1.000 DIAS DE GOVERNO

Bolsonaro joga crise econômica na conta da pandemia

No primeiro evento comemorativo da semana, Bolsonaro explica que os problemas do Brasil em crise, como inflação e gasolina cara, são uma "realidade" devido à pandemia, e não acontecem por "maldade"

No lançamento, ontem, do programa Caixa Tem — primeiro evento para marcar os 1.000 dias do governo —, o presidente Jair Bolsonaro não passou uma mensagem de otimismo, de trabalho árduo pela chegada de dias melhores ou mesmo fez um balanço dos benefícios entregues ao longo do período. Preferiu enfatizar os problemas econômicos enfrentados na sua gestão, sobretudo a inflação que faz com que o preço dos combustíveis esteja sempre sendo remarcado para cima. Conforme disse, isso é resultado de uma “realidade mundial” — provocado pela pandemia de covid-19 — e que esses reajustes não acontecem por “maldade”.

“Nós temos o percurso, temos muitos obstáculos. São intransponíveis? Não, mas depende do entendimento de cada um. Alguém acha que eu não queria a gasolina a R$ 4 ou menos? O dólar a R$ 4,50 ou menos? Não é maldade da nossa parte, é uma realidade. E tem um ditado que diz: ‘Nada está tão ruim que não possa piorar. Nós não queremos isso’”, salientou.

Em outro ponto do pronunciamento, o presidente atribuiu os problemas vividos pelo país a uma conjuntura geral que se apresenta desfavorável. “Mil dias de governo com uma pandemia que muitos acham que o que acontece hoje no tocante à economia — inflação, preço de combustíveis, de alimentos, entre outros problemas — está acontecendo porque eu sou presidente. E não, em grande parte, pelo que nós passamos e estamos passando ainda”.

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Problemas

Outra surpresa foi que, seis dias depois de afirmar, na Assembleia-Geral das Nações Unidas, que o Brasil estava havia dois anos e oito meses “sem qualquer caso concreto de corrupção”, Bolsonaro disse ontem que a prática continua presente no seu governo. “Eliminou-se a corrupção? Obviamente que não. Podem acontecer problemas em alguns ministérios? Podem, mas não será da vontade nossa”, explicou.

Segundo Bolsonaro, “vamos buscar maneiras de, obviamente, apurar o caso (de corrupção) e tomar providências cabíveis com outros poderes sobre aquele possível ato irregular. Mas diminuiu muito a corrupção no Brasil. Muito”.

Há pelo menos dois casos de suspeita de corrupção no governo federal. Em maio, a Polícia Federal cumpriu mandados em operação que envolveu o então ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e a cúpula do Ibama por suposto favorecimento no contrabando de madeira. Além desse, o Ministério Público Federal e a PF investigam o contrato do Ministério da Saúde para comprar a vacina indiana Covaxin, suspenso pelo próprio governo após a revelação, pela CPI da Covid, de suspeitas de corrupção tantas eram as inconsistências do contrato que seria assinado pela pasta e a Precisa Medicamentos, que venderia o imunizante.

Bolsonaro disse que as “pressões” em seu governo são “menores” que em gestões anteriores. “Hoje existem (pressões)? Existem, mas bem menores”, justificou.

PT

Mas a economia e a corrupção não foram as únicas preocupações manifestadas por Bolsonaro no evento de ontem. O presidente deixou claro que se sente incomodado com a liderança do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em todos os cenários das pesquisas de opinião sobre a corrida ao Palácio do Planalto. E voltou a tentar se contrapor aos governos do PT.

“Você já sabe qual o filme do futuro porque você viveu 14 anos passados esse filme. E pode ter certeza, não serão apenas mais 14 anos. Serão no mínimo 50. É isso que queremos para a nossa pátria?”

E acrescentou: “Se a facada (que sofreu durante a campanha eleitoral de 2018) fosse decisiva naquele momento, é só imaginar quem estaria no meu lugar (no segundo turno da corrida presidencial, disputou contra o petista Fernando Haddad). O perfil dessa pessoa, o seu alinhamento com outros países do mundo, em especial, aqui da América do Sul, onde nós estaríamos agora”.