Após cinco meses à frente da Superintendência da Polícia Federal no Distrito Federal, o delegado Hugo de Barros Correia foi afastado do cargo pelo diretor-geral da PF, Paulo Maiurino. A decisão foi divulgada ontem e aguarda publicação no Diário Oficial da União (DOU) — prevista para a próxima semana. Correia coordenava, entre outras ações, a investigação do inquérito das fake news e do filho do presidente Jair Bolsonaro, Jair Renan.
A gota d’água para a troca na Superintendência do DF teria sido o fato de Correia não ter avisado à direção-geral da PF sobre a operação contra Tatiana Garcia Bressan, ex-estagiária do gabinete do ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF), apontada como informante do blogueiro bolsonarista Allan do Santos.
A troca ocorre no momento em que a investigação que tem Jair Renan está bem avançada. A apuração foi aberta em março e mira supostos crimes de tráfico de influência e lavagem de dinheiro praticados por um grupo empresarial do setor de mineração e o filho 04 do presidente. A proximidade entre Jair Renan e companhias em outras ocasiões despertaram a atenção não só da PF e do Ministério Público Federal, mas também da CPI da Covid. Documentos obtidos pelo colegiado mostram que o jovem recorreu à ajuda do lobista Marconny Albernaz Faria, que atuaria em favor da Precisa Medicamentos junto ao Ministério da Saúde, para abrir uma empresa de eventos.
Apurações sensíveis
O delegado está no comando de algumas apurações delicadas e incômodas para o Palácio do Planalto. Uma delas é o inquérito administrativo, aberto no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), para apurar ataques ao sistema eleitoral e crimes de abuso de poder econômico e político, uso indevido dos meios de comunicação social, corrupção, fraude, condutas vedadas a agentes públicos. O caso foi aberto depois da “live” em que o presidente Jair Bolsonaro lançou uma série de desinformações sobre as urnas eletrônicas. Foi no âmbito dessa apuração que a superintendência no DF sugeriu ao TSE a ideia de barrar a monetização de canais com conteúdo político, o que atingiu aliados do presidente.
A PF no Distrito Federal é ainda a responsável pela Operação Pés de Barros, que investiga supostas fraudes na aquisição de medicamentos de alto custo pelo Ministério da Saúde, entre maio de 2016 e abril de 2018, período em que a pasta teve como chefe o atual líder do governo na Câmara dos Deputados, Ricardo Barros (PP-PR), no governo Michel Temer. Dois ex-diretores do Departamento de Logística (DLog) do Ministério da Saúde empregados posteriormente no governo Jair Bolsonaro foram alvo da ofensiva, aberta no último dia 21.
Outra investigação conduzida pela superintendência no DF que causou desconforto no governo foi a que mirou o ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles — acusado de favorecer madeireiras que vendiam produtos ilegais. A força-tarefa que fez buscas contra um dos auxiliares mais próximos de Bolsonaro foi deflagrada dias depois de Correia assumir o posto.
Como superintendente, o delegado não tocava as investigações, mas coordenava o núcleo que apura os casos — o chefe da unidade não interfere diretamente, pois os delegados têm autonomia. Para o lugar de Correia, Maiurino indicou um delegado do Rio de Janeiro, reduto político da família Bolsonaro: Vitor César Carvalho dos Santos, que atua na superintendência fluminense.