Em meio a polêmicas pela atuação durante a crise sanitária causada pela pandemia e pelo indiciamento do presidente Jair Bolsonaro na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da covid-19, a pequena cidade de Anguillara Veneta, ao Norte da Itália, “berço do clã que governa o Brasil”, segundo informou o jornal O Globo, decidiu fazer uma homenagem ao mandatário, que desembarcou no país para participar do G-20, no próximo sábado (30/10) e domingo (31). A intenção da prefeita da cidade, Alessandra Buoso (de uma coalizão de direita), provocou uma onda de protestos.
A honraria deve ser concedida na próxima segunda-feira (1°/11), quando Bolsonaro visitará visitar a cidade natal de seu bisavô paterno. A previsão é de que Bolsonaro chegue a Roma nesta sexta-feira (29) e lá permaneça até 2 de novembro. Alessandra Buoso foi quem propôs conferir ao presidente brasileiro a cidadania honorária de Anguillara, por suas raízes locais. O município de pouco mais de quatro mil habitantes é a raiz dos Bolzonaro, sobrenome que se abrasileirou com o "s" no lugar do "z". A concessão da cidadania honorária foi votada nesta segunda-feira (25) pelo conselho municipal da cidade italiana (a Câmara de Vereadores) e aprovada por 9 votos a favor e 3 contra.
A decisão de homenagear Bolsonaro detonou uma série de críticas de partidos políticos da oposição, associações antifascistas e religiosos. Vanessa Camani, vereadora de Anguillara pelo Partido Democrático (de centro-esquerda), classificou a decisão de “vergonhosa”, uma “ofensa” para todos os moradores da cidade. “É um gesto completamente fora de lugar, sobretudo agora que vai sair o relatório do Senado brasileiro. A gestão que ele fez da pandemia, o fato de não ter se vacinado, tudo é um péssimo exemplo para a Itália, país que muito batalhou contra o coronavírus”, afirmou Camani ao Globo.
Para Vanessa Camani, “Bolsonaro não é uma pessoa adequada para representar Anguillara, o Vêneto e nem mesmo a Itália”. Padres e missionários italianos que atuam no Brasil enviaram uma carta aberta ao gabinete da prefeita: "Como um homem que há anos, e continuamente, desonra o seu país pode receber uma honra na Itália? Jair Bolsonaro é um presidente que está massacrando a vida de sua gente, sobretudo os mais pobres", assinala o documento.
Uma representante regional da Associação Nacional dos Partigiani da Itália (Anpi), que defende a memória dos que lutaram contra o fascismo, também criticou a decisão dizendo que cidadania é geralmente concedida por "méritos", "mas que Bolsonaro não tem nenhum".
No entanto, em nota, a prefeita Alessandra Buoso argumentou que a honraria é dada ao presidente na condição de "delegado" de um país que recebeu inúmeros imigrantes, "eleito democraticamente pelo povo, mas simbolicamente concedida a uma inteira nação, o Brasil". Ela lamentou que o gesto "seja distorcido e manipulado por motivos políticos". Segundo O Globo, a prefeita apenas divulgou nota e não quis dar entrevista. Ela integra uma coalizão de centro-direita formada por partidos como o Irmãos de Itália (que descende do maior movimento neofascista na Itália após a segunda guerra) e a Liga, cujo líder, o senador Matteo Salvini, foi o primeiro líder internacional a apoiar Bolsonaro na campanha eleitoral de 2018.
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