A disputa pela indicação do candidato à Presidência da República do PSDB tomou, segundo observadores de dentro do partido, contornos indefinidos. Antes com um claro favoritismo do governador de São Paulo, João Doria, agora o jogo parece mais equilibrado, pois o nome do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, ganhou tração entre os tucanos. Tanto que, em pesquisas internas, cada um se diz vencedor das prévias de 21 de novembro — o terceiro candidato, o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio Neto, aparentemente não tem chances nessa corrida.
Um fato, segundo fontes do partido, foi importante para que o gaúcho começasse a conquistar espaço: o apoio do senador Tasso Jereissati (CE), que desistiu da disputa e passou a apoiar Leite. O Governador também cresceu por passar a imagem de juventude e por ter equalizado as contas do Rio Grande do Sul. Também pesou nessa equação o fato de ter se assumido gay — algo que tira de eventuais adversários a possibilidade de usar isso no submundo das redes sociais.
Doria, porém, está firme no jogo e conquistou posições importantes ao contrapor-se tenazmente ao presidente Jair Bolsonaro na pandemia da covid-19 — ao qual, aliás, teceu duras críticas — e por ter trazido para o Brasil a CoronaVac, vacina que por meses sustentou o Plano Nacional de Imunização, do Ministério da Saúde. Além disso, o desenvolvimento da Butanvac, que está sendo analisada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), é outra carta que o governador paulista guarda na manga.
Mas, nos últimos dias, Doria foi acusado de apadrinhar vários novos filiados no PSDB para, supostamente, contar com o voto deles na convenção — o que contraria as regras do pleito. Mas o governador não conta com isso e vem gastando sola de sapato, tanto que esteve em 14 estados em campanha: Mato Grosso do Sul, Goiás, Paraná, Santa Catarina, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Pará, Amazonas, Distrito Federal, Mato Grosso, Tocantins e Minas Gerais — ideia é fechar as 27 unidades da Federação até o começo de novembro.
De acordo com o senador Izalci Lucas (DF), que já declarou voto a Doria, “não é possível mudar a regra durante o jogo” — e assim os recém-filiados terem possibilidade de votar na convenção. “Acho que quem tem mais pegada, que investiu mais e vai colher mais. O secretariado dele é de nível ministerial. São Paulo vai ter crescimento de 7,5% no PIB. A gente deve um pouquinho a ele, pois, do contrário, não estaríamos vacinados. Vai chegar uma hora que vai ter que colher o que plantou e acho que tem mais chance de enfrentar o Lula”, disse, referindo-se ao ex-presidente da República.
Para Izalci, que é presidente do diretório do DF, um fator contrário a Leite seria a possibilidade de ele abrir mão da cabeça de chapa em nome de uma coligação em torno de um nome que congregue mais apoios na via entre os extremos representados por Jair Bolsonaro e por Lula. “A visão dessa bancada que está apoiando o Eduardo, pelo que eu entendi, é que seria é mais fácil ele não sair candidato, de aceitar uma vice, de deixar para depois. Eu não concordo. Acho que o PSDB tem que ter candidatura própria, como sempre teve”, explicou.
Saiba Mais
Presença incômoda
Mas, de acordo com os bastidores tucanos, o apadrinhamento da filiação da deputada federal Joice Hasselmann pode trazer percalços para Doria. Uma das reações mais duras partiu de Tomás, filho do ex-prefeito de São Paulo, Bruno Covas — que morreu em maio passado —, que, pelas redes sociais, considerou a entrada da parlamentar no partido uma “vergonha”. Para aqueles que compunham o grupo político do neto de Mario Covas, um dos fundadores do PSDB, ainda estão vivos na memória os ataques que Joice fez a Bruno durante a corrida à prefeitura paulistana.
Mas, aparentemente, os bombeiros tucanos entraram em cena para amenizar o mal-estar criado pela crítica de Tomás à Joice. Afinal, foram flagrados almoçando, ontem, em um restaurante dos Jardins, na capital paulista. Detalhe: o encontro foi 24h depois de o filho do ex-prefeito ter atacado a deputada.