A advogada Bruna Morato, depoente na CPI da Covid-19, que representa 12 ex-médicos da Prevent Senior, expôs que um dos motivos para que a operadora utilizasse o kit covid era pela contenção de gastos. A revelação repercutiu entre os senadores presentes na comissão, entre eles, o vice-presidente Randolfe Rodrigues (REDE/AP), que afirmou ter ficado “impactado” e com “náuseas” com a informação. “Uma estratégia da Prevent para redução de custos, uma vez que é muito mais barato para a operadora de saúde disponibilizar esses medicamentos do que efetivamente fazer a internação desses pacientes”, explicou o senador.
Segundo a CPI, clientes da Prevent recebiam o kit Covid após fechar o plano pelo telefone ou por teleatendimento.
A advogada ainda ressaltou que alguns pacientes recebiam o tratamento após o segundo dia de sintomas, chamado de “Golden Day”. Ela disse que não existia confirmação de PCR, obrigatoriedade de eletro, como o protocolo de manejo obrigava, devido ao fluxo de pacientes na segunda onda da covid. “Então os pacientes recebiam o kit de tratamento e de um modo muito estranho, se estendia ao período de internação e era combinado com outras experiências. Assim denomino não como experiência científica porque sem a autorização do CONEP não tenho como nominar sendo pesquisa científica”, declarou.
O senador Otto Alencar (PSD/BA) ainda trouxe o depoimento de um paciente que foi tratado na Prevent Senior, mas, devido à pressão da família, não recebeu tratamento precoce. De acordo com um vídeo enviado pelo paciente, Tadeu Francisco Andrade disse que era visto como uma “cifra” pela diretoria da empresa.
Um outro áudio enviado por sua filha, trazia a conversa com um dos médicos da Prevent. O conteúdo revela que, caso a família aceitasse o tratamento paliativo, os outros dispositivos, como diálise e antibióticos, eram suspensos. A filha, no entanto, pediu a manutenção dos mecanismos e rejeitou o tratamento precoce. Segundo Alencar, o pedido para que ele fosse transferido para realizar o tratamento paliativo é um caso “gravíssimo”.
“Isso é um caso gravíssimo. O seu Tadeu, inclusive, o prontuário e o próprio médico disse que ele estava em condições melhores, vai fazer amanhã hemodiálise e vai para uma unidade de enfermaria 'leito híbrido' para que fosse feito o tratamento paliativo. Mas, nesse caso, sem autorização da família, foi orientado a suspender hemodiálise, não coletar gasometria, parar antibiótico e deixar que ele fosse dirigido ao tratamento paliativo”, disse Otto.
O senador, que é médico, afirmou que a Prevent agiu de má fé por utilizar o tratamento em casos de pneumonia virótica, em que 90% dos pacientes se curavam e ressaltou que questionou o diretor da operadora Pedro Batista Jr, durante a CPI, se o uso de hidroxicloroquina e azitromicina resolveria o quadro, mas ele disse que não.
“O caso de má fé que eles fizeram: sabiam que mais de 90% das pessoas tem sintomas leve ou moderada. O que eles fizeram? Vamos fazer hidroxicloroquina e azitromicina, e essas pessoas ficaram curadas até bebendo água”, afirmou.