“Eu me preocupo muito com relação à minha exposição. A imprensa, no geral, tem tentado procurar informações ao meu respeito, eu sempre fui uma pessoa muito discreta. Eu nunca trabalhei nem com esse sistema de site, de captação de clientes. Eu trabalho exclusivamente por indicação, com uma base sólida de clientes que fazem essa indicação. Eu tenho grande preocupação com o que vai acontecer com a minha vida depois do dia de hoje. Se for possível fazer essa solicitação eu agradeço”. Foi assim que Bruna Morato, advogada que representa 12 ex-médicos da Prevent Senior, finalizou, nesta terça-feira (28/9), o depoimento à CPI da Covid.
Mais cedo, ao ser questionada se havia sofrido ameaça em algum momento por parte da empresa, a advogada relatou um episódio de intimidação ocorrido logo após saírem as primeiras denúncias sobre falta de autonomia médica.
Ela explicou que ao ser procurada pelos ex-médicos que queriam denunciar a falta de autonomia, a estratégia foi divulgar as informações na mídia para pressionar a operadora a parar com as experiências. Quando o Ministério Público de São Paulo foi acionado, descobriu-se que havia uma petição da Prevent Senior para que o jornalista quebrasse o sigilo das fontes e informasse quem foram os delatores. Isso foi negado, mas semanas depois o escritório da advogada foi invadido.
“Em uma sexta-feira, pessoas entraram no meu prédio, com um equipamento muito moderno, visto o que eles foram fazer depois, duplicaram o IP de todas as câmeras de segurança, de todos os andares do prédio em que tenho escritório e deixaram o sistema de segurança vulnerável por quatro dias. Eles cortaram o cano de um banheiro de um escritório vizinho, que provocou um vazamento e inundou do 8º ao 3º andar fazendo com que fosse necessário liberar as pessoas para entrar no prédio e fazer os devidos reparos”, contou.
Apesar de não terem levado nada dos andares, os únicos objetos desaparecidos - um Ipad e um computador – estavam na sala dela. Para Bruna, isso foi uma forma de intimidação. “Fizeram como se fosse um arrastão no prédio.
"Eles começaram de sexta até segunda, entraram e saíram do prédio, entraram em várias salas e não levavam nada. Parecia uma brincadeira. Os arrombamentos eram muito bem feitos. Foram três rapazes muito bem vestidos e dois rapazes que se dirigiram à central de câmeras”, narrou.
Bruna diz que não tem como relacionar o caso com a operadora de saúde, mas desde então se sente ameaçada. Randolfe Rodrigues pediu que a Polícia Federal seja acionada ainda nesta terça-feira (28) para garantir a segurança da advogada. Caso a PF não dê um retorno urgente, a CPI recorrerá à Polícia Legislativa do Senado.
Segundo a senadora Eliziane Gama (Cidadania/MA), o ministro Mandetta foi demitido 16 dias depois de denunciar o caso da Prevent, e afirmou que 48 horas depois de demissão, o CFM mudou o protocolo em relação à autonomia médica. “Parece uma simbiose para fazer valer em detrimento da vida das pessoas, o negacionismo do governo federal”, afirmou.