LUTO

Sessão da CPI da Covid deu nome para vítimas do vírus

Em vários momentos, na sessão desta segunda-feria (18/10), parlamentares e outras pessoas presentes foram às lágrimas com os relatos de vítimas da covid-19

A sessão de ontem da CPI da Covid foi dedicada às pessoas que perderam algo que não tem preço: a vida de um ente querido. Emocionados, os parentes de vítimas da covid-19 relataram as experiências pessoais durante a crise sanitária. Em vários momentos, parlamentares e outras pessoas presentes à sessão foram às lágrimas. O presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), se disse solidário com as vítimas. Ele reiterou que o objetivo da comissão “não é vingança, e, sim, justiça”, “para que quem esteja de plantão no poder saiba que o Brasil teve uma pandemia que levou milhares de vidas e as pessoas que foram omissas foram penalizadas por isso”, prometeu.

Durante a sessão, o senador Humberto Costa (PT-PE) afirmou que ontem foi o dia mais importante da comissão. “Eu e outros aqui lutamos muito para essa investigação acontecer, porque todo dia a gente via quantas pessoas tinham perdido a vida no nosso país para a covid. Diante de um governo omisso que se colocou do lado do vírus desde o começo”, destacou o parlamentar.

O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) também definiu o dia como emblemático. “A data de hoje ficará marcada. A CPI da Covid trouxe aqui algumas vozes destes números que trocamos na placa diariamente. Não são só números. Nunca foram. São dores, sofrimentos, pessoas enlutadas”, lembrou.

Os parlamentares também reforçaram a intenção de aprovar no relatório final da CPI propostas de apoio às vítimas, a seus parentes e aos chamados “órfãos da covid”. “Pretendemos criar uma pensão para os órfãos cuja renda recomende o pagamento. E pensamos em incluir a covid na relação daquelas doenças que ensejarão a aposentadoria por invalidez quando a perícia médica atestar”, disse Renan Calheiros (MDB-AL), relator da CPI.

Relatos comoventes

“Minha dor não é mimimi”

Nós merecíamos um pedido de desculpa da maior autoridade do país. Porque não é questão política – se é de um partido, se é de outro. Nós estamos falando de vidas de pessoas. Cada depoimento aqui, em cada depoimento, um sentiu o depoimento do outro e acrescentou o que o outro tinha para falar, entendeu? Então, a nossa dor não é mimimi; nós não somos palhaços, entendeu? É real, sabe? (...) a minha dor não é ‘mimimi’. Não é, não é. Dói para caramba mesmo – dói, dói. Não aceito que ninguém aceite isso como normal. Não é normal. Não é minha só, não. É de todas as pessoas que perderam, de todas as pessoas que perderam pessoas tão queridas”. Márcio Antônio Silva,

O taxista do Rio de Janeiro perdeu o filho, Hugo Dutra do Nascimento, 25 anos, vítima da covid-19, em abril de 2020. Ele se notabilizou durante um ato em homenagem aos mortos da pandemia. Na ocasião, um homem derrubou as cruzes que estavam fincadas na areia da praia de Copacabana. Indignado, Márcio fincou novamente os objetos na areia.

“A Justiça vai acontecer”

Nós perdemos nosso pai, nossa mãe, os amores da nossa vida. A dor é grande, mas a vontade de justiça é maior, por isso que eu estou aqui hoje. Eu estou aqui hoje para representar essas várias famílias que passaram pela dor que passamos. E é por isso que eu fico tão emocionada de estar aqui, aqui neste lugar, representa para mim uma vitória, porque eu sei que a justiça vai acontecer . Todos vocês vão conseguir estar fazendo a justiça com cada um, porque não são só números, são pessoas, são vidas, são sonhos, são histórias que foram encerradas. Encerradas por negligências, por tantas negligências, e nós queremos justiça. O sangue dessas mais de 600 mil vítimas escorre nas mãos de cada um que subestimou esse vírus”. Kátia Shirlene Castilho dos Santos,

Moradora de João Pessoa, perdeu os pais para a covid-19 em São Paulo. Kátia acompanhou a internação da mãe na Prevent Senior, e o tratamento dela com o ‘kit covid’.

“A gente tinha dois pilares”

“Assim que tudo aconteceu, eu senti dois impactos. Eu e minha irmã, a gente teve um impacto emocional a princípio e, depois, impacto financeiro – impacto emocional porque, diante do contexto, diante do que aconteceu, a gente não estava bem psicologicamente, assim como a gente não está até hoje. Então, a gente tem esse impacto e o impacto financeiro, porque a gente tinha os dois esteios da nossa vida, os dois pilares, as pessoas que cuidavam da gente, que sustentavam e faziam tudo, a gente não tinha essa responsabilidade. A gente passou a não ter e também a não ter quem nos ajudasse com isso”. Giovanna Gomes Mendes da Silva,

Moradora de Manaus (AM), com 19 anos de idade, perdeu os pais para a covid-19 e ficou sozinha com a irmã de 11 anos.

“A minha irmã não volta”

“Com relação a tudo isso, fica aqui o meu desabafo, porque a minha irmã não volta, não volta mesmo. Até hoje eu não consegui nem viver o meu luto, porque, dois meses depois, eu perdi outro irmão. A minha mãe vive em processo de depressão; eu faço terapia há dois anos, porque a minha irmã era uma pessoa especial na nossa família e ela tinha realmente uma alegria que não tem como substituir. Mas eu espero que, por meio do meu relato – que é pouco diante de tantos que viveram no Brasil inteiro – possa, realmente, tocar no coração das pessoas que podem fazer alguma coisa. Porque o que eu posso fazer é relatar a história dela, relatar realmente a situação que eu vivo como profissional de saúde”. Mayra Pires Lima,

Enfermeira, trabalhou no Amazonas durante o colapso enfrentado pelo estado no início deste ano, em meio à falta de insumos e oxigênio hospitalar para tratar pacientes da doença. Ela não conseguiu “viver o luto” após ter dois irmãos mortos pela covid-19.

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