Política econômica em risco

Fernanda Fernandes Luana Patriolino Vera Batista » Raphael Felice

Apesar das divergências com a ala política — que tem comandado, também, as decisões econômicas —, o ministro da Economia, Paulo Guedes, deixou claro que está totalmente envolvido no projeto de reeleição do presidente Jair Bolsonaro. Tanto que avalizou a iniciativa do governo de mudar a regra do teto de gastos para bancar o Auxílio Brasil de R$ 400.


A postura de Guedes deixa economistas pessimistas em relação ao futuro da política econômica do governo. “A anarquia fiscal acabou de ser instalada com as medidas para criar o Auxílio Brasil com a conivência do Congresso. Um grande risco para o futuro econômico da nação, gerando inseguranças que refletirão nos diversos indicadores econômicos”, alertou o economista Cesar Bergo.


Eduardo Moreira, empresário e ex-banqueiro de investimentos, é taxativo ao dizer que a tendência do mercado é de apostar na piora do cenário econômico. “O que se vê é populismo ao extremo, com interesses eleitoreiros, apoiado pelo Centrão. Todos vão pedir um pouquinho. Daqui em diante, tudo vai depender de quanto tempo Guedes vai ficar e de quem vai assumir o lugar dele. Será que alguém com credibilidade aceitaria a tarefa?”, indagou.


Gil Castello Branco, secretário-geral da Associação Contas Abertas, lembrou que agentes econômicos esperam previsibilidade, estabilidade, planejamento e responsabilidade fiscal. “A irresponsabilidade fiscal tem perna curta. O rombo no teto não objetiva, apenas, ampliar um programa social. Às vésperas do ano eleitoral, virão gastos políticos, inclusive as malfadadas e bilionárias emendas de relator”, criticou.


Para o economista Helio Zylberstajn, da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), “furar o teto dos gastos significa perda de credibilidade, instabilidades no câmbio, aumento da dívida pública e dos juros. E mais sofrimento para a população”.


Da mesma forma, o economista Roberto Ellery, professor da Universidade Federal de Brasília (UnB), prevê dias difíceis. “A situação da economia, que já estava ruim, tende a piorar com o desmonte do teto”, afirma. Na avaliação dele, o que poderá trazer algum alívio é a proposta da reforma do Imposto de Renda (IR). A calmaria, no entanto, será temporária. “A aprovação da reforma do IR pode colocar uma fonte de recursos, mas não resolve o problema do teto”, afirma Ellery. Porém, o PL 2337/21, que reforma do IR, deverá ser votado somente no próximo ano, segundo o relator, senador Angelo Coronel (PSD-BA).