Centenas de apoiadores de Jair Bolsonaro que vieram para a manifestação do 7 de setembro e continuam acampados na Esplanada dos Ministérios, tentaram invadir o Supremo Tribunal Federal, ontem, atendendo ao chamamento do presidente — que várias vezes, antes do ato de apoio a ele e ao governo, falou em destituir os ministros da Corte. O vandalismo foi depois que o presidente do STF, Luiz Fux, fez um duro pronunciamento em resposta a Bolsonaro. Uma barreira policial impediu que os manifestantes chegassem próximo à sede do Judiciário.
Os ânimos ficaram exaltados sobretudo porque Fux afirmou que não mais toleraria movimentos golpistas e intransigência. E ainda frisou que as ameaças de Bolsonaro, se colocadas em prática, configuram “crime de responsabilidade”, o que pode levá-lo ao impeachment.
Um carro de som no canteiro central da Esplanada tornou-se palco dos apoiadores do presidente, que se revezavam em discursos. Um dos manifestantes bradava contra os ministros do Supremo. “Urubus, vocês não são supremos. Nós vamos derrubar vocês”, ameaçou.
Já um dos bolsonaristas afirmou, também do alto do carro de som, ter em mãos uma carta para entregar ao presidente com reivindicações como a aprovação da PEC 103, que trata do voto impresso — sepultada pelo plenário da Câmara em julho —, a auditoria das eleições — que já são auditadas —, além de recolhimento dos passaportes e prisão dos 11 ministros do STF.
Solidariedade
Os manifestantes ainda prestaram solidariedade ao cantor e ex-deputado Sérgio Reis, ao presidente do PTB, Roberto Jefferson — preso por incitação à violência contra os membros do Supremo — e ao caminhoneiro Marcos Antônio Pereira Gomes, o Zé Trovão, que está com prisão preventiva decretada pelo ministro Alexandre de Moraes, mas está foragido desde 3 de setembro.
Os governistas anunciaram que protocolaram um pedido de prisão contra Moraes, na noite de ontem — mas não disseram onde. As justificativas do documento são “crimes de tortura” e “decisões inconstitucionais”, e teria sido assinado pela Ordem dos Advogados Conservadores do Brasil e pela Marcha da Família. O grupo também pendurou várias faixas com dizeres antidemocráticos e uma delas pede o fechamento do Congresso e a instauração de um regime militar, atos considerados criminosos pela Constituição. “Exigimos a imediata destituição de todos os ministros do STF e a criminalização do comunismo”, propõe uma delas.
Mais cedo, esse mesmo grupo de radicais tentou agredir um grupo de jornalistas, que precisou se abrigar na sede do Ministério da Saúde — que fica próximo ao acampamento dos bolsonaristas. Em nota, o Sindicato de Jornalistas do Distrito Federal afirmou que os profissionais ficaram dentro da sede da pasta. Já a Polícia Militar informou ao Correio que se tratava de uma “confusão” entre os manifestantes e a imprensa — mas ninguém saiu ferido ou escoltado.
O ministério confirmou a tentativa de invasão. “O pessoal (bolsonarista) tentou entrar, mas os seguranças não deixaram”, disse uma nota da assessoria de comunicação.