Na visita ao Santuário Nacional de Aparecida, ontem, o presidente Jair Bolsonaro ouviu recados contundentes do arcebispo de Aparecida (SP), Dom Orlando Brandes, foi saudado pelo público com gritos de “mito”, mas também virou alvo de xingamentos, como “lixo” e “genocida”.
Na principal missa do dia, Brandes fez pregação contra o armamento da população, defendido por Bolsonaro. “Vamos abraçar nossos pobres e abraçar também nossas autoridades para que juntos construamos, então, um Brasil, pátria amada. E para ser pátria amada não pode ser pátria armada. Para ser pátria amada, seja uma pátria sem ódio. Para ser pátria amada, uma República sem mentiras e sem fake news. Pátria amada sem corrupção e pátria amada com fraternidade”, enfatizou.
O arcebispo também lembrou que o Brasil está enlutado pelas mais de 600 mil mortes na pandemia e se disse grato pela volta da esperança, com a chegada das vacinas. “Mãe Aparecida, muito obrigado porque na pandemia a senhora foi consoladora, conselheira, mestra, companheira e guia do povo brasileiro, que hoje te agradece de coração porque vacina, sim, ciência, sim, e a Nossa Senhora Aparecida junto salvando o povo brasileiro”, destacou.
Ele também cobrou a preservação da Amazônia. Citando a visita do Papa Francisco ao Brasil, em 2013, pediu um abraço aos índios, aos negros, às crianças, aos pobres. Questionado, depois da cerimônia, se suas palavras se referiam a Bolsonaro, o religioso disse que a mensagem se dirigia a todos os brasileiros. “Devemos respeitar as autoridades, mesmo discordando”, afirmou.
Bolsonaro não estava presente no momento da celebração. Ele assistiu a uma missa à tarde, ao lado dos ministros Marcos Pontes (Ciência, Tecnologia e Inovações) e João Roma (Cidadania). Na homilia, o padre José Ulysses da Silva, porta-voz do santuário, também fez referência indireta à postura armamentista do governo. “Se conseguíssemos abraçar a proposta de Jesus, nós seríamos um povo mais desarmado e fraterno”, disse.
O padre afirmou que “a vida é um valor que deve prevalecer sobre todo e qualquer outro valor, sobre nossos interesses políticos, econômicos e até religiosos”. Ele citou, ainda, o desemprego e as sequelas da covid-19. Segundo destacou, além do “dragão da pandemia”, há o “dragão da ganância”, que suga a vida de quem mais precisa.
Aglomeração
Durante a missa, Bolsonaro e ministros usaram máscara, embora a direção do santuário já tivesse decidido permitir a participação presidencial na celebração mesmo sem a proteção facial. Fora do santuário, porém, o chefe do Executivo dispensou o item de proteção. Ele causou aglomeração de apoiadores, que se espremeram nas grades de proteção para vê-lo. Houve, no entanto, manifestações contrárias. Embora a maioria dos presentes nas ruas fosse pró-governo, o chefe do Executivo ouviu gritos de “ladrão” e alguns opositores fizeram menção ao ministro da Economia, Paulo Guedes, alvo do megavazamento Pandora Papers, que revelou a existência de offshores de propriedade do ministro em paraísos fiscais.
Bolsonaro também foi chamado de “lixo” e “genocida”, e um chinelo foi arremessado do meio do público, mas não acertou o presidente. Após a passagem por Aparecida, ele retornou ao Forte dos Andradas, em Guarujá (SP), onde estava hospedado. Hoje, o chefe do Executivo continua no interior paulista, onde participa da entrega de títulos de regularização fundiária. (Com Agência Estado)