O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, expediu, ontem, uma ordem de prisão e extradição do blogueiro bolsonarista Allan dos Santos, dono do canal Terça Livre. A decisão foi tomada no dia 5, a pedido da Polícia Federal, apesar de a Procuradoria-Geral da República não concordar com a solicitação. O Ministério da Justiça e Segurança Pública foi oficiado para extraditar o militante de extrema direita, que, hoje, vive nos Estados Unidos com a família. O visto de turista dele estaria vencido.
De acordo com a decisão, o nome de Allan deve ser incluído na lista de Difusão Vermelha da Polícia Internacional (Interpol). O blogueiro bolsonarista é alvo de dois inquéritos no Supremo: o das fake news e o das milícias digitais — ambos investigam a existência de um grupo organizado com o objetivo de atacar as instituições democráticas e disseminar desinformação nas redes sociais.
Em outra decisão, dada no último dia 6, Moraes acolheu pedido da PF, encampado pelo Ministério Público Federal, e determinou a quebra de sigilo telemático e de transações financeiras de Allan. Os dados deverão compreender o período de 1º de janeiro de 2020 até a data do despacho.
Em 8 de outubro, a PF encaminhou ao Supremo a íntegra das investigações no âmbito do inquérito das milícias digitais. Constam nos documentos ações de Allan, como a tentativa de influenciar o presidente Jair Bolsonaro e os parlamentares da base aliada a darem um golpe de Estado durante as manifestações realizadas entre abril e maio de 2020.
Crimes frequentes
Na representação ao Supremo, a delegada da PF Denisse Ribeiro pede a prisão preventiva de Allan com base na prática frequente dos crimes de ameaça, ataques contra a honra, incitação à prática de crime e participação em organização criminosa. “(Allan) integra organização criminosa voltada à prática dos crimes de ameaça, incitação à prática de crimes, calúnia, difamação, injúria e outros, com o objetivo de auferir vantagem econômica oriunda da monetização e de doações e tendo como consequência a desestabilização do Estado Democrático de Direito”, destacou.
A delegada afirma que o blogueiro tem migrado a atuação criminosa nas redes sociais para ações práticas “na articulação com agentes públicos e políticos nacionais e estrangeiros, sempre utilizando a aparência de cobertura jornalística para validar seu discurso”. “Reiteradamente produz e difunde conteúdos que demonstram aderência voluntária ao mesmo modo de agir da associação especializada ora investigada, focada nos mesmos objetivos: atacar integrantes de instituições públicas,
desacreditar o processo eleitoral brasileiro, reforçar o discurso de polarização”, salientou a delegada.
Segundo Denisse, ao afirmar que houve fraudes nas eleições americanas, embora sem conseguir provar, Allan revela a interlocução direta com pessoas envolvidas na invasão ao Capitólio, em Washington, no último 6 de janeiro. A delegada afirma que o blogueiro atuou para trazer ao Brasil as alegações infundadas de manipulação no sistema eleitoral, que Bolsonaro defendeu até o recuo pós-7 de Setembro.
Ao aceitar o pedido da PF, o ministro critica a manifestação da PGR, contrária à preventiva. “O que se observa, na verdade, é o crescimento do protagonismo de Allan Lopes dos Santos dentro da organização criminosa investigada, com arrecadação de dinheiro e propagação ampla de ataques ao Estado Democrático de Direito”, registrou. (Colaboraram Luana Patriolino e Fabio Grecchi)