G20

Para 'mostrar realidade brasileira'

O presidente Jair Bolsonaro participa, a partir de hoje, em Roma, do encontro dos líderes das 20 maiores economias do mundo, o G20. O evento será uma espécie de prévia da Conferência das Nações sobre Mudanças Climáticas (COP26), que ocorrerá na Escócia, mas também devem ser discutidas pautas comerciais, especialmente em reuniões bilaterais.
Bolsonaro viajou com os ministros da Economia, Paulo Guedes; do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno; das Relações Exteriores, Carlos França; do Meio Ambiente, Joaquim Leite; e da Cidadania, João Roma.
Augusto Heleno afirmou que o objetivo do governo no G20 é “mostrar para a Europa a realidade brasileira, não o que ficam inventando”. Para ele, a imagem do país é maculada por motivos comerciais. O ministro citou como exemplo o que chamou de exagero sobre números do desmatamento. “Se fossem verídicos os dados que são divulgados, já teríamos desmatado o Brasil inteiro”, alegou.
Depois das agendas na capital italiana no fim de semana, o presidente não participará da COP26. Ele vai receber o título de cidadão honorário do município de Anguillara Veneta, na província de Pádua, região de origem de seus familiares. A homenagem foi proposta pela prefeita do município, Alessandra Buoso, e causou muitas críticas. Ontem, a prefeitura foi alvo de protesto com esterco e tinta.
A Diocese de Pádua também protestou contra o presidente brasileiro. Em nota, disse que “a concessão da cidadania honorária criou um grande constrangimento para nós” e que não é possível ignorar “as muitas e fortes vozes de sofrimento que cada vez mais nos alcançam”.
Segundo o secretário de Comércio Exterior e Assuntos Econômicos do Itamaraty, Sarquis José Sarquis, serão tratados, no encontro do G20, assuntos sobre economia e saúde global, mudanças do clima e desenvolvimento sustentável.
“Eles terão uma discussão dividida, estruturada em três sessões. A primeira, sobre economia global e saúde global. A segunda, a respeito de mudança do clima e meio ambiente. A terceira, desenvolvimento sustentável. Também terão trocas informais de impressões, comentários sobre dois grandes temas que estarão em eventos paralelos, que tratarão de apoio a pequenas e médias empresas comandadas por mulher”, disse o secretário, durante entrevista à Voz do Brasil. Outro evento paralelo, segundo Sarquis, será a respeito do papel do setor privado na luta contra a mudança do clima.
De acordo com Sarquis, também haverá discussão sobre um comércio internacional com menos barreiras tarifárias. Além das reuniões do G20, Bolsonaro e os ministros vão participar de encontros bilaterais.

Isolamento

Leandro Gabiati, professor do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB), lamenta que o Brasil chegue à nova reunião do G20 em um momento de crescente isolamento internacional. “O governo não tem uma linha clara de política externa, não priorizou a atuação internacional. O governo Dilma Rousseff (PT) foi muito na mesma linha, se você comparar com o ex-presidente FHC (Fernando Henrique Cardoso, do PSDB) e o ex-presidente Lula (PT), em que a política externa do Brasil tinha um papel importante. Mas nem o governo Dilma nem o de Temer tiveram uma definição de prioridade para a política externa”, avaliou.
Segundo ele, em razão dessa falta de prioridade, o Brasil perdeu espaço em todos os polos internacionais em que sempre foi uma referência. “O G20 é prévia da COP26 de Glasgow. Logicamente, o assunto dos líderes será o meio ambiente. O presidente tem reclamado muito das críticas internacionais que o Brasil recebe. Esse argumento a gente tem de concordar, independentemente de concordar ou não com a linha argumentativa”, disse o docente. “Bolsonaro vai para o G20 pedir dinheiro, ou seja, se você quer que o Brasil implemente políticas de meio ambiente, nós precisamos de verba das potências. Ele vai para rebater críticas e defender a atuação do Brasil na área de preservação ambiental”, acrescentou Gabiati. (Jorge Vasconcellos, Raphael Felice, Ingrid Soares e Tainá Andrade)