As investigações da CPI da Covid chegaram ao fim, mas senadores do grupo majoritário da comissão, formado por independentes e oposicionistas, ainda devem causar muita dor de cabeça para o presidente Jair Bolsonaro. Eles criaram um observatório para acompanhar de perto os desdobramentos judiciais e políticos do relatório final, aprovado, ontem, com pedidos de indiciamento do chefe do governo e de mais 79 investigados. Assim, o Planalto deve sofrer ainda mais desgastes, com possíveis reflexos nas eleições presidenciais de 2022.
Os integrantes do grupo majoritário, também chamado G7, organizaram uma agenda para entregar o relatório final das investigações a várias autoridades, entre as quais, duas que são próximas de Bolsonaro — o procurador-geral da República, Augusto Aras, e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Os senadores pretendem transformar cada uma dessas ocasiões em um ato político contra o governo e o presidente.
As repercussões da CPI devem se somar a outros fatores que têm empurrado para baixo a popularidade de Bolsonaro, como desemprego recorde, inflação em alta, aumento da pobreza e da fome no país. Internamente, aliados do Planalto admitem até mesmo a possibilidade de o chefe do governo não conseguir passar para o segundo turno das eleições.
Senadores governistas, como Eduardo Girão (Podemos-CE), demonstraram preocupação com possíveis repercussões na próxima corrida presidencial. No entanto, Alessandro Vieira (Cidadania-SE) que, recentemente, se lançou pré-candidato ao Planalto, negou que a CPI tenha atuado de forma eleitoreira. “Os indiciamentos são baseados em fatos. O grupo majoritário da CPI tem unanimidade na imensa maioria dos pontos colocados pelo relator”, destacou. “A CPI chegou à constatação de que nós temos um presidente criminoso, mas, claro, qualquer manifestação do Parlamento, em especial, em CPI, faz parte da política, mas isso é uma consequência dos atos governo”, enfatizou.
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Dificuldade
Na opinião do cientista político André Rosa, a imputação de nove crimes a Bolsonaro terá reflexos em 2022. “Acredito que não dê mais tempo para o presidente sofrer impeachment ou que sofra algum processo na Justiça, mas o grande impacto que a CPI vai causar é o eleitoral”, disse. “Com as denúncias e revelações, Bolsonaro terá um grau de dificuldade muito maior para ganhar a eleição e até de chegar ao segundo turno.”
Segundo ele, a CPI será objeto de grande repercussão nas disputas em 2022 e, também, na formação das preferências do eleitor na hora de votar. “Tal como a Operação Lava-Jato, que impulsionou a candidatura de Jair Bolsonaro, será a covid-19 que proporcionará aos concorrentes o combustível da propagação de campanha negativa em detrimento da gestão do atual presidente”, ressaltou. “Outro grande impacto que, certamente, vai tirar votos de Bolsonaro será o tempo desperdiçado tentando defender a gestão da pandemia, tendo menor espaço para defender possíveis avanços do seu mandato”, acrescentou.
Cármen Lúcia cobra PGR
A ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal, deu prazo de 15 dias para que a Procuradoria-Geral da República esclareça “eventuais diligências ou apurações preliminares” tomadas no âmbito de notícia-crime que pede a investigação do presidente Jair Bolsonaro em razão de ameaças feitas pelo chefe do Executivo em discursos golpistas durante atos no 7 de Setembro. A notícia-crime foi apresentada pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que imputou a Bolsonaro crimes de atentado contra a ordem constitucional, o Estado democrático de direito e a separação de Poderes. Na ocasião, o chefe do Executivo ameaçou descumprir decisões do Supremo e exigir a deposição do ministro Alexandre de Moraes, integrante da Corte.
Outros pedidos de indiciamento
Atuais e ex-integrantes do governo
Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde e assessor da SAE
» Epidemia com resultado morte
» Emprego irregular de verbas públicas
» Prevaricação
» Comunicação falsa de crime
» Crimes contra a humanidade, nas modalidades extermínio, perseguição e outros atos desumanos
Marcelo Queiroga, ministro da Saúde
» Epidemia com resultado morte
» Prevaricação
Onyx Lorenzoni, ministro do Trabalho e Previdência
» Incitação ao crime
» Crimes contra a humanidade, nas modalidades extermínio, perseguição e outros atos desumanos
Walter Braga Netto, ministro da Defesa
» Epidemia com resultado morte
Wagner Rosário, ministro da Controladoria-Geral da União
» Prevaricação
Ernesto Araújo, ex-ministro das Relações Exteriores — epidemia com resultado morte e incitação ao crime
POLÍTICOS
Ricardo Barros, deputado
» Incitação ao crime
» Advocacia administrativa
» Formação de organização criminosa
» Improbidade administrativa
Flávio Bolsonaro, senador — incitação ao crime
Eduardo Bolsonaro, deputado — incitação ao crime
Carlos Bolsonaro, vereador — incitação ao crime
AMAZONAS
Wilson Lima, governador do estado — epidemia com resultado morte, prevaricação, crimes de responsabilidade
Marcellus Campêlo, secretário de Saúde do estado — prevaricação
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