso político da função que ocupa", conclui.
O Grupo Prerrogativas, que reúne cerca de 400 juristas, advogados e entidades representativas do direito, reagiu às candidaturas de Moro e Dallagnol. "Tais atos representam a consumação de uma manobra criminosa de aproveitamento político do sistema de Justiça", diz o texto.
O texto condena com veemência a conduta dos dois potenciais candidatos do Podemos. "Sergio Moro violou gravemente a obrigação de imparcialidade a que devem respeito todos os magistrados, como condição elementar de sua atuação. Já Deltan Dallagnol converteu a força-tarefa que coordenava na Lava Jato num sinistro esquadrão dedicado a empreender perseguições políticas sem base legal", acusa o Prerrogativas.
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