OPINIÃO

Alexandre Garcia: "A CPI atual foi com muita sede ao pote e errou o timing"

A CPI usou seu carro de som antes do ano eleitoral e logo vai ficar obsoleta porque seus dogmas vão ser confrontados com a realidade do Brasil e do mundo

Correio Braziliense
postado em 13/10/2021 06:00 / atualizado em 13/10/2021 06:05
 (crédito: Pedro França/Agência Senado)
(crédito: Pedro França/Agência Senado)

Um pesquisador potiguar convenceu-me, há mais de 20 anos, que o descobrimento do Brasil aconteceu no Rio Grande do Norte. Pois, agora, se descobre, em CPI na Assembleia Legislativa, em Natal, o que a CPI no Senado preferiu não investigar.

Segundo o presidente da CPI da Covid de lá, o deputado Kelps Lima, há “documentos sigilosos, confissões, delação, extrato de banco; é estarrecedor e vai além do Consórcio Nordeste, porque chega à Prefeitura de Araraquara, de Edinho do PT”. O autor de requerimento para instituir a CPI do Senado, senador Eduardo Girão, foi a Natal para levar o tema ao plano federal, uma vez que envolve nove estados e um município paulista.

No Senado, o requerimento do senador Girão, com 45 assinaturas, pretendia investigar o destino do dinheiro federal para estados e municípios, mas prevaleceu o objetivo do requerimento com 31 assinaturas, do senador Randolfe, que se propunha investigar a falta de oxigênio em Manaus e a atuação do governo federal. A CPI, peça eleitoral contra o presidente da República, desrespeitou a relação médico-paciente, fez barulho com vacina não comprada e agora vai anunciar o sumário das teses que tem prontas desde o início. Compra de respirador em loja de vinho ou de empresa chamada Hempcare (hemp é maconha…), respiradores que não funcionam, superfaturamentos e uso de dinheiro dos pagadores de impostos, e o “vá para casa até sentir falta de ar”, nunca foi objetivo da maioria da CPI do Senado.

A CPI potiguar chamou como investigado o ex-ministro de Dilma, executivo do Consórcio do Nordeste, Carlos Gabas, mas ele usou o direito de ficar calado. A CPI do Senado negou-se a chamá-lo. O Consórcio Nordeste, feito para a pandemia, gastou 2,5 milhões em mídia, apurou o senador Girão. E pagou 48 milhões por 300 respiradores que não foram entregues. A vendedora emitiu a nota fiscal nº 002, após oito meses de existência da empresa. Concordou, à revelia, em cobrar o triplo do preço, pressionada pelo comprador, segundo a CPI do RN.

Para investigar o que foi omitido na atual CPI, o senador Girão já tem, no Senado, 37 assinaturas — suficientes —, e outro Girão, deputado pelo RN, o ajuda a colher assinaturas na Câmara para fazer uma CPI Mista, de deputados e senadores, para desvendar o que faltou. Imagina-se que será mais ampla, certamente não deixando de lado o que a CPI atual causou com seus dogmas e pressões sobre médicos.

De novo o RN terá contribuição a dar. Pode mostrar por que, até agora, no Presídio de Alcaçuz, entre 1.624 internos, 224 tiveram covid e nenhum precisou ser hospitalizado, com zero mortes. Entre esses, idosos, doentes crônicos, diabéticos. A CPI atual foi com muita sede ao pote e errou o timing; usou seu carro de som antes do ano eleitoral e logo vai ficar obsoleta porque seus dogmas vão ser confrontados com a realidade do Brasil e do mundo. Preparou o caminho para outra, mais próxima das eleições, para apurar responsabilidades com as luzes do tempo e sabermos o que ficou escondido.

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