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Bolsonaro sente golpe e faz Guedes pressionar Pacheco

"Um dia depois de o presidente do Senado ter se apresentado em evento do PSD e ter sido instado pelo partido a disputar o Planalto, ministro é escalado pelo presidente para cobrar a aprovação das reformas e a não fazer "militância"

Um dia após o PSD ter “convocado” Rodrigo Pacheco para concorrer à Presidência da República pela sigla, Jair Bolsonaro deu sinais de ter ficado muito incomodado com a manobra política protagonizada pelo presidente do Senado. Tanto que, ontem, escalou o ministro da Economia, Paulo Guedes, para cobrar do parlamentar mineiro a tramitação de reformas importantes para o governo — como a do Imposto de Renda, já aprovada pela Câmara — que está no Senado. Verbalizando as preocupações do presidente, Guedes foi mais longe: exigiu de Pacheco que não faça “militância” e exortou-o a ajudar o governo na aprovação das reformas.

“Nós esperamos que o presidente do Senado avance com as reformas. Se ele se lança a presidente da República agora, se ele não avançar com as reformas, como é que ele vai defender a própria candidatura? Ele não pode fazer militância também, e eu tenho certeza de que não vai fazer”, disse, na saída de uma feira de criadores de passarinhos, no Parque de Exposições da Granja do Torto, em Brasília.

Nem Guedes nem Bolsonaro comentaram as alfinetadas dadas por Pacheco no evento do PSD, sábado, no Rio de Janeiro. Ele criticou o Auxílio Brasil e o “auxílio diesel”, anunciados pelo presidente da República, por faltarem aos dois benefícios indicação da fonte de custeio e por romperem o teto de gastos. O presidente do Senado expôs, ainda, a necessidade da responsabilidade fiscal diante de ofertas temporárias e defendeu programas sociais fixos. Com histórico de conciliador, Pacheco é visto por Bolsonaro como capaz de unir a terceira via e tirá-lo do segundo turno das eleições. Por isso, a ênfase que Guedes deu no discurso em relação ao presidente do Senado.

Guedes também atacou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que defendeu, no início da semana, o valor de R$ 600 para o Auxílio Brasil. “Tem muito populista aí, inclusive candidato à Presidência, falando em R$ 600, R$ 700, R$ 800. Eles quebraram o Brasil e não taxaram os super-ricos. Quebraram o Brasil e não fizeram nada sobre essa roubalheira”, criticou, sem citar o nome do petista.

Decisões difíceis

O ministro reafirmou o estouro do teto como forma de implementar os programas sociais do governo, pois faz parte das “decisões políticas muito difíceis” que Bolsonaro é obrigado a tomar e que, “se ele (o presidente) respeita o teto, deixa 17 milhões de famílias passando fome”. Segundo Guedes, a política “pressiona o presidente”.

Ele aproveitou para rebater as críticas ao presidente de que o Auxílio Brasil é populista e visa à reeleição. “O presidente da República sempre apoiou as reformas. Ele é um político popular, mas ele está deixando a economia ser reformista. Ele não é um populista”, justificou.

A reforma administrativa, salientou o ministro, é uma importante ferramenta para a economia do país e que, portanto, tem que ser aprovada no Congresso. “Ele (Bolsonaro) podia pegar todo esse discurso da fome e dizer: ‘Olha, vou fazer orçamento paralelo, vou fazer um orçamento de guerra’. Igual foi feito ano passado. Ele não é populista, ele não está fazendo isso. Está pedindo o seguinte: como é que a gente resolve? A economia está dizendo para ele: vamos avançando com as reformas. Se fizermos a administrativa, economizamos R$ 300 bilhões. Então, qualquer pessoa vai entender: ‘eles realmente empurraram um pouquinho mais aqui o teto, mas, em compensação, gastaram R$ 30 bilhões e economizaram R$ 300 bilhões. Então, eles estão fazendo o dever de casa”.

Guedes ainda atacou economistas que criticaram o rompimento do teto de gastos, como Henrique Meirelles — secretário de Fazenda do estado de São Paulo —, responsável pela criação da medida durante o governo do presidente Michel Temer. “Meirelles é candidato e está à disposição para qualquer governo. Fez o teto e saiu correndo. Ele trabalha para qualquer partido, a qualquer momento, em qualquer lugar, a qualquer hora. Ele está sempre à disposição”, atacou.


"Nós esperamos que o presidente do Senado avance com as reformas. Se ele se lança a presidente da República agora, se ele não avançar com as reformas, como é que ele vai defender a própria candidatura? Ele não pode fazer militância também, e eu tenho certeza de que não vai fazer”

Paulo Guedes, ministro da Economia

Negativa enfática de populismo

Mais numa vez ao lado do ministro Paulo Guedes — tal como fizera na última sexta-feira, quando compareceu à sede do ministério para deixar claro que o apoia na condução da economia —, o presidente Jair Bolsonaro negou visar à reeleição por meio dos programas sociais em elaboração pelo governo, como o Auxílio Brasil. Conforme enfatizou, é obrigação do Poder Executivo cuidar dos mais vulneráveis, sobretudo num momento de grave crise por conta da pandemia de covid-19.

“Lamentamos a situação que se encontra o pobre no Brasil, passando dificuldade. Tanto é que estamos socorrendo essas pessoas mais pobres, como socorremos no ano passado. Não estamos aqui lutando por 2022. Não se toca no assunto. Tanto é que, até o momento, nem partido eu tenho. É o Brasil que está na frente. Todos nós estamos exatamente no mesmo barco. Todos nós quem? Nós, 210 milhões de brasileiros”, justificou.

Bolsonaro aproveitou para, novamente, reafirmar seu apoio a Guedes. Segundo o presidente, os dois sairão juntos, “bem lá na frente”. Bolsonaro voltou a elogiar a gestão do chefe da Economia. “Paulo Guedes eu conheci praticamente um ano antes da eleição. Deposito total confiança nele. Trabalho excepcional em 2019 e, principalmente, em 2020”, repetiu.

Combustíveis

Diante da possibilidade de uma greve de caminhoneiros ser deflagrada no próximo dia 1º — um grupo que representa a categoria exige o controle do preço do diesel, além de outras promessas feitas pelo governo, como isenção de pedágio e preço mínimo do frete —, Bolsonaro deixou claro que não interferirá no preço dos combustíveis. “Não tenho poderes de interferir na Petrobras. Estou conversando com o Paulo Guedes sobre o que fazer com ela no futuro. É um monopólio, a legislação a deixa praticamente independente. Eu indico o presidente, nada além disso. Alguns querem que a gente interfira no preço. A gente não vai interferir no preço de nada. Isso já foi feito no passado e não deu certo”, lembrou, acrescentando que os governadores são os maiores responsáveis pelos aumentos. “O sacrifício tem que vir de todas as partes”.

Aos caminhoneiros, ele mandou um recado para quem desdenhou do chamado “auxílio diesel”, de R$ 400, que seria pago a aproximadamente 750 mil autônomos. “Sabemos que é pouco R$ 400 por mês, mas estamos fazendo isso tudo no limite da responsabilidade fiscal”, disse.

Ainda sobre a Petrobras, defendeu a privatização da estatal como uma possível saída contra a flutuação dos derivados de petróleo, pautada pelos preços internacionais. Mas lembrou a “burocracia” do processo de venda.

“Não é botar na prateleira e tudo bem. Não, é complicada a situação. Teríamos privatizado muito mais coisa se não fosse essa burocracia. A Petrobras está amarrada por leis, as mais variadas possíveis”, observou. (IS)