O presidente Jair Bolsonaro criticou nesta quarta-feira (3/11) a participação da índigena Txai Suruí, que discursou ontem na abertura da 26ª da Cúpula do Clima em Glasgow, na Escócia. Bolsonaro decidiu não participar do evento e enviou um vídeo.
"Levaram uma índia para substituir o Raoni e atacar o Brasil", disse o chefe do Executivo na saída do Palácio da Alvorada a apoiadores, após retornar de viagem à Itália para participar do G20, em Roma.
"Estão reclamando que eu não fui para Glasgow. Levaram uma índia para lá, para substituir o Raoni, para atacar o Brasil. Alguém viu algum alemão atacando a energia fóssil da Venezuela? Alguém já viu atacando a França porque lá a legislação ambiental não é nada perto da nossa? Ninguém critica o próprio país. Alguém já viu americano criticando as queimadas lá no estado da Califórnia? Não. É só aqui, pô", reclamou.
O presidente ainda relatou protestos dos quais foi alvo durante a estadia na Itália. Ele apontou que foi chamado de "assassino" por um homem, que alegou que o avô morreu em decorrência da covid-19.
"Lá na Itália eu fui muito bem recebido lá. Mas teve uma passagem lá, um cara de 40 anos de idade chegou para mim no meio de um monte de gente: 'A história vai te condenar'. Por qual motivo? 'Você matou o meu avô'. Pô, cara, eu não sabia. Desculpa aqui. O que foi? Bala perdida? 'Não, covid'. Parece que só no Brasil que morreu gente. Se ele tinha uns 40 anos de idade, o avô dele tem uns 80. Grupo de risco", justificou.
"Lá na beira do hotel, também, tinha duas pessoas gritando igual louco. Tinha mais de mil falando comigo, duas gritando feito louca. Falei: 'Quer conversar? Vem conversar'. 'Não, não quero ficar perto de você, fascista!'. Nós fomos à Itália em 1943 combater o fascismo", riu.
Bolsonaro ainda comentou encontro com Matteo Salvini, senador italiano de extrema direita, que se desculpou com o presidente por protestos na região. Eles participaram ontem de uma homenagem em Pistoia aos soldados brasileiros que morreram na Segunda Guerra Mundial. Ao citá-lo, no entanto, ele trocou o sobrenome do parlamentar por "Salvatti".
"E também teve lá o Salvatti, senador da Itália, também estava lá. Fora, tinha umas 100 pessoas, um pouco mais, protestando contra mim com bandeira do MST. Impressionante", ironizou.
Porém, segundo o titular do Planalto, "o que tinha de bandeira do Brasil também, era muita coisa".
A vida é desafio
Em discurso na COP26, Txai Suruí citou os ensinamentos do pai em ouvir a natureza, disse que os indígenas possuem "ideias para adiar o fim do mundo" (título de um dos livros de Ailton Krenak) que devem ser ouvidas. Ela encerrou o discurso com um verso da canção A vida é desafio, dos Racionais MCs: "É necessário sempre acreditar que o sonho é possível".
O discurso foi feito diante de mais de 100 chefes de Estado. Aos 24 anos, Txai foi a única indígena da América Latina e única brasileira na abertura da COP-26, ao lado de líderes como o presidente americano Joe Biden e o premiê britânico Boris Johnson. "Os líderes precisam saber que o que estamos vivendo na Amazônia também é responsabilidade deles", disse ela.
Os pais da indígena, o cacique Almir Suruí e a indigenista Neidinha Suruí — duas das lideranças indígenas mais conhecidas no país — são constantemente ameaçados de morte por garimpeiros e grileiros que invadem terras indígenas.
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