A mensagem à Nação do presidente Jair Bolsonaro, em que recua nos ataques que fez, no 7 de Setembro, contra o Supremo Tribunal Federal, deixou seus apoiadores radicais desolados. Em grupos bolsonaristas e nas redes sociais de lideranças ligadas a caminhoneiros e motociclistas, predomina um sentimento de abandono e de desconfiança.
Um dos mais indignados com o recuo presidencial era o pastor Jackson Vilar, organizador de uma “motociata”, em São Paulo, em junho. Ontem, divulgou um vídeo em que chama o presidente de “calça frouxa” e anuncia rompimento com Bolsonaro.
“Em Brasília, nós temos um calça frouxa, um traidor da pátria chamado Jair Messias Bolsonaro. Nós estamos vendo pessoas sendo presas no Brasil, patriotas dando a vida. Mas agora eu te digo: eu não acredito em Bolsonaro mais. Pode me chamar de traidor, do que você quiser. Todos foram enganados por esse traidor”, bradou.
Nos grupos bolsonaristas, os apoiadores buscam explicar, por meio de textos apócrifos e vídeos caseiros, o que seria a “estratégia de Bolsonaro” com o recuo. Há quem acredite que o passo para trás tenha sido para “tomar impulso” e voltar a atacar o STF com mais força em breve.
A falta de direção se deve, principalmente, porque os filhos do presidente estão calados desde a mensagem à Nação. O vereador Carlos Bolsonaro e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) continuam ativos nas redes sociais, mas não tocam no assunto.
Saiba Mais
Senso político
Já o senador Flávio (Patriota-RJ) compartilhou, em um canal de apoiadores, uma imagem em que pedia para “confiarem no capitão”, pois ele “sabe o que está fazendo”. O chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, foi outro que tentou manter a tropa unida: publicou um vídeo em que disse que o presidente tem um “formidável senso político”.
“Alguns fatos deixaram muitos de nós desanimados, isso não pode acontecer. A esquerda, apesar de sua passagem desastrosa pelo poder, segue unida e querendo voltar. Ela sofreu também um duro revés, que descobriu que o presidente Jair Bolsonaro não tinha qualquer intenção de dar o golpe. Nosso presidente possui um formidável senso político”, defendeu o general da reserva.
A deputada Carla Zambelli (PSL-SP) também saiu em defesa do presidente tentando justificar o recuo. “Algumas pessoas se desapontam com ele pelo tema e pela postura de paz que existe na nota, pelo tom de paz e harmonia entre os Poderes. Mas ele prova mais uma vez o grande estadista que ele é ao mostrar que ele nunca quis ruptura”, justificou.
O deputado bolsonarista Carlos Jordy (PSL-RJ) foi na mesma direção. “O desânimo é normal, faz parte do impacto com a notícia. Contudo, recordo de dois momentos em que muitos juravam que tudo tinha acabado: a saudação a Carlos Alberto Brilhante Ustra no impeachment de Dilma, quando ainda deputado, e na saída de Moro. Ao final, ele estava certo”, garantiu.
Para o cientista político André Rosa, Bolsonaro teve de escolher entre agradar a militância e lidar com os problemas jurídicos que poderiam ser causados por uma ação mais agressiva no dia 7. “Muitas figuras importantes entenderam que aquilo era crime de responsabilidade. A militância não vai ajudá-lo agora, só no ano que vem. Mostrar força por meio de manifestações agora não vai resolver nada”, salientou.