Após a fala do presidente Jair Bolsonaro na abertura da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) repercutiu entre os políticos. Classificado como "mentiroso", "cínico" e "mentiroso", os opositores do presidente usaram as redes sociais para criticar o discurso do presidente.
Na fala, o presidente defendeu o tratamento precoce contra a covid-19, se disse contra o passaporte da vacina, falou que o Brasil tem protegido à Amazônia e tentou passar uma imagem de que o Brasil é um país bom para se investir.
Veja a repercussão
O ex-ministro da Saúde no governo Bolsonaro Luiz Henrique Mandetta chamou a fala do presidente de "cínica". "Infelizmente, o Brasil deve crescer só metade do que o resto do mundo em 2022. O Real desvalorizou mais que outras moedas emergentes. A inflação deve ficar entre as maiores do mundo. Desmatamento batendo recorde. Mas Bolsonaro acha que seu cinismo na ONU vai enganar investidores", escreveu no Twitter.
O líder da minoria na Câmara, Marcelo Freixo (PSB/RJ), classificou a fala como um "delírio".
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP). O vice-presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da covid-19 afirmou, em seu perfil no Twitter, que o discurso de Bolsonaro foi um "vexame".
O deputado federal Kim Kataguiri (DEM-SP) também apontou inconsistências na fala de Bolsonaro.
O pré-candidato ao governo de São Paulo Guilherme Boulos (PSOL) chamou o discurso de mentiroso. "Essa foi, provavelmente, a maior sequência de mentiras em um discurso presidencial na ONU. O Brasil não aguenta mais!", afirmou.
O pré-candidato à presidência Ciro Gomes chamou de "hipócrita". "Tudo como previsto . Poucos minutos de discurso na ONU e uma carga de mentiras, mistificações, obscurantismo e hipocrisia que poderia cobrir anos e anos. Mas este tempo de vergonha tem seus dias contados. Fora Bolsonaro!", escreveu.
A ONG WWF Brasil emitiu nota em que diz que, mais uma vez, Bolsonaro "usou uma oportunidade conferida pelo cargo que ocupa para repetir frases de campanha sem qualquer relação com os principais desafios do planeta e do Brasil". Além disso, a entidade destacou que o discurso teve mentiras. "Infelizmente o discurso não causou espanto, ele resume o que vem sendo o governo Bolsonaro: desorientado, afastado da realidade e direcionado apenas uma pequena parcela da população".
Nota completa WWF Brasil
Pelo terceiro ano consecutivo, Jair Bolsonaro ocupa a principal tribuna planetária sem assumir a postura de estadista que se espera de um Presidente da República. Mais uma vez, ele usou uma oportunidade conferida pelo cargo que ocupa para repetir frases de campanha sem qualquer relação com os principais desafios do planeta e do Brasil – estes, sim, merecedores da atenção de um presidente.
Com informações e alegações que não encontram respaldo nos fatos, ele tentou esconder o desastre que sua gestão está deixando para o Brasil em todas as áreas, incluindo a ambiental. Pior: desrespeitou os brasileiros que ainda sofrem com as quase 600 mil mortes causadas pela má gestão da pandemia da Covid ao defender o uso de tratamentos comprovadamente ineficazes – talvez, o mais gritante exemplo do quanto seu discurso é desconectado da realidade.
Palavras na tribuna das Nações Unidas não mudam o fato de que o Brasil está sofrendo com a pior crise hídrica dos últimos 90 anos pelo efeito combinado de fatores meteorológicos com o crescente desmatamento da Amazônia. Nos três anos de seu governo, o Brasil teve três recordes de desmatamento e queimadas, colocando a floresta cada vez mais perto de seu ponto de inflexão. Segundo o Painel Científico da Amazônia, aproximadamente 17% das florestas amazônicas foram convertidas para outros usos da terra e pelo menos outros 17% foram degradados. Estudos científicos mostram que em algumas regiões a Amazônia já emite mais carbono do que capta.
Pelo terceiro ano seguido o Presidente da República passou ao largo não só da realidade, mas das grandes questões que afligem o Planeta. A destruição das instituições de aplicação da lei ocorrida em seu governo e a consequente aceleração da destruição ambiental terão efeito de longo prazo não só para o país, como para o mundo.
A agricultura depende de chuvas e estas dependem de uma Amazônia protegida. Bolsonaro não só paralisou a demarcação de terras indígenas, como promete alterar a lei e interferir no Judiciário para reverter demarcações já feitas. Embora venda a parte do setor agrícola que o apoia que isso seria um ganho, pois permitiria uma maior expansão de pastagens e lavouras, é na realidade uma perda.
Hoje as terras indígenas preservam 25% do que restou da Floresta Amazônica e, todos os dias, enviam para o restante da América do Sul, gratuitamente, 5,2 bilhões de toneladas de vapor de água, por meio da transpiração das florestas que preservam. É esse vapor que vai formar as chuvas que permitem aos produtores brasileiros colher duas safras ao ano, tornando o país um campeão agrícola. Menos terras indígenas, portanto, significa menos produção.
A defesa do Código Florestal, por sua vez, não reflete o que essa legislação efetivamente garante. O Código Florestal é uma lei que permite ainda amplo desmatamento (88 milhões de hectares), mesmo o país tendo mais de 60 milhões de hectares de terras sub-utilizadas. As leis florestais da maioria dos países (França, Alemanha, Suécia, Japão, outros) proíbe a conversão de florestas para áreas agrícolas, salvo exceções muito raras.
Infelizmente o discurso não causou espanto, ele resume o que vem sendo o governo Bolsonaro: desorientado, afastado da realidade e direcionado apenas uma pequena parcela da população.