A Executiva Nacional do PSDB decidiu, ontem, desconsiderar os votos de 92 prefeitos e vices de São Paulo recentemente filiados à legenda nas prévias que vão escolher o candidato do PSDB à Presidência da República. Partidários do governador gaúcho Eduardo Leite contestaram as filiações feitas pelo governador paulista João Doria, no rastro da entrada do vice Rodrigo Garcia, que deixou o DEM para ser o candidato tucano ao Palácio dos Bandeirantes.
A Executiva confirmou decisão do presidente da legenda, Bruno Araújo (PE), que havia acolhido denúncia de que o diretório de São Paulo havia alterado a data das filiações para que os prefeitos e vice aliados de Doria participassem das prévias. O ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio, que também concorre às prévias, apoiou a decisão da Executiva. O diretório estadual do PSDB em São Paulo negou as irregularidades. A denúncia fora apresentada pelos diretórios de Rio Grande do Sul, Bahia, Ceará e Minas Gerais. Todos já declaram apoio a Leite.
A decisão acirra ainda mais a disputa no ninho tucano, que virou um jogo bruto nos bastidores e deve deixar muitas sequelas. Pelas regras das prévias, apenas filiados até o dia 31 de maio podem votar. De fato houve “filiação em bloco” em São Paulo após a data limite, mas as adesões refletem inequivocamente o crescimento da legenda, em razão da entrada de Garcia no PSDB. Partidários de Doria alegam que as filiações foram anunciadas após o prazo em razão do falecimento do então prefeito de São Paulo Bruno Covas, cujo luto provocou 60 dias de interrupção de atividades partidárias.
Comum nos partidos Democrata e Republicano dos Estados Unidos, as prévias do PSDB são uma inovação decorrente da disputa instalada na cúpula tucana pelo controle da legenda, desde as últimas eleições, principalmente entre o governador João Doria e o deputado Aécio Neves, ex-governador de Minas. Doria chegou a propor, sem sucesso, a expulsão do político mineiro. Entretanto, em dificuldades para alavancar sua candidatura eleitoralmente, confinado em São Paulo por causa da pandemia e com sua liderança muito confrontada por Aécio, o governador de São Paulo acabou desafiado por outras lideranças, como o senador Tasso Jereissati, que desistiu da candidatura, e o governador Eduardo Leite, que cresceu muito junto aos setores descontentes.
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As prévias
As prévias da legenda, desde sua convocação, são polêmicas. Doria queria uma espécie de voto direto, secreto e universal entre os filiados, o que daria enorme vantagem ao diretório de São Paulo, o berço da legenda e sua fortaleza até hoje, mas a cúpula tucana decidiu ponderar a relação entre filiados e mandatários. Serão quatro grupos de votantes, todos com peso unitário de 25% do total de votos válidos: (1) filiados, (2) prefeitos e vice-prefeitos, (3) vereadores, deputados estaduais e distritais (deputados representam 50% do peso do grupo, e vereadores, os outros 50%); e (4) governadores, vice-governadores, ex-presidentes e o atual presidente da Comissão Executiva Nacional do PSDB, senadores e deputados federais. Mandatários poderão votarão presencialmente, em Brasília, em urnas eletrônicas; vereadores e filiados votarão virtualmente, por aplicativo.
A disputa no ninho tucano virou um jogo de xadrez, com resultado imprevisível. A exclusão dos 92 prefeitos e vice prefeitos pode, sim, alterar o resultado final. Eduardo Leite já está sendo apontado como favorito pela maioria dos líderes históricos do PSDB. Qualquer que seja o resultado das prévias, a possibilidade de um racha no PSDB é muito grande. O governador de São Paulo movimenta-se como um candidato sem retorno ao Palácio dos Bandeirantes, pelas alianças que teceu em torno de Rodrigo Garcia. Se perder, sua linha de recuo para concorrer à reeleição é muito estreita, embora exista. No campo de Eduardo Leite, a pré-disposição para cristianizar Doria também é grande, principalmente em Minas Gerais, na Bahia e no Ceará.
Quem quer que seja o vencedor das prévias, internamente, terá que fazer um esforço muito grande para acomodar os descontentes, principalmente em nível regional; em alguns casos, isso será impossível. Externamente, o ganhador terá que fazer um movimento muito robusto para ampliar suas alianças e criar um fato político novo, o que não é fácil, haja vista que os possíveis aliados estão lançando seus próprios candidatos e nenhum dos tucanos, até agora, decolou nas pesquisas.