O senador Roberto Rocha (PSDB-MA) foi alvo de críticas, na tarde desta terça-feira (26/10), ao repudiar a escolha do governo do Maranhão em convidar o influenciador homoafetivo Alex Brito, de 16 anos, para estrelar a campanha de lançamento da nova plataforma de educação do estado. O parlamentar afirmou que a peça era uma “apologia a homossexualidade”.
Alex, também conhecido como Bota Pó, é de Bacabal, interior do Maranhão, e tem quase 500 mil seguidores nas redes sociais. Ele é referência para os adolescentes do Maranhão e de outros estados do país, e já foi reconhecido e seguido por personalidades como Pablo Vittar, Juliette e Thaynara OG.
No post, o senador publicou o vídeo da campanha e, na legenda, pareceu desconhecer a notoriedade de Bota Pó ao dizer que o governo do Maranhão deveria ter escolhido como garoto propaganda “um maranhense que tenha se destacado em alguma área” e não “um jovem homossexual assumido fazendo o papel de menina”.
“Agora, analisando friamente, para que isso? Qual a necessidade disso? É apologia a homossexualidade ou não?”, indaga o parlamentar. “Lamentável essa situação na qual passamos. Nada contra a opção sexual de alguém. Agora querer obrigar a aceitação desta opção de alguns como regra e apologia a prática homossexual isso não dá pra aceitar. Cartão vermelho para Flávio Dino”, encerra o senador.
Assista a campanha:
Postagem teve reação imediata da internet: "Precisa ser responsabilizado"
O comentário foi recebido com indignação pela internet. No Twitter, um movimento foi feito para denunciar o post. Fãs e outras pessoas que conhecem o trabalho do influenciador defenderam a campanha e repudiaram a atitude do senador.
No Instagram, a influenciadora maranhense Thaynara OG publicou um story de apoio à Alex e lamentou que o comentário homofóbico tenha sido feito por um político. “Esses comentários homofóbicos disfarçados de 'opinião' machucam muito. Ainda mais quando vem de alguém que tá ali para representar seu povo”, disse.
“Reconhecer o preconceito é o 1º passo para mudar a sociedade. A importância da escolha da Bota Pó pra campanha é gigante! Isso é um avanço na representatividade, em busca de um ambiente escolar cada vez mais igualitário. Botinha, conte comigo pra tudo! Eu me orgulho muito de você e você representa muito bem o Maranhão. Conte com a tia Thay pra TUDO”, frisou Thaynara.
Bota Pó usou o Instagram para comentar o ocorrido. “Aceitar é uma escolha sua, respeitar é o dever de todos. #Eutenhoorgulhodemim”, escreveu em um story. Em outra publicação, agradeceu ao carinho de quem a defendeu. Alex também compartilhou um vídeo publicado no último sábado (23/10), no qual narra a trajetória de se autoconhecer e o orgulho de ser quem é. Confira:
O post saiu do ar por volta das 17h. O Correio entrou em contato com o Instagram para saber se o post foi derrubado, mas até o momento do fechamento dessa matéria não obteve resposta.
O que diz o governo do Maranhão
O governo do Maranhão se posicionou, por meio do perfil do Twitter da Secretaria Estadual de Direitos Humanos e Participação Popular do Maranhão. “Lamentável e cruel o posicionamento do senador Roberto Rocha que destila ódio, homofobia e transfobia contra uma adolescente maranhense”, escreveram.
“Ao invés de se preocupar com os problemas reais do país como a fome, a miséria e o desemprego, por exemplo, ataca a campanha da Educação do Maranhão, que valoriza uma das personagens maranhenses adolescentes que é destaque no país com a sua arte, tentando jogar a população contra as políticas de educação no estado do Maranhão”, pontuou.
A secretaria reafirma o orgulho de ter Bota Pó na campanha e pede respeito ao senador. “Botá Pó na nossa campanha estadual de Educação é uma belíssima mensagem sobre direitos humanos, inclusão, respeito e de combate a LGBTfobia aos maranhenses. Respeite, senador”, escreveram.
Veja abaixo o posicionamento completo:
“Lamentável e cruel o posicionamento do senador Roberto Rocha que destila ódio, homofobia e transfobia contra uma adolescente maranhense. Ao invés de se preocupar com os problemas reais do país como a fome, a miséria e o desemprego, por exemplo, ataca a campanha da Educação do Maranhão, que valoriza uma das personagens maranhenses adolescentes que é destaque no país com a sua arte, tentando jogar a população contra as políticas de educação no estado do Maranhão.
A Bota Pó não é “um jovem fazendo papel de menina”, mas uma adolescente que está vivendo o seu gênero e sua sexualidade e pra isso exige respeito e liberdade.
Sim, uma adolescente trans, protagonista da nossa juventude, que traz em sua vida e história uma mensagem política: a escola não pode ser lugar de exclusão. Queremos um Estado para todes, por isso a escola dignas tem que ser inclusivas e sem preconceitos.
Botá Pó na nossa campanha estadual de Educação é uma belíssima mensagem sobre direitos humanos, inclusão, respeito e de combate a LGBTfobia aos maranhenses.
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Respeite, senador.”
“Discurso de ódio”, define especialista sobre episódio
A doutora em comunicação pela Universidade de Brasília (UnB) e pesquisadora de gênero e estudos étnico-raciais Kelly Quirino classificou o post do senador Roberto Rocha como discurso de ódio. Para ela, essa é a forma de pessoas LGBTQIAfóbicas forçarem um retrocesso na luta por direitos da comunidade LGBTQIA+.
“ O discurso dele é para que as pessoas voltem para o armário, que foi, no século 20, sinônimo de opressão da comunidade LGBTQIA+. Mas hoje eles têm consciência de que podem ser felizes, vão reivindicar a representatividade em todos os espaços”, declara. “E eles sabem que a partir dessa coragem de lutar e permanecer, irão ajudar outras pessoas também nesse sentido. O Alex está disposto a comprar essa briga em nome de uma luta histórica LGBTQIA+”, frisa.
Para ela, o senador comete apologia a LGBTQIAfobia e mostra não estar aberto ao diálogo. “Uma pessoa que não se propõe a estudar a história da LGBTQIA no mundo, a luta por direitos, a luta pela garantia à vida. Fica muito claro que o Roberto Rocha não quer entender a partir de outro prisma, ele quer ficar na perspectiva heteronormativa e não quer avançar no debate”, afirma e completa: “A crítica dele mostra como o patriarcado estrutura nossa sociedade e a heteronormatividade, que faz com que as diferenças não sejam aceitas”.
A doutora em comunicação frisa ainda que a escolha do governo do Maranhão é um avanço para a representatividade em outros núcleos, como a educação. “É muito importante que, no país que mais mata LGTQIA+ no mundo, tenha um garoto de 16 anos na campanha. Várias jovens homossexuais sofrem todos os dias por não se sentirem pertencentes à sociedade, porque são discriminados, rejeitados e violentados”.
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